quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ainda as bodas de ouro sacerdotais



SÃO VICENTE DA BEIRA – JOSÉ HIPÓLITO JERÓNIMO – 50 ANOS DE MISSIONÁRIO
Na manhã de domingo, dia 10 de Agosto, S. Vicente da Beira acordou ao som do rufar dos tambores do Grupo de Bombos “Os Vicentinos”, que anunciaram festa pelas ruas, na vila medieval. José Hipólito Jerónimo, um filho desta centenária vila, que já foi concelho, comemorava cinquenta anos de Missionário do Verbo Divino, em terras de Portugal, Alemanha, Itália, Estados Unidos e Angola.
O cortejo do largo da Fonte Velha ocorreu ao som da Banda da Sociedade Filarmónica Vicentina, a caminho da Igreja Matriz, onde a povoação nasceu e se desenvolveu por esforços de D. Afonso Henriques, em 1173, recebendo foral no reinado de D. Sancho I.
Com o templo repleto, o Padre Jerónimo foi recebido com uma forte ovação. A Eucaristia foi presidida pelo Bispo da Guarda, acolitado por diversos Missionários Verbitas. Na tomada da palavra, D. Manuel Felício deu os parabéns ao homenageado e destacou a ação dos Missionários do Verbo Divino, prestando muitos serviços e colaboração pastoral na Diocese Egitaniense.
O homenageado expôs o seu curriculum familiar, social e missionário, evocando as palavras que Cristo transmitiu a S. Francisco de Assis, (a imagem franciscana estava ali bem presente e agarrada à Cruz): “Pela força e graça de Deus, sou missionário, porque o caminho não foi fácil.” Referiu que as suas preocupações pastorais se inclinaram para o enriquecimento e valorização da pessoa humana. Sempre que vem a S. Vicente da Beira, entra em primeiro lugar nesta igreja, onde foi batizado, vai ao cemitério, calcorreia muitas das ruas, em que cada pedra é uma lição de história, cumprimentando todas as pessoas com quem se cruza. Estava muito grato a todos.
O Provincial da Congregação do Verbo Divino enalteceu os serviços de missão de cinco décadas a anunciar o Evangelho e o Pároco de S. Vicente da Beira agradeceu a colaboração que lhe tem prestado.
Seguiu-se o almoço, servido na Casa do Povo, onde participaram algumas centenas de pessoas. Era bem patente a empatia, a amizade, a consideração que os vicentinos mostraram ao seu conterrâneo, além de muitos outros participantes de Castelo Branco, Fundão, Aldeia de Joanes, Tortosendo, Covilhã, Guimarães, Fátima, da Galiza e tantas outras localidades.
Na tarde de convívio salienta-se a passagem de um pequeno filme sobre o José Jerónimo e a apresentação da sua autobiografia, com o título “ O ZÉ DO CASALITO”, edição dos Missionários do Verbo Divino. Destaca-se a atuação do Grupo Musical do Acordeão de Guimarães, amigos pessoais, que além de tocarem diversas músicas, deixaram na memória de todos a desgarrada, na melhor tradição minhota. Dois jovens cantores e tocadores interpretaram o percurso humano, social, religioso e até desportivo do Padre Jerónimo.
Na rua ouvimos a opinião das pessoas de S. Vicente da Beira sobre o Padre Jerónimo:

João Benevides PrataEx-docente secundário – “Nasceu aqui de uma família numerosíssima, (quinze irmãos), viveram com muitas dificuldades. Sempre disponível, muito amigo das suas gentes e esta festa de homenagem é totalmente merecida”.

João Duarte BarrosoEx-comissário da P.S.P. É um vicentino por excelência. Subiu com a corda nos pulsos. Ser missionário exige vocação e coragem. Está há cinquenta anos no trabalho da evangelização. Amigo da nossa terra e das nossas gentes”.

José Manuel dos Santos Ex-dirigente escutista – “É um missionário que se dá com toda a gente. Fala com todos sem exceção. Nas eucaristias fala a linguagem do povo e a mensagem é positiva”.

Maria Madalena dos Santos Duarte doméstica, que faz quarenta anos de casada, no mesmo dia em que o Padre Jerónimo faz cinquenta de missionário – “O que lhe dizer? Olhe, é um homem do povo, que gosta de beber uns copitos com as nossas gentes e está sempre bem-disposto”. Brilhavam-lhe os olhos de alegria e felicidade de ter em sua posse e mostrar uma fotografia acabada de tirar na Igreja, com o marido e o seu conterrâneo. Casal e Missionário, com percursos diferentes, mas a mesma felicidade.

