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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Manuel da Silva

Manuel da Silva nasceu na freguesia de S. Martinho, na cidade da Covilhã, no dia 23 de setembro de 1892. Era filho de António Augusto, natural de Nogueira do Cravo, e de Maria do Patrocínio Silva, de São Vicente da Beira.

Assentou praça no dia 2 de abril de 1912 e foi incorporado, em 14 de janeiro de 1913, no 1.º Batalhão de Sapadores Mineiros da Covilhã. Pronto da recruta em 9 de julho de 1913, foi licenciado no dia 21. De acordo com a sua folha de matrícula, sabia ler e escrever e tinha a ocupação de pedreiro.

Em maio de 1917 (já vivia em São Vicente da Beira), foi novamente mobilizado para fazer parte do CEP, e embarcou para França no dia 26 do mesmo mês, integrando a 4.ª Companhia do Regimento de Sapadores Mineiros. Tinha o posto de soldado sapador, com o n.º 457 e chapa de identificação n.º 55211.


Sobre o período em que permaneceu em França, o seu boletim individual refere o seguinte.

a)     Baixa à ambulância n.º 4, em 30 de junho de 1917; alta em 4 de julho,           apresentando-se nesse mesmo dia na sua unidade;

b)     Promovido a 1.º Cabo, pelo Comandante da Companhia, em 2 de                    novembro de 1917;

c)     Diligência para o Batalhão de Infantaria 13, em 17 de março de 1918,           permanecendo nesse batalhão até 2 de abril;  

d)     Baixa em 16 de junho de 1918; alta em 20 do mesmo mês;

e)     Foi abatido ao efetivo da sua companhia, em março de 1919, a fim de               ser repatriado;

f)       Regressou a Portugal a bordo do navio Menomminé e desembarcou              em Lisboa, no dia 3 de abril de 1919.


Condecorações: 

Medalha comemorativa da participação de Portugal na Grande Guerra com a inscrição: França 1917-1918.

Família:

Manuel da Silva casou com Maria Celeste Silva, no dia 9 de abril de 1920. Tiveram 3 filhos, um dos quais faleceu com apenas 6 anos de idade. Criaram:

1-     Maria do Rosário Silva, que casou com José Guardado Moreira, oficial do exército, e tiveram 3 filhos;

2-     Maria Manuela Silva (faleceu sem deixar descendência).



Manuel da Silva regressou da guerra com alguns problemas de saúde que o obrigaram a uma vida muito regrada, principalmente em termos da dieta alimentar, mas que não o impediram de se tornar num dos homens mais empreendedores e considerados de São Vicente, no seu tempo.

Para além de comerciante a retalho, com um dos melhores estabelecimentos de venda de mercearias, pão, retrosaria e drogaria, teve também uma pequena empresa de camionagem, com uma camioneta de transporte de passageiros e outra de mercadorias.

Paralelamente à actividade comercial, foi presidente da Junta de Freguesia entre 1942 e 1959, pertenceu à direção da Banda Filarmónica Vicentina e foi provedor da Santa Casa da Misericórdia durante vários mandatos.

Os tempos livres dedicava-os a conversar com os amigos e, sempre que podia, abalava para o campo, à caça, a sua grande paixão. 

Manuel da Silva faleceu em casa, em São Vicente da Beira, no dia 27 de dezembro de 1979. Tinha 87 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Pagar o vinho

O USO ACABOU MAS NÂO NAS
MÃOS DO SENHOR CAPITÃO

Como, todos os Vicentinos sabem, há anos atrás, era uso, qualquer rapaz de terra estranha que viesse cá namorar uma rapariga, era costume, digo, pagar um cântaro de vinho à rapaziada. Chamávamos-lhe nós “ter de pagar o vinho”.
Assim como nós teríamos de fazer o mesmo se fossemos namorar uma rapariga fora da terra.
Acontece que nos anos de 1950/51 veio cá o Senhor José Guardado Moreira, namorar a menina Mariazinha, filha do Senhor Manuel da Silva, e que nesse tempo já era capitão da G.N.R. E então nós a “malta” achávamos que esse senhor também tinha que pagar o vinho, mas todos tinham medo de lá ir – tínhamos até medo de que ele nos mandasse para a cadeia! Mas, não deixamos de o fazer, mas assim numa carta escrita em versos para ser mais bonito, visto ele ser um Senhor de mais respeito.
Então, foi assim que escrevemos os seguintes versos:

Meu capitão, dais-nos licença
para que a rapaziada exponha
em carta, por ter vergonha
de vir à vossa presença?

São costumes pertinazes
quando um estranho aqui vem
a pedir a filha à mãe,
ter de dar vinho aos rapazes!

Por isso, meu Capitão,
vede lá como há-de ser?
se esse uso tem de morrer,
que não seja em vossas mãos!

Não deixeis de acontentar
os rapazes, por favor,
para que Deus Nosso Senhor
abençoe o vosso lar.

Se formos atendido,
como todos esperamos,
desde já nos confessamos
altamente agradecidos.

Aí vai por comissão
João de Deus, bom rapaz,
se boas novas nos trás
recebe um chi coração!

