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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Conta-me histórias, 2

 Este objeto com história não foi apresentado na segunda tertúlia do Conta-me histórias, realizada a 28 de abril, sob o tema 25 de Abril. Como animador das sessões, tenho de ter sempre algo na manga e este objeto não saiu da minha pasta porque nesta tertúlia as duas horas foram bem recheadas de histórias de tantos participantes.

Aguardo o envio dos textos dos intervenientes nesta e na primeira tertúlia, para os dar a conhecer, aqui, a quem não esteve presente.


O (meu) Capital

Este é o 1.º volume do livro I de O Capital, de Karl Marx. O preço marcado a lápis parece indicar 25 escudos. Está rubricado e datado por mim: 23-Agosto-1974.

Comprei-o na Papelaria Central do Tortosendo, situada no largo central desta vila. Pela data, foi durante a minha habitual ida ao seminário, a meio das férias grandes. Eu tinha então 17 anos e frequentava o Seminário do Verbo Divino, no Tortosendo, uma vila operária com grandes tradições de luta contra o regime ditatorial que governara Portugal cerca de 48 anos.

Os padres do seminário, formados em universidades da Alemanha e dos Estados Unidos, eram adeptos da democracia, mas não faziam abertamente campanha, junto dos alunos, contra o regime que vigorara até ao 25 de Abril. Prova disso é que só há três anos soube a razão porque pessoas da povoação nos perguntavam pelo padre Jerónimo, pois o queriam no comício do 1.º de Maio, que antecedeu o desfile até à Ponte Pedrinha, onde milhares de pessoas se espalharam pelas margens do rio Zêzere, partilhando as suas merendas. Ele tinha direito a honras de palanque, a que se esquivou, porque em finais de 1973 escrevera no Jornal do Fundão um longo artigo advogando a democratização do país.

Sabíamos dos presos no 1.º de Maio de anos anteriores, trabalhadores que faltavam ao trabalho nesse dia e se juntavam debaixo de uma latada a petiscar e a beber uns copos, mas a meio da tarde eram levados pela GNR, pois logo de manhã os patrões tinham comunicado à PIDE quem faltava ao trabalho. Mas no ano seguinte, lá teimavam eles em comemorar o dia do trabalhador!

Eu frequentava o 6.º ano, atual décimo (na época, o ensino secundário tinha a duração de dois anos e não três, como atualmente). Por serem mais velhos, os alunos do secundário tinham direito a uma noite de televisão por semana, à sua escolha. Nesse ano letivo, mas ainda antes da revolução, o padre Vaz, nosso prefeito, deu-nos uma noite extra para ouvirmos as Conversas em Família do presidente do Conselho, Marcelo Caetano. Recusámos, mas ele disse-nos que para vencermos um inimigo tínhamos primeiro de o conhecer bem. Foi em vão, preferimos ir para a cama, às 21:30h.

Um dia, num passeio ao entardecer, o mesmo padre Vaz, pessoa bastante conservadora, partilhou comigo e com o meu colega José Antunes a história do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que escrevera uma carta a Salazar, criticando a sua política e aconselhando-o a iniciar um processo de democratização. Salazar castigou-o com o exílio, por 10 anos (1959-69).

Eram boas as relações do Seminário com o Unidos do Tortosendo, um clube operário que se dizia ser dirigido por comunistas. Ficou até célebre, e com direito a retrato para a posteridade, a informação que o padre Garibaldi, um missionário brasileiro do nosso seminário, deu a um governante do Estado Novo, que, cerca de 1971, foi ao Tortosendo conhecer o projeto da nova sede para o Unidos. Tão bem falou da coletividade que o Governo abriu os cordões à bolsa e a obra fez-se.