Maria de Fátima Jerónimo, doméstica - “É um homem aberto, simples, com bom coração. Amigo de ajudar aqueles que precisam e estar ao seu lado. Não descrimina ninguém e gosta de ouvir todos, sem exceção.

Repito o canto final: “Tanta alegria em nossos corações em festa/é chama que ao mundo a verdade manifesta.”
Parabéns a este Missionário, “O ZÉ DO CASALITO”, de S. Vicente da Beira, que um dia, há muitos anos, tive a felicidade, a alegria, de conhecer numa viagem ferroviária entre Castelo Branco e Lisboa.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes, Agosto/2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

José Hipólito Jerónimo


(...)
A ribeira de São Vicente
Uma das coisas boas do Casalito era a proximidade da ribeira, que lhe corria aos pés. O nosso terreno descia, aliás, mesmo até ao ribeiro do Casal da Fraga e à ribeira. Assim, pode-se dizer que nascemos e crescemos quase com os pés dentro de água, o que facilitou a nossa habituação à mesma e a aprendizagem da natação que a mim me serviu otimamente pela vida fora.
Claro que, como não podia deixar de ser, a ribeira também me valeu algumas arrelias e puxões de orelhas. Isso acontecia principalmente quando as minhas irmãs me escondiam a roupa – roubavam o fato – enquanto eu nadava. Nesses casos, tinha de ir em pelota, encostado aos muros dos leirões da barreira, até quase junto de casa. Só aí, finalmente, no último leirão, me diziam onde estava a roupa…

Pinhos mansos, pinhões e ninhos de corvos
O pomar era um vasto terreno que consistia de bons lameiros junto à ribeira, alqueives de centeio na encosta e uma faixa de pinhal ao cimo. Pegava com a nossa propriedade e praticamente com a nossa casa. O pomar era atravessado por uma levada de água, que provinha da ribeira e do ribeiro do Casal da Fraga, separava os lameiros das barreiras e, um pouco mais adiante, abastecia um lagar de azeite e, mais abaixo, ainda uma azenha ou moinho. 
No pomar, logo por cima da referida levada de água, erguiam-se dois enormes pinhos mansos que eram a nossa delícia. Eram enormes e muito copados, principalmente um deles. Forneciam-nos - davam-nos - pinhões que apanhávamos à vontade, principalmente a seguir a dias e noites de vento.
Estes pinhos tinham ainda um outro encanto. Todos os anos ali nidificavam corvos que constituíam uma ameaça para as nossas galinhas e respetivos pintos, mas também nos proporcionavam um passatempo muito divertido. Mal os filhotes deles começavam a ensaiar os primeiros voos, já nós estávamos à espreita para os apanhar, logo que poisavam. O que nós nos divertíamos com eles! Despontávamos-lhes as asas de modo que, durante alguns dias, não conseguiam levantar voo.
Era interessante assistir às suas infrutíferas tentativas para voar, mas também ao momento em que o conseguiam. Até lhes batíamos palmas!
(...)

Este trecho é só para abrir o apetite. O livro está à venda na Junta de Freguesia de São Vicente da Beira, a um preço quase simbólico.
Todos nós temos uma história. Esta é de um vicentino que nasceu em São Vicente, deu a volta ao mundo e está sempre de regresso a casa.

José Teodoro Prata

domingo, 10 de agosto de 2014

Foi bonita a festa, pá

Muitos amigos, grandes emoções.
Disseram-se palavras tão bonitas
que não acho outras à altura.
As fotos dizem quase nada
deste maravilhoso encontro
de uma comunidade de amigos
de muitas geografias.
A coisa prometia,
tratando-se de quem era,
mas a realidade superou o sonho.
Tantos carinhos,
imensa boa vontade reunida
e as ucrânias e palestinas tão precisadas.
Foi bonita a festa, pá.
Vim muito contente!


O desfile da Fonte Velha para a Igreja
A banda vinha atrás e os bombos já o tinham saudado


Na Igreja, o Pe. Jerónimo com os do seu sangue
(porque seus fomos todos)


Os Sete do Minho + O Costinha da Capinha


Muitas fotografias, a imortalizar o momento
(O fotógrafo caçado é o Trindade - em linguagem do Tortosendo)


O melhor leitor do livro do Pe. Jerónimo
(Os meus amigos Zé Henriques, Vasco e Trigais)


O descanso do guerreiro
Aquele coração aguentou tanto!