Lá fui eu então, João de Deus Duarte e o José Maria Diogo, mais conhecido por Zé Águas, entregamos-lhe a carta e ficámos à espera até ao dia seguinte pela sua resposta. Assim foi.
Então o Sr. Manuel da Silva chamou-me e deu-me permissão para me dirigir à Viúva, para trazer o cântaro de vinho. Isto deu origem a uma grande alegria e a algumas bebedeiras…
Mas,…o Sr. Capitão teve de pagar o vinho!

João de Deus Duarte

Pelourinho, setembro/outubro de 1984
M. L. Ferreira

sábado, 12 de dezembro de 2009

Dois Artistas

Muitos nunca ouviram falar deles e quase todos desconhecem a importância que tiveram para S. Vicente, nos meados do século XX.
Eu ainda conheci o Zé Companhia, como era conhecido, por andar sempre acompanhado de um grupo de aprendizes de pedreiro. Um deles foi o meu pai.
Mas nunca ouvira falar do João Engenheiro que, já reformado e doente, morava no n.º 20 da Rua da Costa, cerca de 1950. Com ele e a sua esposa partilharam os meus pais esta habitação: eles viviam na casa das traseiras e os meus pais, recém-casados, na que dá para a rua.

O João Engenheiro, como lhe chamavam, trabalhou em Lisboa, como desenhador, e voltou à sua terra natal, onde era solicitado por muitos a traçar plantas de casas e de outras obras de arte. Por exemplo, a ele se deve a traça da casa n.º 36 da Rua do Convento, propriedade de José Maria dos Santos, recentemente falecido.
Ao Zé Companhia coube o primeiro alargamento da Rua da Igreja, então estreita e em diagonal, da esquina da casa do Visconde da Borralha à esquina do lado oposto, no fundo da rua. Cortaram-se as casas a direito e reconstruíram-se novas fachadas. Da antiga rua, permaneceram a casa em frente à Igreja e a casa no topo da rua, frente à fonte de Santo António, só cortadas na década de 70. E assim se chegou à via que temos hoje.


Mas foi sobretudo juntos que mais se distinguiram. A Junta de Freguesia da época, presidida por Manuel da Silva, pediu ao João Engenheiro que desenhasse uma fonte para a Praça. Ele traçou-a e o Zé Companhia construiu-a. Foi em 1947 e chamaram-lhe Fonte de São João de Brito.
A seguir, a Junta de Freguesia chamou-os para restaurar o brasão que durante séculos encimara a porta de entrada da Câmara Municipal. Perdera-se a coroa por cima do escudo. O João Engenheiro desenhou-a e o Zé Companhia trabalhou a pedra e inseriu o brasão completo na parede da fachada do edifício dos antigos paços do concelho, onde o podemos admirar.


O João Engenheiro, de quem não sei o nome completo, nasceu e foi criado, na casa n.º 26 da Rua do Beco, onde os pais tiveram uma taberna durante muitos anos. A irmã, Maria de Deus, era a esposa do João Jerónimo (dos Arrebotes), donos da taberna na Rua da Igreja, já referida neste blogue.


José Diogo, em fotografia cedida pela neta Cristina Bartolomeu.

O Zé Companhia era o José Diogo, cuja genealogia apresentamos:
1. Agostinho Diogo casou com Maria de São João, ambos de S. Vicente da Beira, onde viveram na passagem do século XIX para o século XX.
2. José Diogo (1902-1977), filho dos anteriores, casou com Maria do Carmo, também natural de S. Vicente da Beira. O casal teve os seguintes filhos:
3. João Diogo Costa, casado com Ilda Caio; Maria das Dores, casada com João Gonçalves; Manuel Diogo, casado com Ana Maria Rodrigues (ambos falecidos); Maria do Patrocínio, casada com José Duarte (falecido); António do Carmo Diogo, casado com Maria da Conceição Nunes Candeias; José Diogo, casado com Chantal Lamblin.


A fonte de São João de Brito avista-se na esquina da Praça, entre o pelourinho e o coreto. Fonte e coreto foram demolidos cerca de 1970, no âmbito de um plano de remodelação da Praça. A casa com varanda, à esquerda, foi onde nasceu o João Engenheiro. Foto do Pedro Gama Inácio.


A fonte de São João de Brito. Foto do Pedro Gama Inácio. A imagem está invertida.


Pormenor da parte da fonte aproveitada, cerca de 1980, para fazer o fontanário existente junto à capela de São Francisco.


Outra parte da fonte, reaproveitada para fazer este marco de água em tanque, nas obras de requalificação da Praça, em 2003-2004. Ao fundo, a esquina onde se situava a fonte de São João de Brito.


Fachada do edíficio da antiga Câmara Municipal, com o brasão ali colocado cerca de 1950. Durante séculos, o brasão esteve por cima da porta de entrada da Câmara.


O brasão manuelino, com a coroa real recuperada pelo João Engenheiro e pelo Zé Companhia. Mesmo na fotografia conseguem-se notar os diferentes tons das pedras utilizadas nas duas partes.