Em 2009, publiquei este texto aqui no blogue. Repito-o, pois
muitos não o leram na altura e outros, como eu, podem recordá-lo. Tem tudo o
que para mim significa o 25 de Abril.
Em
1974, eu frequentava o 6.º ano (atual 10.º ano), no Seminário do Tortosendo.
No dia 25 de Abril, logo cedo, o P.e Guerra,
pároco diocesano de Peraboa, chegou de carro e saiu a correr para a sala de
professores. A seguir tivemos aula de Português. Com um rádio junto à
secretária e outro no fundo da sala, em emissoras diferentes, tentávamos saber
mais qualquer coisa do que se estava a passar em Lisboa. Contagiou-nos com o seu entusiasmo, mas cumpriu o
dever de educador: atenção, pois liberdade rimava com responsabilidade! Uma
chatice, para quem tinha 16 anos.
No
dia seguinte, fomos ao Tortosendo. Pessoas ligadas ao Unidos disseram-nos que
queriam o nosso P.e Jerónimo no comício de 28 de Abril!
O
Unidos era o grande clube desta vila operária, um centro da oposição ao regime,
com o qual o Seminário tinha uma boa colaboração cultural e desportiva.
E
depois veio Maio.
Já
conhecia as tradições das lutas dos operários do Tortosendo no 1.º de Maio.
Anualmente, vários trabalhadores teimavam que era feriado e faltavam ao
trabalho. Os patrões avisavam a GNR e, pela tarde, os guardas e a Pide iam
buscá-los, eles que apenas estavam a comer umas chouriças assadas e a beber uns
copos com outros amigos, à sombra de uma latada.
Mas
o 1.º de Maio de 1974 foi diferente. A Vila preparou os farnéis e mudou-se para
a ponte Pedrinha, no rio Zêzere. O meu pai andava a fazer a instalação da rede
de esgotos no Cabeço e também foi à festa. Encontrámo-nos na estrada, mas eu
fui com os outros seminaristas e ele com a família de um companheiro.
Meses
depois, veio a greve dos operários dos Lanifícios. Nas últimas semanas, já
havia fome. Os operários das aldeias em redor tiveram de trazer comida para os
camaradas do Tortosendo. E venceram.
A Construção Civil foi igualmente beneficiada.
Melhoraram os salários e reduziu-se a semana de trabalho. Com mais dinheiro e
tempo livre, o meu pai já passava o sábado connosco e pode comprar e recuperar
a casa da Vila, que se tornou a nossa morada. Ele costumava dizer que a nossa
casa fora construída graças ao 25 de Abril.
Em
1975, criaram-se as camionetas dos estudantes e os adolescentes, bloqueados
após a conclusão da Telescola, puderam prosseguir os estudos em C. Branco.
Também eu, sem emprego, nem possibilidades de ir para a universidade,
beneficiei delas um ano depois e tornei-me professor do Ensino Primário.
Durante
muitos anos, em cada 25 de Abril, emocionava-me aos primeiros acordes da
Grândola Vila Morena. Agora, felizmente, já não. A liberdade e os direitos dos
trabalhadores tornaram-se tão naturais como o ar que respiramos. E se,
infelizmente, as coisas não mudaram o suficiente para o bem de todos, temos a
liberdade de contribuir para que tudo melhore.
José Teodoro Prata