Parabéns a você...
Ficou prometida nova festa para daqui a 5 anos
(O companheiro do lado é o Pe. Saldanha de Unhais da Serra) 


Os estudos em Itália, na Alemanha e nos Estados Unidos apuraram-lhe o verbo,
o resto ficou por conta da emoção



Agora sob o olhar embevecido do trovador

José Teodoro Prata

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Casamentos, 1803

CASAMENTOS, 1803

Paróquia de Nossa Senhora da Assunção
São Vicente da Beira

- Quando, há uns meses, iniciei a recolha e publicação sistemática dos registos paroquiais da nossa freguesia, tinha intenção de o fazer para batismos, casamentos e óbitos, mas não me foi possível fazer o dos casamentos, porque os ficheiros que me deram, os da Torre do Tombo, em Lisboa, não tinham os casamentos após 1803.
Mas agora o Arquivo Distrital de Castelo Branco colocou, online, os registos paroquiais que tem: batismos, de 1851 a 1911, casamentos, de 1803 a 1911, e óbitos de 1843 a 1911. É fácil consultar. Podem escrever o nome do arquivo ou fazê-lo por esta hiperligação dessa página:
Assim, começo hoje a publicar os registos dos casamentos, pelo ano de 1803.

- Este trabalho que estou a realizar é também enviado para uma equipa de pessoas que está a fazer a genealogia de toda a população do concelho de Castelo Branco. As partes da Póvoa de Rio de Moinhos, Alcains e Salgueiro já estão online:

- O que se terá passado com o noivo do registo n.º 6? Prometeu-se a uma e casou com outra!

- Tínhamos dois soldados no Regimento de Cavalaria de Almeida, um da Partida (n.º 6) e outro do Sobral (n.º 8). Era bom organizarmos uma visita a Almeida, para vermos onde os nossos antepassados cumpriram o serviço militar!

- O casamento mais importante do ano realizou-se na capela do Casal da Serra, que sabemos ser particular, dos irmãos João e José Duarte Ribeiro, o José já falecido, em maio deste ano de 1803, fundadores da Casa Grande do Casal da Serra (a casa a seguir à esquina antes da segunda fonte). A capela era devotada a São João Batista e fora construída nos anos 60 do século XVIII. Situava-se no seguinte local: nas traseiras da atual capela, a rua bifurca-se em duas e, subindo pela da esquerda, a capela situava-se no lugar da atual casa da primeira esquina, à esquerda. Depois serviu de Escola Primária.

- Com tão grande mortalidade de crianças e jovens, poucos chegavam à idade de casar (e vários noivos eram viúvos). Só 10 casamentos!

1
Noivos: Joaõ Nunes, viúvo de Caterina Nunes, do Sobral do Campo, com Maria Leitoa, solteira, filha de Antonio Leitaõ e Maria Martins, dos Pereiros
Data: 26/01/1803
Testemunhas: Padre Joze Barata e Joze Fernandes, de S. Vicente da Beira
Pároco: Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

2
Noivos: Domingos Rodrigues, viúvo de Inocencia Antunes, do Louriçal do Campo, com Maria Francisca, viúva de Joze Rodrigues, da Paradanta (Peradanta)
Data: 06/02/1803
Testemunhas: Padre Joze Barata e Joaquim Joze de Brito, de S. Vicente da Beira
Pároco: Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

3
Noivos: Manoel Alves, solteiro, filho de Joaõ Alves e Maria Nunes, do Mourelo, com Jozefa Leitoa, solteira, filha de Teodoro Dias e Izabel Leitoa, da Partida
Data: 25/05/1803
Testemunhas: Padre Joze Barata e Joze Caetano, de S. Vicente da Beira
Pároco: Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

4
Noivos: Domingos Esteves Manteigas, viúvo de Francisca de Jesus, do Barbaído, com Jozefa Leitoa, solteira, filha de Joze Leitaõ e Mariana Jorge, já defuntos, da Partida
Data: 28/06/1803
Testemunhas: Padres Joze Barata e Joaõ Ribeiro, de S. Vicente da Beira
Pároco: Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

5
Noivos: Joam Antonio, solteiro, de S. Vicente da Beira, filho de Antonio Joze Carpinteiro, natural de Avô, bispado de Coimbra, e Tereza Caetana Engeitada, com Maria Jacinta Clara, solteira, filha de Domingos Alves Nogueira e Tereza Jacinta, de S. Vicente da Beira
Data: 20/07/1803
Testemunhas: Padres Joze Baratta e Joam Ribeiro, de S. Vicente da Beira
Pároco: Vigário Francisco Marques Goulaõ

