Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
João Ricardo
João Ricardo nasceu em São Vicente da Beira, no
dia 5 de novembro de 1894. Era filho de Manuel Ricardo e Maria Ramos, moradores
na rua Velha.
Embarcou para França no dia 21 de Março de 1917,
integrando o 2.º Grupo de Metralhadoras, 1.ª Bateria, no posto de soldado com o
n.º 87 e placa de identificação n.º 51709.
Do seu boletim individual constam as seguintes
ocorrências:
a)
Promovido
a 2.º Cabo, em 13 de Outubro de 1917;
b)
Punido
em 30 de janeiro de 1918, com cinco dias de detenção, por ter faltado à
formatura, no dia 27 do mesmo mês, tendo-se apresentado apenas pelas 20.30h;
c)
Punido
em 5 de maio de 1918, com dois dias de detenção por, no dia 4, se ter ausentado
do acantonamento sem autorização, não se encontrando presente quando foi
procurado por motivos de serviço;
d)
Baixa
à ambulância n.º 4, em 4 de junho de 1918;
e)
Seguiu
do D. I. (Depósito de Infantaria?), em 6 de outubro de 1918, para a zona
avançada, a fim de recolher à sua unidade;
f)
Presente
no B. Metralhadoras Pesadas e colocado na 1.ª Secção com o n.º 39, em 31 de
Outubro de 1918;
g)
Regressou
a Portugal no dia 1 de março de 1919, desembarcando em Lisboa no dia 5 do mesmo
mês.
Condecorações: Não foi possível consultar a
folha de matrícula de João Ricardo, no Arquivo Geral do Exército nem no Arquivo
Histórico da G.N.R. /G. Fiscal, pelo que não tivemos acesso a esta informação.
Família:
João Ricardo casou com Amélia de Jesus, no
Posto de Registo Civil de São Vicente da Beira, no dia 27 de novembro de 1921,
e tiveram 4 filhos:
1.
Celeste
Ramos Gama, que casou com Diogo(?) e tiveram 1 filho;
2.
Maria
de Lurdes de Jesus Ricardo (uma lutadora contra a ditadura de Salazar), que casou
com Edmundo Pedro (histórico da resistência antifascista e notável do Partido
Socialista) e tiveram 1 filha;
3.
Maria
de Jesus Ramos Gama, que casou em primeiras núpcias com Tomé(?) e tiveram 1
filha; Maria de Jesus enviuvou e voltou a casar com João Felgueiras, mas não
teve filhos deste casamento;
4.
Fernando
Ricardo, que casou e teve 2 filhos.
Após o regresso de França, João Ricardo ingressou
na Guarda-Fiscal. Esteve colocado na Doca do Bom Sucesso, em Lisboa, onde permaneceu
até ao final da carreira. Foi também ali que lhe nasceram os filhos e viveu com
a família, em instalações que o quartel disponibilizava para os seus Guardas. Após
a aposentação ainda trabalhou, como segurança, na Liga dos Combatentes da
Grande Guerra, onde também tinha residência. Mais tarde a família mudou-se para
Mem Martins.
A filha Maria de Lurdes Pedro lembra o pai como
uma pessoa muito honesta e de um grande rigor e respeito por todas as regras,
quer fosse no trabalho ou em casa, e exigia dos outros as mesmas atitudes e
comportamentos. Este rigor refletiu-se na educação que deu aos filhos,
principalmente às raparigas. «Não batia,
mas aquilo que dizia era para se cumprir».
João Ricardo faleceu na freguesia do Algueirão, em Sintra, no dia 24 de dezembro de 1968. Tinha 74 anos de idade.
(Pesquisa feita com a colaboração da filha Maria de Lurdes Pedro)
Maria Libânia Ferreira
Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022
Os nossos animais
Um dos indicadores que permitem avaliar o nível de evolução de uma comunidade é também a forma como trata os seus animais. Em Portugal, neste aspeto, nem tudo são rosas, mas, embora saibamos que a mudança de mentalidades é muito lenta, tem-se feito um caminho que nos leva a ter alguma esperança de que, em breve, os maus tratos e abandono de animais sejam coisas do passado.
Fiquei surpreendida quando, há tempos, encontrei este abrigo para gatos num dos parques de estacionamento de Castelo Branco:
Passados alguns dias encontrei mais este no parque que tem acesso pela Av. Humberto Delgado. É possível que haja outros espalhados pela cidade.
