Contam que um dia o rouxinol, vindo lá das
terras do sul, chegou ao destino já ao cair da noite. Vinha tão cansado que,
mal poisou, adormeceu profundamente, aconchegado entre os galhos de uma videira.
De manhã, quando acordou, quis levantar voo, mas não foi capaz pois estava todo
enleado por uma enorme gavinha. Assustado, sem poder mexer-se, pôs-se a piar,
aflito. Valeu-lhe Nossa Senhora, que passava por ali no seu passeio matinal e,
ouvindo aquele pio tão desesperado, foi em seu auxílio.
Quando viu o passarinho assim preso, pegou nele
e libertou-o meigamente. Mas antes de o deixar voar, recomendou-lhe que tivesse
cuidado e, dali para diante, enquanto as gavinhas crescessem, nunca mais se
deixasse adormecer durante a noite.
Contente e agradecido, voou à procura de sítio
para fazer o ninho e, a partir dali, nunca mais o rouxinol adormeceu durante a
noite, sempre a cantar:
Nossa Senhora disse,
disse, disse…
Que enquanto o gavião
crescesse,
O rouxinol não
dormisse.
Não dormisse, não
dormisse, não dormisse…
M.ª Libânia Ferreira