6
Noivos: Joze Dias, solteiro, da Partida, soldado de cavalo da 1.ª Companhia do Regimento de Almeida, filho de Teodoro Dias e Izabel Leitoa, também da Partida, com Jozefa Nunes, solteira, filha de Joam Alves e Maria Nunes, do Mourelo
Data: 24/07/1803
Testemunhas: Padres Joze Baratta de Gouvea e Francisco Duarte, de S. Vicente da Beira
Pároco: Vigário Francisco Marques Goulaõ
Observações: Joze Dias já contraíra esponsais com Maria Antunes, da Partida, mas ficou livre, por sentença do Vigário Geral do Bispado da Guarda, Izidoro Joze dos Santos

7
Noivos: Domingos Lopes Folgado, solteiro, de Escalos de Cima, filho de Domingos Lopes Folgado e Maria Nunes Cantoa, também dos Escalos de Cima, com Maria Martins, solteira, filha de Miguel Martins, das Rochas de Cima, e Maria Martins, do Violeiro
Data: 10/08/1803
Testemunhas: Doutor Antonio Joze Ferreira de Carvalho e Joze Antonio, de S. Vicente da Beira
Pároco: Vigário Francisco Marques Goulaõ

8
Noivos: Joaquim dos Reis, solteiro, dispensado(?) da 1.ª Companhia da Cavalaria de Almeida, do Sobral do Campo, filho de Joze dos Reis e Maria Duarte, também do Sobral do Campo, com Ilena Maria da Conceissam, solteira, do Tripeiro (Terpeiro), filha de Salvador Gonsalves e Maria Francisco, também do Tripeiro
Data: 17/08/1803
Testemunhas: Pe. Joze Baratta e Manoel Rodrigues Castanheira, de S. Vicente da Beira
Pároco: Vigário Francisco Marques Goulaõ

9
Noivos: Fabiam Francisco Leitam Guedelha, viúvo, do Orvalho, filho de Joze Antonio Leitam e Cecilia Francisca Guedelha, também do Orvalho, com Dona Joana Humblina Simoins Delegada Ribeira, filha do Capitão Joaõ Duarte Ribeiro e Dona Joana Delegada Simoins, assistentes em S. Vicente da Beira
Data: 26/11/1803
Testemunhas: Pe. Francisco Joze de Mesquita e Capitão Joaõ Barata de Gouvea
Pároco: Vigário Francisco Marques Goulaõ
Observações: O casamento realizou-se na capela do Casal da Serra

10
Noivos: Leonardo Vas, solteiro, filho de Rafael Vas e Angelica Pires, do Souto da Casa, com Jacinta Rodrigues, solteira, filha de Manoel Leitaõ e Maria Rodrigues, da Paradanta
Data: 04/12/1803
Testemunhas: Manoel Barata e Joze Fernandes,de S. Vicente da Beira
Pároco: Cura Domingos Joze Marques Goulaõ Esteves

José Teodoro Prata

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Os nomes das pessoas

Todos temos um nome, ou melhor, um nome e um ou mais apelidos familiares.
Na verdade, nem todos. Muitos só têm o nome próprio.
Vou tentar explicar porquê.

Até 1910, todos os registos demográficos eram realizados pela Igreja Católica. Registava o batismo, o casamento e o óbito. Quando o Governo precisava de saber quantos portugueses tinha no reino, raramente fazia contagens (mas os censos começaram no século XIX), pois era mais prático pedir essas informações à Igreja. Quase podemos dizer que Portugal era orientado por dois poderes, o temporal e o espiritual, ambos articulados entre si.
Em 1911, o governo da República criou o Registo Civil. O batismo, o casamento ou o óbito de cada pessoa continuava a ser feito na igreja a que cada um pertencia, mas todos tinham de se registar no Registo Civil (neste caso o nascimento, pois a Igreja Católica registava o batismo).
Ora, até 1911, no batismo, apenas se registava o nome próprio. Registava-se Maria, filha de ... e de .... Só depois, no casamento, é que seriam acrescentados os apelidos familiares. Se a Maria ficasse solteira, ficaria Maria, simplesmente, para toda a vida. Com sorte, acrescentava-se-lhe um apelido que a distinguia das outras marias. Exemplo: publiquei aqui, há anos, o testamento de uma tecedeira de São Vicente, chamada Jozefa de Mena. Ela chamava-se Jozefa, só, pois era solteira, mas o povo acrescentou-lhe de Mena, provavelmente o nome (o diminutivo) da mãe.
Mas se isto foi antes de 1911, porque é que há ainda tanta gente, só com o nome próprio? Foram vítimas o processo de transição. Exemplo: a minha mãe nasceu em 1927 e foi registada, no Registo Civil, apenas como Maria da Luz. Não devia, pois desde 1911 que a pessoa ganhava o nome completo logo à nascença, mas quem fazia os registos ou os pais, ou ambos, demoraram décadas a incorporar isso nas suas práticas. Muitos, sobretudo meninas, por serem menos importantes, eram registados apenas com o nome próprio, mas depois já não lhes eram acrescentados os apelidos, na altura do casamento, e por isso ficaram para sempre com o nome abreviado.
Umas dezenas de anos depois, esse desleixo deixou de existir e por isso só encontramos pessoas apenas com o nome próprio, entre os mais velhos.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Os nomes das terras