Ainda representámos teatro na antiga sede: O Lugre de Bernardo Santareno e O Assassínio na Catedral, relativo à morte do bispo católico Thomas Becket, na Inglaterra medieval. Havia no clube um senhor já idoso que todos referenciavam e que sempre cumprimentava os seminaristas com especial simpatia. Era o senhor Ribeiro, soube anos mais tarde, pelo Jornal do Fundão, quando foi homenageado no Tortosendo. Depois do 25 de Abril, também se falava muito de um preso, não comunista, que fora libertado. Então pensei que fosse do MRPP, que na altura tinha alguma expressão na Vila, mas soube há poucas semanas que era da LUAR e se chamava Ramiro Raimundo.

Aqui chegados, pode o leitor ser levado a concluir que nós, os seminaristas, éramos muito politizados. Não, vivíamos numa bolha, que apesar de tudo nos abria horizontes para a existência de pessoas que pensavam de forma diferente e para a necessidade da democratização do país. Mas só isso. Desconhecíamos partidos e ideologias, como quase todos os portugueses.

Voltando ao objeto deste texto, o meu O Capital está forrado com um cartaz lindíssimo de cravos em fundo negro, com a foice, o martelo e a estrela sobrepostos, em amarelo. Roubei-o ao Partido Comunista, no outono de 74. Estava afixado no lagar dos Garret, à beira da estrada, a meio caminho do cruzamento do seminário com a povoação. A altura de 3 metros não foi para nós, jovens adolescentes, um obstáculo. Um colega meu, menos pesado, trepou por mim acima e, com os pés nos meus ombros e uma mão encostada à parede, com a outra arrancou o cartaz, que já estava pouco seguro e nem se rasgou.

No verão de 75, a minha prima Carmita, já estudante universitária, então nas habituais férias em São Vicente, questionou-me sobre as minhas leituras (ou eu falei no assunto, para me gabar, não me lembro bem). Disse-lhe e a quem nos rodeava que tinha lido O Capital. Ela ficou estupefacta e informou-me que O Capital de Karl Marx era uma obra vasta, com vários livros e volumes. Não, eu só lera um volume, esclareci!

A leitura não me foi fácil, pois a economia era então uma área quase não abordada nos livros de História do secundário. Mas ficou-me para sempre a questão das mais valias: o patrão cria a empresa, equipa-a, paga as matérias-primas, a luz, a água…, recebe o seu ordenado e paga os salários aos trabalhadores. Pagas todas as despesas, incluindo o vencimento do empresário, ficam os lucros, dos quais este se apodera na totalidade, embora tenham sido obtidos com o trabalho de todos. Era natural que os lucros, as mais valias, fossem distribuídos equitativamente, ficando o empresário com uma larga percentagem, para o premiar do investimento realizado e do cargo desempenhado, mas certa percentagem deveria ser distribuída pelos trabalhadores, igualmente fundamentais na criação dessa riqueza.

Por isso ninguém enriquece a trabalhar e a distância entre os rendimentos dos assalariados e os dos empresários é cada vez maior. Situação agravada quando os aumentos salariais não acompanham o aumento da produtividade, como aconteceu nos últimos 20 anos, na Europa, segundo um estudo recentemente divulgado.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Abril em São Vicente da Beira

 No domingo, dia 28, os vicentinos juntaram-se e partilharam as suas memórias do 25 de Abril, na Biblioteca, em mais uma tertúlia do projeto Conta-me histórias, que visa animar esta comunidade.

Recordaram-se os tempos em que a Pide vinha inquirir junto do pároco sobre as três pessoas que habitualmente não iam à missa e contou-se o caso do rapaz que aos domingos ia namorar a terra alheia, faltando à missa, e concorreu à Polícia, à GNR e à Guarda Fiscal, mas só foi chamado depois de levar um cabrito ao senhor vigário. E a história daquela menina de Aldeia de Joanes, que lia semanalmente o Jornal do Fundão ao pai e que um dia foi abordada pela Pide que lhe perguntou o que mais gostava de ler no jornal, mas ela respondeu que só lia o anúncio que o pai mandava publicar no jornal.

Lembrámos o nosso militar de Abril, o nosso padre democrata e o nosso empresário que numa noite mudou o nome da nossa Praça, de Salazar para 25 de Abril. E as primeiras férias pagas e a ameaça de incendiar a casa a quem as pagava e fazia descontos para a Segurança Social.

