Às vezes até me deixa de boca aberta
com o que ele sabe sobre a nossa terra – a História e as histórias, as gentes,
os lugares, as tradições… É verdade que teve uma boa mestra, mas, mesmo assim,
não deixa de surpreender. Ainda por cima é uma pessoa generosa, sempre disposto
a partilhar o que tem e o que sabe, e a ajudar quem precisa.
Aqui
há tempos encontrei-o na Praça. Tirou uma coisa do bolso e parecia um menino:
-
Olhe aqui, sabe o que é isto?
-
Sei lá agora, Pedro…
-
Chama-se um barbilho.
De
repente fez-se luz e lembrei-me do tempo em que via o meu avô, no Mato Branco,
a berrar atrás de algum borrego ou cabrito:
-
Grande filho duma cabra, com o corpanzil que já tem e ainda agarrado às tetas
da mãe! Deixa estar que já te cozo!
Ao
outro dia, embarbilhado, que remédio tinha o bicho senão fazer pela vida, e a
minha avó toda contente com o queijo mais avultado.
Barbilho
É utilizado para desmamar os cabritos e borregos. Mete-se a parte de madeira dentro da boca do animal e a tira de couro passa por cima do nariz.
As guitas atam-se aos cornos ou, no caso de
ser moucho, passam por trás das orelhas e atam-se ao pescoço.
Um dia destes encontrei-o no estaleiro
da Junta. No meio de tantas velharias, mostrou-mas como se fossem tesouros. Sabe
o nome, função e proveniência de tudo, e diz que ainda um dia lhes há de voltar
a dar vida.
Numa
caixa, bem acondicionados, tinha as últimas aquisições:
Um chocalho
É maior, se for para as vacas, ou mais
pequeno, se for usado por cabras e ovelhas.
Badalos
O som do chocalho depende do tamanho e da
forma do badalo.
Chavetas
São
utilizadas como fivelas para prender a coleira do chocalho.
Travincas
Serviam
para ajudar a fixar e apertar a corda dos molhos de lenha, mato ou erva.
Todos
estes objectos eram feitos à mão, muitas vezes pelos pastores. A madeira
utilizada era quase sempre o carvalho, a oliveira ou o azinho, por ser mais
rija. Muitos faziam também pífaros, fisgas, fundas e outros objetos de madeira,
cortiça, osso e couro. Era uma maneira de enganarem a solidão dos dias...
M.
L. Ferreira
Nota: Os objetos e explicações são do Pedro
Gama.