segunda-feira, 8 de julho de 2019

Eremita e poeta

A rainha Santa Isabel era seguidora dos franciscanos espirituais (que chegaram a ser proibidos pelo papa) e apoiou a sua vinda para Portugal. Foram eles que fomentaram em Portugal o culto ao Espírito Santo e  a obra assistencial das albergarias do Espírito Santo (existia uma em São Vicente da Beira), que mais tarde foram substituídas pelas Misericórdias.
Ora o convento da Arrábida era dos franciscanos espirituais e penso que foi este Frei Agostinho da Cruz do texto do António Fernandes que disse ter chegado ao paraíso, quando contemplou aquela encosta com o mar lá ao fundo.
Ali próximo, no alto de Setúbal, ficava o convento franciscano de Brancanes, de onde vieram os frades que criaram a Ordem Terceira em São Vicente da Beira.
É a segunda vez que referimos este convento da Arrábida, mas vem a talhe de foice depois do encontro franciscano que tivemos recentemente, em São Vicente da Beira.
Por outro lado, há que distinguir os frades espirituais dos outros "comuns". Estes viviam pobremente na sociedade, pregando e praticando a caridade. Os franciscanos espirituais vivam longe da sociedade, em contemplação, o que não estava previsto no ideal de São Francisco de Assis.


Decorre a efeméride dos quatrocentos anos da morte de Frei Agostinho da Cruz, um poeta clássico e eremita. Este poeta arrábido escreveu elegias, éclogas, endechas e sonetos.
(…)
Vivemos num mundo de manifestações, de migrações em massa, de distúrbios, de corrupções, de desvios, de falsas promessas, de notícias falsas como Judas, e muitas vezes apetece um refúgio, uma ilha isolada, um local onde seja possível uma vida contemplativa com a natureza, afastada desta realidade virtual cheia de ruídos, na procura da paz interior, da solidão perto das nuvens e do céu. Foi assim a vida de Frei Agostinho da Cruz.
Nasceu no Minho, em Ponte da Barca, em 1540, com o nome de Agostinho Pimenta. Ao entrar para o Convento de Santa Cruz da serra de Sintra, onde habitou durante umas dezenas de anos, como noviço, adotou o nome de Frei Agostinho da Cruz, talvez cansado com tantas especiarias, principalmente a pimenta vinda das Índias.
Em 1605, escolheu como habitação uma cela no Convento da Arrábida, na serra com o mesmo nome, fazendo vida de eremita.
Na comemoração de tão importante efeméride, o escritor e investigador Ruy Ventura prepara uma ampla antologia da sua obra poética.
No Convento da Arrábida está previsto um colóquio sobre a vida e obra de Frei Agostinho da Cruz, ação louvável que possibilita a quem não conhece a obra deste homem reviver, no seu ambiente, os seus trabalhos mais emblemáticos.
Em Setúbal, cidade onde faleceu em 1616, irá realizar-se uma conferência proferida por D. José Tolentino Mendonça, figura da nossa literatura, teólogo e poeta, e atualmente ao serviço no Vaticano como responsável do Arquivo Histórico da Santa Sé.
Nos anos sessenta do século passado, passados quase quatrocentos anos, calcorreei alguns dos percursos agostinianos.
Naquelas paragens paisagísticas da serra da Arrábida, das mais belas de Portugal, onde se está perto do mar e das nuvens, além de diversas caminhadas, ocorrem diversos acampamentos de escuteiros da Região de Setúbal.
Neste mesmo Convento muitos caminheiros, e candidatos a dirigentes do CNE (Corpo Nacional de Escutas), realizaram módulos de formação escutista, preparando-se para mais tarde fazerem e assumirem o compromisso nas investiduras (para quem já pertence ao movimento) ou promessas (para quem agora entrou para o movimento).
Foi uma oportunidade única para se fazer uma visita detalhada a este Convento e sabermos como era a vida monástica dos frades arrábidos.
(...)

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Março/2019

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

António Batista



António Batista nasceu em São Vicente da Beira, no dia 1 de fevereiro de 1895. Era filho de João Batista, ganhão, e de Maria de São João.
Embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, integrando a 8.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2.º Regimento de Infantaria, com o posto de soldado n.º 582, placa de identidade n.º 9972. Na mesma viagem seguia também o seu irmão Luís Batista.
No seu boletim individual do CEP é referido o seguinte:
a)    Punido em 3 de novembro de 1917, pelo Comandante da Companhia, com 10 dias de detenção, por ter faltado à revista no dia 31 de outubro e ser reincidente neste tipo de faltas;
b)    Punido com 5 dias de detenção, pelo Comandante da Companhia, no dia 6 de maio de 1918, por ter faltado aos trabalhos no dia 5;
c)    Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de 1918, onde ficou com o número 738;
d)    Marchou em diligência ao Tribunal de Guerra do Quartel-General de Base, no dia 22 de fevereiro de 1919;
e)    Condenado em 18 de abril de 1919, na pena de 6 anos e um dia de presídio militar, com igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de 10 anos de deportação;
f)     Repatriado com a Secção de Adidos, em 5 de junho 1919.