Uma vez por outra, apresento neste blogue os nomes das terras com uma escrita um pouco diferente da atual, pois é assim que os encontro escritos na documentação dos séculos XVIII e XIX. Aqui deixo uma síntese destes casos:

Louriçais - O termo surge sobretudo na documentação até meados do século XVIII e designa o Louriçal do Campo. Não sei se a palavra englobava os núcleos populacionais do Louriçal e da Torre, se do Louriçal e do Casalinho (este ligado atualmente ao Louriçal) ou se designava apenas vários núcleos de loureiros ali existentes, sendo uma outra forma de escrever o coletivo que a palavra Louriçal já faz.

Soveral - Na segunda metade do século XVIII já aparece Sobral, mas ainda predomina o Soveral ou Sovral. Depois trocou-se o v pelo b e ficou Sobral (do Campo).

Vale de Figueiras - Ou antes, Val de Figueiras, pois no passado não tinha o e no final (por isso é natural escrever Valcovo sem o e). Depois acrescentámos o e, tirámos o s e ficou Vale de Figueira.

Peradanta - Também aparece Pradanta. O nome da povoação virá de Pedra de Anta, de uma anta (cemitério neolítico ou posterior) ali existente.

Terpeiro - Às vezes também aparece Trepeiro, mas raramente Tripeiro. Esta palavra Terpeiro abre novas hipóteses sobre a origem do nome desta povoação.

Engarnal - Há uns anos, um natural do Engarnal protestou, na publicação Estrada Nova, por eu escrever Engarnal em vez de Ingarnal.  A verdade é que a documentação antiga traz sempre Engarnal e nunca Ingarnal.

Curiosidade:
Casal, monte, povoação, vila ou cidade? A documentação antiga antecedia o nome da terra com um destes termos, dependendo do seu tamanho: de casal, com 1 a 5 casas, até cidade, com muitas habitações, comércio e instituições do poder. O Casal da Serra era a exceção, pois tinha o tamanho de um monte, mas casal no nome.

Nota:
Fui a São Vicente no sábado, mas depois tive de me ausentar da região. As Festas de Verão anunciavam-se valentes, com boa organização, melhor programa e muita gente. O tempo é que terá estado demasiado agradável para a despesa de cerveja na verbena!

José Teodoro Prata

domingo, 3 de agosto de 2014

O Zé



Coitado do Zé

Isto está mau
Sempre ouvi dizer
Mesmo antes de nascer
Já isto estava mau

Está mau para o assalariado
Quem não tem trabalho, está pior
Não ter que comer…Senhor
É uma tristeza, é um pecado

Os poderosos afirmam
O cinto temos que apertar
É o Zé, sempre ele a pagar
Os impostos com que o mimam

Não é ele que anda a passear
Não é ele que faz os arranjinhos
Pobre do Zé, da Maria e dos filhinhos
São eles que têm de aguentar

Os poderosos continuam a governar
O povo manso a obedecer
O que é que se há de fazer!
É comer e calar

Os que mais se queixam são os privilegiados
Recebem salários chorudos
Os Zés acomodados, mudos
São sempre os mais conformados

Isto está mau para o Zé Povinho
É só pagar, pagar, pagar
Eles continuam a roubar
Amocha Zé, só mais um bocadinho

E o Zé esperançoso
Vai aguentando a pesada carga
Desde que nasce não mais a larga
É um ciclo vicioso

Tem que haver mais justiça social
Para o Zé ter uma carga mais levezinha
Poder ter uma melhor vidinha
Para que nunca mais se diga; isto está mal

Zé da Villa