Mais a criação dos autocarros para estudantes e as colónias de férias em que as crianças apreendiam um mundo novo. E as greves por melhores salários, o fim da guerra, a alegria de sermos livres, o recenseamento eleitoral com pausa para a Gabriela, as primeiras eleições e a vizinha que demorou muito a votar, porque havia muitos partidos com quadradinho onde traçar a cruz.

No dia 19 de maio voltamos a encontrar-nos em nova tertúlia, pelas 15 horas, com a Senhora da Orada como tema e local.

Esta segunda tertúlia foi quase totalmente organizada pelas responsáveis da Biblioteca (Celeste, Libânia e Conceição) e pela Maria da Luz. O nosso obrigado e as minhas desculpas, pois na sessão esqueci-me de lhes agradecer, assim como ao presidente da Junta.

José Teodoro Prata

Seguem-se as fotos da Rita Amaro:









segunda-feira, 25 de abril de 2016

Manifesto político

Dizer Não
Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'.

Nota: Este texto do Vergílio Ferreira é todo um manifesto político de uma revolução que deve começar dentro de cada um de nós, que é onde todas as revoluções têm de se fazer, mais tarde ou mais cedo. Vem na linha do existencialismo dos anos 50-70 do século passado,uma filosofia centrada no homem, em todos e cada um.
E para ouvir hoje, 25 de ABRIL, duas canções do Zeca.




José Teodoro Prata

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Liberdade

Se um dia me perguntassem qual a minha palavra de eleição, escolheria liberdade. Ela é intrínseca à natureza humana, traduz uma das mais importantes caraterísticas do homem. Motiva rebeliões individuais e coletivas, provocando as revoluções que mudam o curso da História.
Normalmente, atribuímos à economia a causa impulsionadora destes movimentos sociais, mas a ânsia de liberdade acompanha sempre as motivações económicas e continua presente mesmo quando o materialismo está ausente, de todo.
Por isso, ao pensar numa canção do Zeca Afonso, para assinalar o 25 de Abril, de entre tantas excelentes, escolho um poema escrito e musicado em honra do seu amigo Alfredo Matos, preso nas masmorras da PIDE.
Chama-se "Por trás daquela janela" e saiu no álbum "Eu vou ser como a toupeira", em 1972.


Por trás daquela janela

Por trás daquela janela [bis]
Faz anos o meu amigo / E irmão

Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão

Se aquela parede andasse [bis]
Eu não sei o que faria / Não sei

Se a minha faca cortasse
Se aquela parede andasse
E grito enorme se ouvisse
Duma criança ao nascer

Talvez o tempo corresse [bis]
E a tua voz me ajudasse / A cantar

Mais dura a pedra moleira
E a fé, tua companheira
Mais pode a flecha certeira
E os rios que vão pró mar

Por trás daquela janela[bis]
Faz anos o meu amigo / E irmão

Na noite que segue o dia[bis]
O meu amigo lá dorme / De pé

E o seu perfil anuncia
Naquela parede fria
Uma canção de alegria
No vai e vem da maré

Por trás daquela janela[bis]
Faz anos o meu amigo / E irmão

Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão

domingo, 25 de abril de 2010

Em Abril, lutas mil

Era uma vez um povo que labutava de sol a sol, para garantir o pão de cada dia. A sabedoria das suas coisas simples condensava-a nos provérbios que fazia:

Em Abril, águas mil.
Em Abril, salga o teu olivil.
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
Abril molhado, sete vezes trovejado.


Uma vida simples, sem ambições e de horizontes estreitos.

Bendita seja a miséria, porque faz o povo humilde.
(Cardeal Cerejeira)


Mas os poetas vêem as coisas noutra perspectiva.

Habito o sol dentro de ti
descubro a terra aprendo o mar
rio acima rio abaixo vou remando
por esse Tejo aberto no teu corpo.