Curiosamente, no primeiro não vi nenhum animal abrigado ou a comer, mas este já tinha alguma “clientela” que parecia sentir-se em casa nas novas instalações.
Segundo a placa informativa a construção destes abrigos está relacionada com o programa da autarquia que se propõe esterilizar, vacinar e desparasitar todos os gatos e cães de rua, dando-lhes também alguma proteção, como se vê.
Não tenho saído muito de casa nos últimos tempos, mas quando passo pela Vila parece-me que já não se veem tantos gatos abandonados e maltratados como, há tempos, a São Teodoro lamentava. Terão os nossos animais sido abrangidos também por este programa?
Uma das impressões mais positivas que guardo de Istambul foi ver muitas situações como estas:
Um gato a dormir calmamente no guichet de uma agência de câmbios,
Ou este a passear-se calmamente diante dos visitantes da Mesquita de Santa Sofia.
Nem um regime de quase ditadura, e muitas dificuldades económicas da maior parte da população, conseguiu acabar com o respeito de um povo pelos seus animais. Ainda havemos de lá chegar!
M. L. Ferreira
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022
Ruas floridas
domingo, 13 de fevereiro de 2022
A invenção da vacina
A vacinação é um tema de grande atualidade, pelo que deixo aqui um vídeo que explica o básico e um site que nos dá uma perspetiva mais ampla.
https://www.youtube.com/watch?v=ENttrlq3zmg
https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/106/descoberta-das-vacinas-e-vacinacao
José Teodoro Prata
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022
O 1.º plano de vacinação em Portugal (?)
Interessante este documento do Livro de Registos de Leis e Ordens que nos dá conta da que terá sido, provavelmente, a primeira campanha de vacinação em Portugal. Tem a data de seis de maio de 1820 e, no essencial, diz o seguinte:
«Dom João, por Graça de Deus Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil d’ Aquém de d’ Além-Mar em África Senhor da Guiné vos faço saber a vós, Corregedor da Comarca de Castelo Branco, que querendo eu que efetivamente se propague a vacinação pelo grande e reconhecido benefício que resulta deste seguro e (?) preservativo das bexigas naturais que tantos estragos produzem na população. Fui servido ordenar que todas as autoridades Eclesiásticas, civis e militares procurem, quanto for possível, a sua propagação servindo-se dos meios que, sem coação, forem mais convenientes para se obter este importante objeto. Pelo que vos mando que assim executeis pela parte que vos toca, dando-me conta pela Mesa do meu Desembargo do Paço, de três em três meses, das medidas que a esse fim tiverdes adoptado e do seu resultado…»
Sabemos que a vacina contra a varíola tinha
sido descoberta em finais do século XVIII, e é notável que na segunda década do
século XIX, encontrando-se Portugal numa situação económica difícil, até pela
devastação causada pelas invasões francesas, já dispuséssemos de vacinas para toda
a população. É importante o facto da obrigatoriedade de a campanha envolver
todas as autoridades civis, eclesiásticas e militares, e que dela tivesse que dar-se
conta, quer das ações, quer dos resultados. É também interessante que, embora
fosse recomendada, pelo reconhecimento dos grandes benefícios que trazia para o
combate à doença, não era obrigatória.
Não sei se há registo da aplicação deste plano de vacinação, mas é possível que não tenha sido muito eficaz (possivelmente porque não era obrigatória e pelas convulsões políticas da altura): a mortalidade continuou muito elevada por esses tempos. Só em São Vicente em 1820 morreram cerca de trinta anjos (crianças até aos dois anos), muitos, devido à varíola.
É um pouco injusta a ideia que nos passaram ou fomos criando de D. João VI, uma figura grotesca, quase a rondar a debilidade mental. Só por estas medidas revelou ter a sabedoria que se esperava de um rei e que falta a alguns estadistas da atualidade.
M. L. Ferreira
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
João Prata
João
Prata nasceu em outubro de 1893. Foi criado por Maria Castanheira, moradora na
Casa da Roda de São Vicente e a quem eram confiadas algumas das crianças
expostas neste concelho. Na altura, Maria Castanheira era casada com António
Prata, de quem João terá herdado o apelido.
