quarta-feira, 19 de junho de 2019

O fel-da-terra


Se um dos seus filhos andava sem apetite, a minha mãe mandava-me ao Ribeiro Dom Bento buscar fel-da-terra, para lhe fazer um chá. Não me lembro se fazia efeito, pois o difícil mesmo era bebê-lo: a amarga como o fel!
Informa-me a internet que

O fel-da-terra é uma planta medicinal, também conhecida como Centáurea-menor.
O seu nome científico é Centaurium erythraea
As propriedades do fel-da-terra incluem sua ação cicatrizante, calmante, vermífuga, estimulante do suco gástrico e antipirética, que diz respeito à sua capacidade de regular a temperatura corporal. Assim, devido às suas propriedades, o fel-da-terra pode ser utilizado para:
  • Ajuda no tratamento da inflamação no estômago;
  • Má digestão, aumentando a produção de secreção gástrica;
  • Auxilia no tratamento de doenças do fígado, como a hepatite;
  • Auxilia no tratamento de estomatites, que são pequenas feridas e bolhas que surgem na boca, e da faringite crônica;
  • Estimula o apetite, principalmente quando combinada com outras plantas medicinais como a Genciana e a Artemísia;
  • Ajuda a baixar a febre e no tratamento de doenças provocadas por vermes.

Este ano há muito, nunca vi tanto. De regresso, passei pela Devesa e em frente à sede dos escoteiros está o chão todo cheio.

José Teodoro Prata

terça-feira, 18 de junho de 2019

Sedas e veludos do avesso

 

Visitei há pouco tempo, pela primeira vez, o Palácio da Ajuda. É preciso ir lá para ver a riqueza do mobiliário, das pinturas, das tapeçarias, lustres e toda a decoração daquela casa que foi residência do rei D. Luís I e sua mulher, Maria Pia de Sabóia.
Parece que tanta opulência de deveu, em grande parte, ao bom gosto da rainha, uma princesa italiana educada numa das melhores casas reais daquele tempo, mas também ao facto de ela ser uma gastadora compulsiva, conhecida em várias capitais europeias pelos seus luxos e extravagâncias: vestido ou chapéu que ela usasse, ditava moda nas melhores casas de Paris.
Num tempo em que o Brasil já se tornara independente e os cofres do reino estavam a esvaziar-se, tantos gastos eram mal vistos e preocupavam o governo, mas nem o rei, mais comedido, conseguia contrariar-lhe os exageros.
Uma das maravilhas do palácio é a sua localização. Construído no cimo de uma das sete colinas de Lisboa, após o incêndio da “Real Barraca” que albergou a família real depois do terramoto de 1755, tem uma vista privilegiada sobre o Tejo. Para além das vistas, pelas enormes janelas entra-lhe em abundância a famosa luz de Lisboa, desde o nascer ao pôr do sol. Mas janelas de belas vistas podem também trazer dissabores, como se constatou por alturas do casamento de D. Carlos, o filho mais velho de D. Luís e sua mulher, Maria Pia.
Um casamento real implicava grandes gastos, principalmente com as festas e receções aos convidados das várias casas reais europeias. Mas o dinheiro era pouco e, para as obras de remodelação da Ajuda e das Necessidades, onde esses eventos iam acontecer, o governo disponibilizou apenas vinte contos. Pelos cálculos do rei, tão hábil a fazer contas de cabeça que deixava toda a gente de boca aberta, rapidamente se concluiu que essa verba não chegava nem para um dos palácios. Só para mudar as sedas, damascos e veludos dos cortinados e reposteiros da Ajuda, já muito desbotados pelo sol, eram precisos alguns quatro contos de réis.      
Foi então que a Marquesa de Benfeita, responsável por essa parte da remodelação, teve uma ideia brilhante: «E se virássemos do avesso as sedas e veludos da Sala do Trono?». Experimentaram e resultou, para alívio de D. Luís.

M. L. Ferreira

sábado, 15 de junho de 2019

Amendoeiras

Já aqui referi a excelência da nossa terra para a produção de amêndoa, ainda por cima neste contexto de aquecimento global!
Este ano o inverno foi ameno e vejam como elas estão!


Este "era" uma amendoeira que ardeu. Rebentou e não a enxertei. A amendoeira primitiva fora enxertada num pessegueiro! Este ano já tem pêssegos. Ainda por cima está numa zona de sequeiro, não lhe chega lá a humidade e por isso não sofre de lepra.


Este ano enxertei de garfo 6 amendoeiras que plantara bravas ou eram rebentos de ardidas no fogo. Enxertei demasiado cedo (floresce em fevereiro), estava frio e o pau é duro. Mesmo assim foi um sucesso: pegaram 4!
(Mais tarde enxertei várias oliveiras, também de garfo, mas não pegou nenhuma... Pegaram sim as macieiras, mas essas não são tão lenhosas.)


