Há anos, a nossa Praça era animada por bandos de andorinhões que faziam voos acrobáticos em volta da torre, soltando gritos estridentes. Recordo-me vagamente que deixaram de nos visitar depois de umas obras na torre da Igreja, mas tenho esperança de estar a ser traído pela memória.
Podemos vê-los aqui: https://youtu.be/FzddGqEVHTk
Lembrei-me deles ao ler esta crónica do Miguel Esteves Cardoso, no Público:
«Amanhã é noite de lua cheia. As luas cheias amalucam
as pessoas. E os bichos. E os mares. E abrem-nos os olhos.
Olhar para a lua cheia é quase como voar. A lua vai-se
aproximando de nós, como se fôssemos nós que nos estivéssemos a chegar ao pé
dela.
Que pena, que estupidez, que desperdício que o luar
seja hoje só uma palavra bonita, que faz o favor de rimar com quase todos os
verbos que se quiser produzir.
E o luar propriamente dito? Merece ser visto só de uma
janela, quando se olha para a lua, como qualquer coisa que a lua entornou?
Pobre luar, que nem sequer tem direito a ser luz, a
não ser quando se liga a luz do telemóvel e se repara, porque perdeu a força do
costume, que já não é necessária.
Se ainda há tolos que se sentem obrigados a decidir
entre cães e gatos, porque é que, já agora, a tolice não se estende a escolher
entre o luar e a luz do sol?
Este sábado, se tem sorte de ter andorinhões por
perto, ponha-se a ver como eles se portam com a lua cheia. Anders Hedenstrom, da Universidade de
Lund, descobriu recentemente que alguns andorinhões reagem de
maneira espectacular à lua cheia, voando até à altura de quatro ou cinco
quilómetros.
Mesmo antes de ver os primeiros andorinhões do ano,
vejo sempre os passarinhos e os pombos atarantados, a fugir da balbúrdia
daqueles turistas: os andorinhões que fazem de vistoriadores, estudando os
telhados e a concentração de insectos voadores, para emitir os avais para o
resto da malta.
E, de resto, faço minhas as palavras que P.R. deixou
ontem num comentário:
“Chegaram hoje, finalmente. Já voam em bando freneticamente, aqui mesmo à frente do 7.º piso. O céu está tão azul que conseguimos ver os movimentos das asas, do planar ao voo picado, ao mergulho. Estão mesmo bem-dispostos, acabadinhos de chegar. Ainda não vi nenhum entrar em ninhos nas frestas das pedras, ainda estão a matar saudades da luz e da beleza desta cidade. Bem-vindos.”»
José Teodoro Prata