Era uma vez um povo que labutava de sol a sol, para garantir o pão de cada dia. A sabedoria das suas coisas simples condensava-a nos provérbios que fazia:
Em Abril, águas mil.
Em Abril, salga o teu olivil.
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
Abril molhado, sete vezes trovejado.
Uma vida simples, sem ambições e de horizontes estreitos.
Bendita seja a miséria, porque faz o povo humilde.
(Cardeal Cerejeira)
Mas os poetas vêem as coisas noutra perspectiva.
Habito o sol dentro de ti
descubro a terra aprendo o mar
rio acima rio abaixo vou remando
por esse Tejo aberto no teu corpo.
E sou metade camponês metade marinheiro
apascento meus sonhos iço as velas
sobre o teu corpo que de certo modo
é um país marítimo com árvores no meio.
Tu és meu vinho. Tu és meu pão.
Guitarra e fruta. Melodia.
A mesma melodia destas noites
enlouquecidas pela brisa no País de Abril.
...
(“A Rapariga do País de Abril”, Manuel Alegre)
E semearam a inquietação:
Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
ou
Eles comem tudo
eles comem tudo
eles comem tudo
e não deixam nada
ou
Grândola, vila morena
terra da fraternidade
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade
(José Afonso)
E no dia 25, até o poeta se comoveu ante a realização do sonho.
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Depois, o povo fez desse dia 25 de Abril um marco divisório, entre um antes...
O tempo da fome
O tempo da outra senhora
Um tempo dum filho da p…
...e o depois:
o direito ao voto para todos,
melhores salários,
mais educação,
melhor saúde...
Um comentário:
FASCISMO nunca MAIS !!!!!!!!
Postar um comentário