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domingo, 24 de abril de 2011

O nosso falar: talhada

Há anos, numa volta pelo Norte, parei em Tabuaço, a descansar de uma sinuosa viagem pelas margens do rio Távora. A tarde ia meio e fomos lanchar a uma pastelaria. Pedi uma talhada da tarte que, na montra, não despregava os olhos de mim. A minha família estranhou o meu falar e riu-se. Como eu não dava mostras de emendar, lá tiveram de explicar à dona que eu queria uma fatia de tarte.
Recordei esta história ao escrever o final do texto de ontem. Na nossa terra, se o pão se comia às fatias, o queijo, e quase tudo o que desse corte, comia-se às talhadas. Por vezes, até à fatia do pão se aplicava o termo talhada. Actualmente, esta palavra já quase caiu em desuso e utiliza-se o termo fatia para tudo.
O falar politicamente correto dos meios urbanos reduz drasticamente o número de palavras usadas no nosso dia a dia. Muito do vocabulário da língua portuguesa está a perder-se, irremediavelmente. Para os jovens de hoje, entender um livro de Virgílio Ferreira, Soeiro Pereira Gomes ou Aquilino Ribeiro, que escreveram na primeira metade do século XX, já começa a ser difícil. Até de Fernando Namora se queixam, ele que tanto e tão bem escreveu sobre a nossa Beira, nos anos 50.
Por isso, temos de teimar, insistir, em nome da diversidade e riqueza da nossa cultura.

Nota: Nesta minha incursão pelo nosso falar, que se prolongará por muitas semanas, estou a meter-me por terreno alheio, pois não tenho formação académica especializada. Agradeço todas as correções ou achegas que os leitores queiram compartilhar connosco.



Aleluia Aleluia !!

Ricordó Sinhor Vigário
Que já bate o sol na Cruz
Vamos dar as Boas-Festas
Ao Coração de Jesus.


Ernesto Hipólito