José Teodoro Prata

terça-feira, 11 de junho de 2019

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

António Amaro


António Amaro nasceu no Violeiro, a 9 de setembro de 1894. Era filho de Domingos Amaro, natural de Almaceda, e de Delfina Rosa Martins.
Assentou praça no dia 9 de Julho de 1914, e foi incorporado em 13 de julho de 1915, no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em Castelo Branco. Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.
Mobilizado para a Guerra, embarcou para França, no dia 21 de Fevereiro de 1817, fazendo parte da 1.ª Companhia do 1.º Batalhão de Infantaria do Regimento de Infantaria 21, como soldado número 561, placa de identidade n.º 36854.
Do seu boletim individual do CEP consta apenas o seguinte:
a)   Louvado pela coragem e disciplina que demonstrou durante o raide efetuado no dia 9 de março de 1918;
b)   Diligência para as linhas de Aldeia, desde 6 de fevereiro de 1918; presente em 3 de março.
c)    Regressou a Portugal, no dia 25 de fevereiro de 1919, a bordo do vapor Helenus, tendo desembarcado em Lisboa, a 28 do mesmo mês.
d)   Passou à reserva ativa, em 11 de abril de 1928, e à reserva territorial, a 31 de Dezembro de 1935.
Condecorações e louvores:
·        Medalha militar de cobre com a legenda: França 1917-1918; 
·        Louvado pela coragem e disciplina que demonstrou no raide efetuado pela sua companhia, no dia 9 de março de 1918, contribuindo pelo seu esforço e ação para o completo êxito daquela operação.


Família:
António Amaro casou com Maria Angelina, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, em 1927, e tiveram três filhos:
1.    Germano Amaro, que faleceu ainda jovem;
2.    António Amaro, que também faleceu jovem;
3.    Arminda Amaro, que casou com Fernando António, natural da Partida, e tiveram dois filhos.
António Amaro viveu sempre no Violeiro, onde trabalhou na agricultura e como serrador. Dizem que era uma pessoa muito frágil, fisicamente, e “muito nervoso” o que pode justificar-se pelo facto de ter sido ferido por gases durante a guerra e todas as outras dificuldades por que terá passado em França.
Nunca conseguiu que lhe fosse atribuída a pensão a que teria direito pela sua participação na guerra. A filha, emigrante em França, já depois da sua morte ainda tentou junto do governo francês que fosse atribuída à viúva alguma compensação, mas a resposta que obteve foi que o governo português é que tinha obrigação de o fazer, porque tinham para cá enviado muito dinheiro pela entrada de Portugal na guerra. As diligências feitas em Lisboa também não foram mais bem sucedidas…
No dia 29 de setembro de 1966, como era habitual naquele tempo, António Amaro deslocou-se, a pé, desde o Violeiro até à Vila. Demorou a regressar a casa e, quando foram à procura dele, encontraram-no caído, já sem vida, quase a chegar a São Vicente. Tinha acabado de fazer 72 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração de Emília Martins, esposa de um dos netos)

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.

domingo, 9 de junho de 2019

Sabugueiro


Este sabugueiro está dentro do ribeiro e por isso recuperou tão depressa do fogo (e eu ainda o cortei por baixo, na altura julguei que todo). À direita, o silvado junto ao caminho da Orada. Ao fundo, mimoseiras em plena ascensão.
O sabugueiro tem um caule lenhoso, mas quase oco por dentro, apenas com uma medula muito frágil e por isso fácil de extrair. Era o material ideal para fabricarmos as pistolas, quando éramos meninos, nos anos 60. Até as disparávamos na sala de aula, quando a professora estava de costas...
A flor tem aplicações medicinais e do fruto, em bagas, até de fazem compotas.

Acabei cedo a época das cerejas, por serem ainda poucas e porque quis ganhar a corrida contra os carneiros (colhi-as antes dos insetos as sentirem). Com a ajuda da armadilha para insetos que mostrei há dias, este ano ganhei eu: comi muito menos proteína, mas gastei uma porrada de massa!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Livro da Senhora da Orada

Não estive na romaria e por isso só agora tive contacto com o novo livro sobre a ermida da Senhora da Orada.
Há muito que se esgotara, na edição e no estilo, o meu livro de 2001, editado pelo Gega e feito em colaboração com os co-autores desta nova obra.
Bem fizeram a Inácia Brito e o Tó Sabino ao concretizarem este projeto sobre a menina dos nossos olhos.
As fotos antigas do Tó Sabino dão ao livro um valor documental muito importante. Quanto à documentação oral e escrita, o livro apresenta uma boa síntese do que estava no anterior livro, do mais que entretanto se foi sabendo, em parte já revelado neste blogue, e de coisas novas que os autores descobriram.
O livro começa por um texto muito bonito do Pe. José Leitão, em que os afetos são a cola da amálgama da religiosidade com o dia a dia sofrido das nossas gentes, nas encostas da Gardunha.
Importante também a ligação da obra à Comissão da Senhora da Orada, embora não se perceba de quem é a edição do livro.
A tradução de partes do livro para francês e inglês ajuda extraordinariamente a alçançar o objetivo do livro: a divulgação da Senhora da Orada junto de todos, sanvicentinos ou forateiros, nacionais ou estrangeiros.
A qualidade gráfica é excelente, como nos habituou o Tó Sabino.
Parabéns aos autores!

CAPA

CONTRACAPA

José Teodoro Prata