O
mundo do sobrenatural sempre acompanhou o homem. Tudo era mistério: trovões,
escuridão, sol... O mundo tinha forças obscuras que eram
respeitadas, temidas.
respeitadas, temidas.
No
Império Romano com a conversão de Constantino ao Cristianismo, o
paganismo foi substituído, mas nunca se conseguiram apagar os
ritos pagãos. A grande maioria da população, nomeadamente europeia, permanecia muito ligada aos deuses antigos.
paganismo foi substituído, mas nunca se conseguiram apagar os
ritos pagãos. A grande maioria da população, nomeadamente europeia, permanecia muito ligada aos deuses antigos.
Alguns
desses deuses eram representados com cornos, símbolos da
fertilidade, outras vezes rabos e patas de animais que representavam a caça (Pã...).
fertilidade, outras vezes rabos e patas de animais que representavam a caça (Pã...).
À
medida que o Catolicismo ia crescendo, os chefes cristãos foram
transformando as festividades pagãs: o nascimento do deus sol deu origem ao natal cristão; a festa de samhaim que recordava os mortos, passou a ser o dia de finados...
transformando as festividades pagãs: o nascimento do deus sol deu origem ao natal cristão; a festa de samhaim que recordava os mortos, passou a ser o dia de finados...
Mas
muitos sacerdotes dos antigos cultos mantiveram-se fiéis aos seus
deuses e passaram a chamar-se bruxos e bruxas.
deuses e passaram a chamar-se bruxos e bruxas.
No
tempo da Inquisição, milhares dessas pessoas foram queimadas vivas
ou enforcadas. Nesses tempos, segundo a Igreja, a bruxaria estava conotada com satanás a adoração a Satanás. Tudo aquilo que acontecia de mal ao homem era resultado das bruxarias, por isso tinham que ser exterminadas, queimadas.
ou enforcadas. Nesses tempos, segundo a Igreja, a bruxaria estava conotada com satanás a adoração a Satanás. Tudo aquilo que acontecia de mal ao homem era resultado das bruxarias, por isso tinham que ser exterminadas, queimadas.
As
bruxas eram más, dançavam em clareiras (Cruz da Oles, Fonte da
Portela, encruzilhadas...) durante a noite. O mafarrico era a personagem central. Eram mulheres jovens, belas, invejadas. Estas práticas foram passando de familiares para familiares (benzedeiras, curandeiras, parteiras...).
Portela, encruzilhadas...) durante a noite. O mafarrico era a personagem central. Eram mulheres jovens, belas, invejadas. Estas práticas foram passando de familiares para familiares (benzedeiras, curandeiras, parteiras...).
A
palavra pagão vem do latim pagini ou paganos, que quer dizer terra
ou habitante local, camponês. Eram pessoas que viviam no campo, seres inferiores em relação aos da cidade, Os moradores das cidades viam neles pessoas rudes, fortes, arroteadoras de terras, como sendo gente má. Para os urbanos, esses seres barbudos, com rituais estranhos, esquisitos, tinham contactos com o chifrudo.
ou habitante local, camponês. Eram pessoas que viviam no campo, seres inferiores em relação aos da cidade, Os moradores das cidades viam neles pessoas rudes, fortes, arroteadoras de terras, como sendo gente má. Para os urbanos, esses seres barbudos, com rituais estranhos, esquisitos, tinham contactos com o chifrudo.
A
mulher não era digna de pensar, quando pensava, era só no mal.
Velhas que vivessem sozinhas, rodeadas de animais, nomeadamente gatos, eram feiticeiras (os gatos estavam associados às bruxarias).
Velhas que vivessem sozinhas, rodeadas de animais, nomeadamente gatos, eram feiticeiras (os gatos estavam associados às bruxarias).
Sendo
assim, essas mulheres velhas, feias, narigudas, mal-encaradas, comiam criancinhas,
(as mães quando queriam assustar os filhos diziam:
-
Se não te portares bem, se não comeres a sopa toda, vem a bruxa má e leva-te!
A
sabedoria pagã era passada oralmente entre pessoas da mesma família
ou entre vizinhos. Há por aí benzedeiras(os), curandeiras(os) e defumadoras(os) com suas rezas e práticas ancestrais que continuam uma tradição com origem na Pré-História.
ou entre vizinhos. Há por aí benzedeiras(os), curandeiras(os) e defumadoras(os) com suas rezas e práticas ancestrais que continuam uma tradição com origem na Pré-História.
Uma
senhora da vila contou-me o seguinte:
«Era o mês de Setembro, anos sessenta do
passado século, segunda-feira,
dia do Senhor Santo Cristo, praça repleta. O arraial animado, no coreto
a banda tocava mais uma marcha ao comando da batuta do mestre Joaquim
dos Santos, a quermesse estava rodeada de gente ávida para comprar uma
garrafa de vinho licoroso (lágrima de Cristo, Porto...).
dia do Senhor Santo Cristo, praça repleta. O arraial animado, no coreto
a banda tocava mais uma marcha ao comando da batuta do mestre Joaquim
dos Santos, a quermesse estava rodeada de gente ávida para comprar uma
garrafa de vinho licoroso (lágrima de Cristo, Porto...).
Um casal divertia-se, junto deles os filhos, em
casa, no berço ficou a
cria mais pequenina, (seis mesinhos apenas). Disse a mulher para o marido:
cria mais pequenina, (seis mesinhos apenas). Disse a mulher para o marido:
- Vou a nossa
casa ver como está a menina, volto já.
Não moravam
longe da praça. Meteu a chave na fechadura da porta, mas não abriu, empurrou...
- Foram aqueles
malandros que meteram canas de foguetes atrás da porta e não abre. Damonhos!
Meteu a mão numa
fisga e lá conseguiu abrir a porta. Ao fundo das escadas, estava a menina deitada.
Ficou petrificada. Como foi possível? Só podia ser obra de alguma bruxa!
Ao lado encontrava-se a furda do porco. Se ele
abrisse a cravelha com
fazia às vezes...
fazia às vezes...
Como se demorava,
foram ver o que se passava. Ficaram todos espantados.»
A bruxa só podia
ter entrado pelo buraco da fechadura, disse-me ela
com convicção e certeza. (Essa menina é a senhora que me contou este
episódio que se passou nos meados dos anos sessenta, tinha seis meses).
com convicção e certeza. (Essa menina é a senhora que me contou este
episódio que se passou nos meados dos anos sessenta, tinha seis meses).
A avó desta senhora tinha uma porca que andava
prenha. Um dado dia, os
porquinhos nasceram. Entretanto, encontrou uma vizinha que tinha fama
de bruxa. Mesmo assim disse-lhe.
porquinhos nasceram. Entretanto, encontrou uma vizinha que tinha fama
de bruxa. Mesmo assim disse-lhe.
- Ó Maria, hás
de ir à minha casa ver uns porquinhos tão lindos que lá tenho.
- Não vou...
Ela insistiu e a
vizinha foi.
- Tens uns
lindos animais!
Os bacorinhos a
partir dessa altura começaram a definhar, deixaram de mamar. Sabem qual foi o
resultado? Morreram todos.»
J.M.S.