Não foi possível encontrar documentação que permitisse conhecer o motivo desta detenção, julgamento e condenação, mas, pela coincidência de datas e pena aplicada, é provável que tenha participado na insubordinação levado a cabo por um número significativo de praças, no dia 23 de setembro, que «…encontrando-se com prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente do inimigo, insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando de matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores.» (Folha de matrícula de outros militares que participaram nesta insubordinação)
É provável que não tenha saído com vida da prisão, pois nem mesmo os familiares mais próximos voltaram a ter notícias dele.
Contam que os pais ainda venderam algumas coisas do pouco que tinham para ir à procura dele, mas foi tudo inútil. Terão desistido, finalmente, quando lhes disseram que ele tinha morrido.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Encontro Francicano da Região Centro

A nossa Fraternidade da Ordem Terceira organizou, no passado domingo, o Encontro Franciscano da Região Centro.
Cerca de 150 pessoas passaram o dia connosco. Recebemo-los na sede da Ordem Terceira, a capela de São Francisco, com cumprimentos, orações e cânticos.
Seguiu-se uma breve visita ao centro da Vila (já fazia muito calor), com passagem pela Praça, Igreja Matriz, Igreja da Misericórdia e Convento Franciscano. Na Matriz, explicamos-lhes a forma como o franciscanismo moldou a religiosidade de São Vicente da Beira.
Depois rumámos todos à Orada, onde foi celebrada a missa dominical, seguida de um almoço partilhado.
E deixámo-nos ficar, em comunhão com a natureza.






Texto de José Teodoro Prata
Fotos de Jaime da Gama

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Salvar a humanidade


Ia escrever "Salvar o planeta", mas a verdade é que quem se vai lixar é a humanidade, o planeta continuará, num ciclo diferente. Os homens estão a provocar tantas alterações na Terra que porão em causa a própria espécie humana, através de temperaturas extremas, calamidades mais frequentes e violentas e subida da água dos oceanos.
Os próximos anos serão decisivos, mas estou pessimista. Hoje de manhã encontrei esta fita de uma cassete VHS estendida ao longo de muitos metros do caminho do Carvalhal Redondo, a começar no cruzamento do Cabeço do Pisco para as Lameiras. Parei várias vezes o carro e fui apanhando, este é o produto final.
Depois pensei que talvez o autor deste ato seja apenas alguém inconsciente que no dia a dia até produz pouca poluição. E os outros humanos que sujam tanto e nada fazem?!
Mas temos de ser todos, com pequenos atos no dia a dia... 

José Teodoro Prata

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Maria de São Pedro



Publicado no jornal Reconquista da passada semana (19.06.2019), com a colaboração, e quase de certeza por iniciativa, do nosso José Manuel dos Santos.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Água Mole em Pedra Dura...


O “FESTIVAL ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA” animou a nossa terra este fim de semana. Foram dois dias cheios de atividades de áreas muito diversas, que começaram ainda durante a manhã de sábado, com a abertura de uma exposição e oficina de pintura, e fotografia e desenhos de São Vicente.
Mas a abertura oficial foi feita pelo Grupo de Cantares de São Vicente, que recebeu a comitiva da Presidência da Câmara de Castelo Branco.


Seguiu-se depois o lanche para toda a população e convidados.

Um dos pontos mais altos do Festival foi a atuação, ao fim do dia de sábado, do Grupo Castra Leuca. A interpretação que fazem da música tradicional portuguesa é impressionante e emocionou muita gente (vi algumas lágrimas em vária pessoas).

A noite foi animada pela Bandazona, com baile para os mais resistentes.
O domingo acordou a ameaçar chuva, mas não desmotivou os muitos que se levantaram cedo para assistir ao Concerto ao Amanhecer, na Praça. Outro dos pontos altos do Festival.


Aos madrugadores que assistiram ao concerto e aos que foram chegando para o Passeio Pedestre foi servida a Sopa para Todos, bastante apreciada.

À tarde, o Grupo de Teatro Ajidanha apresentou a peça “O Anexo” (não tenho a certeza, mas penso que é assim). Não pude assistir, mas quem viu diz que foi muito bom.
O Festival terminou com a atuação da nossa Banda; um pouco mais reduzida, mas sempre a encantar-nos.

Para além destes momentos principais, houve animação permanente, com o grupo de músicos, fogo e malabaristas do Chapitô,
…e pelos contadores de histórias que encantaram todos os que os ouviam.

Penso que não estava no programa, mas durante os dias do Festival pudemos ver também uma exposição “Riquezas Inauditas" recolhidas pelo João Paulino por vários lugares. Será uma das maiores e mais variadas do País. É um trabalho extraordinário que ele teve a generosidade de partilhar connosco, e vale a pena ser apreciado.

 M. L. Ferreira 

Nota: O Festival teve o mesmo formato do ano passado, mas penso que foi mais participado pelos sanvicentinos e pessoas que nos visitaram, por isso o título deste artigo.