Assentou
praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no Regimento de Artilharia de
Montanha, em Castelo Branco, a 13 de janeiro de 1914. Segundo a sua folha de
matrícula, na altura em que assentou praça era analfabeto, não tinha profissão
certa e foi vacinado.
Pronto
da instrução em 4 de julho, passou ao quadro permanente em virtude de sorteio.
Foi destacado para a província de Angola e seguiu viagem no dia 11 de setembro,
como soldado condutor, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquela província
ultramarina. Desembarcou em Moçâmedes, a 1 de outubro de 1914, e terá seguido
depois a pé, para sul, para a fronteira com a Namíbia.
Participou
na ação do dia 18 de dezembro de 1914, contra os alemães, fazendo parte das
tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertencia ao Destacamento que
reconquistou e ocupou o Cuamato, de 12 a 27 de agosto, tendo tomado parte
também na ação do Ancongo, em 13 de agosto de 1915, e no combate da Inhoca, em
15 do mesmo mês, dia em que o Destacamento entrou no Forte de Cuamato. Em 20 de
agosto, avançou com o mesmo Destacamento sobre Cunhamano, a fim de
restabelecerem as comunicações que haviam sido cortadas pelo inimigo. No dia 24
participou também no combate da Chana da Mula.
Embarcou
de regresso à Metrópole, no dia 16 de novembro de 1915, e chegou a Lisboa a 5
de dezembro.
Licenciado
em 15 de março de 1916, voltou a apresentar-se no dia 27 de abril. Foi novamente
licenciado em 21 de agosto, por exceder o quadro da bateria expedicionária. Apresentou-se
de novo em 18 de fevereiro, por ter sido convocado para serviço extraordinário,
e foi destacado para a província de Moçambique, para onde embarcou no dia 2 de
julho de 1917, para reforçar o efetivo da 3.ª Expedição que se encontrava muito
debilitado devido às baixas e às doenças de que muitos militares sofriam.
Regressou à Metrópole em 10 de maio de 1918. Licenciado em 30 de julho,
domiciliou-se na freguesia de São Vicente da Beira.
Passou
ao 2.º Escalão do Exército e ao 7.º Grupo de Baterias de Reserva, em 31 de dezembro
de 1923, e ao Depósito de Licenciados do R. A. 4, em 1 de outubro de 1926. A 9
de setembro de 1930, passou à Companhia de Trem Hipomóvel e à reserva ativa em
31 de dezembro de 1934.
Condecorações:
- Medalha comemorativa das Operações
no sul da província de Angola 1914-1915;
- Medalha comemorativa das Operações
em Moçambique 1914-1918;
- Medalha da Vitória.
Família:
Após o regresso de Moçambique, João Prata casou com Maria Catarina na Conservatória do Registo Civil de São Vicente da Beira, a 16 de fevereiro de 1920. O casal terá ido residir para a Torre, Louriçal do Campo, de onde a esposa era natural. Tiveram 4 filhos: Conceição Prata, Maria Prata, José Prata e João Prata.
Casa da Torre, residência familiar de João Prata.
João
Prata toda a vida trabalhou na agricultura, como jornaleiro, e também teve uma
taberna que se situava por baixo da casa onde morava. É provável que também
tivesse sido moleiro, que era a ocupação da família de Maria Catarina.
Ainda
há quem se lembre de ouvir falar dele e contam que era um homem simples, trabalhador
e de fácil relacionamento com toda a gente.
Teve
uma vida muito modesta e nunca terá conseguido que lhe fosse atribuída a pensão
a que tinha direito pela sua participação na Guerra, apesar de, em 1915,
durante as manobras para se deslocarem para Cunhama, ter tido um acidente que o
deixou a coxear para o resto da vida. Ainda apelou para que lhe fosse atribuída
uma compensação por essa deficiência e a incapacidade lhe fosse considerado
para efeitos de reforma, mas a pretensão foi-lhe negada. O parecer final,
assinado pelo Major Fabião, datado de 27 de Junho de 1927, considerava que a
deficiência era resultado da queda de um carro de bois, ocorrida uns anos após
o seu regresso de África, e não do acidente em Angola.
João
Prata faleceu no dia quinze de dezembro de 1943. Tinha 50 anos de idade.
(Pesquisa
feita com a colaboração de alguns habitantes da Torre)
Maria Libânia Ferreira
Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"