E sou metade camponês metade marinheiro
apascento meus sonhos iço as velas
sobre o teu corpo que de certo modo
é um país marítimo com árvores no meio.

Tu és meu vinho. Tu és meu pão.
Guitarra e fruta. Melodia.
A mesma melodia destas noites
enlouquecidas pela brisa no País de Abril.
...
(“A Rapariga do País de Abril”, Manuel Alegre)


E semearam a inquietação:

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


ou

Eles comem tudo
eles comem tudo
eles comem tudo
e não deixam nada


ou

Grândola, vila morena
terra da fraternidade
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade
(José Afonso)


E no dia 25, até o poeta se comoveu ante a realização do sonho.

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Depois, o povo fez desse dia 25 de Abril um marco divisório, entre um antes...

O tempo da fome
O tempo da outra senhora
Um tempo dum filho da p…


...e o depois:
o direito ao voto para todos,
melhores salários,
mais educação,
melhor saúde...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Memórias de Abril e Maio


Em 1974, eu frequentava o 6.º ano (actual 10.º ano), no Seminário do Tortosendo.
No dia 25 de Abril, logo cedo, o P.e Guerra, pároco diocesano de Peraboa, chegou de carro e saiu a correr para a sala de professores. A seguir tivemos aula com ele. Com um rádio junto à secretária e outro no fundo da sala, em emissoras diferentes, tentávamos saber mais qualquer coisa do que se estava a passar em Lisboa.
Contagiou-nos com o seu entusiasmo, mas cumpriu o dever de educador: atenção, pois liberdade rimava com responsabilidade! Uma chatice, para quem tinha 16 anos.
No dia seguinte, fomos ao Tortosendo. Pessoas ligadas ao Unidos disseram-nos que queriam o nosso P.e Jerónimo no comício de 28 de Abril!
O Unidos era o grande clube desta vila operária, um centro da oposição ao regime, com o qual o Seminário tinha uma boa colaboração cultural e desportiva.
E depois veio Maio.
Já conhecia as tradições das lutas dos operários do Tortosendo no 1.º de Maio. Anualmente, vários trabalhadores teimavam que era feriado e faltavam ao trabalho. Os patrões avisavam a GNR e, pela tarde, os guardas e a Pide iam buscá-los, eles que apenas estavam a comer umas chouriças assadas e a beber uns copos com outros amigos, à sombra de uma latada.
Mas o 1.º de Maio de 1974 foi diferente. A Vila preparou os farnéis e mudou-se para a ponte Pedrinha, no rio Zêzere. O meu pai andava a fazer a instalação da rede de esgotos no Cabeço e também foi à festa. Encontrámo-nos na estrada, mas eu fui com os outros seminaristas e ele com a família de um companheiro.
Meses depois, veio a greve dos operários dos Lanifícios. Nas últimas semanas, já havia fome. Os operários das aldeias em redor tiveram de trazer comida para os camaradas do Tortosendo. E venceram.
A Construção Civil foi igualmente beneficiada. Melhoraram os salários e reduziu-se a semana de trabalho. Com mais dinheiro e tempo livre, o meu pai já passava o sábado connosco e pode comprar e recuperar a casa da Vila, que se tornou a nossa morada. Ele costumava dizer que a nossa casa fora construída graças ao 25 de Abril.
Em 1975, criaram-se as camionetas dos estudantes e os adolescentes, bloqueados após a conclusão da Telescola, puderam prosseguir os estudos em C. Branco. Também eu, sem emprego, nem possibilidades de ir para a universidade, beneficiei delas um ano depois e tornei-me professor do Ensino Primário.
Durante muitos anos, em cada 25 de Abril, emocionava-me aos primeiros acordes da Grândola Vila Morena. Agora, felizmente, já não. A liberdade e os direitos dos trabalhadores tornaram-se tão naturais como o ar que respiramos. E se, infelizmente, as coisas não mudaram o suficiente para o bem de todos, temos a liberdade de contribuir para que tudo melhore.


Quadros de Helena Vieira da Silva