A par dos cereais, sobretudo do centeio, a castanha foi, durante séculos, o sustento dos nossos antepassados. A povoação de São Vicente da Beira estava rodeada de soutos de castanheiros.
Na segunda metade do século XVIII, o Conde de São Vicente tinha oito propriedades com castanheiros: Prado, souto ao pé do Pinheiro, Casal do Pisco, souto à Fonte do Infante, Oriana, Ribeiro de Dom Bento, Carvalhal Redondo e souto ao Vale de Pedro Lourenço.
Também o Capitão-Mor Francisco Caldeira era dono de vários soutos: Barroca do Forno, Barroca do Pisão, Vale de Pêro Lourenço, Pinheiro, Aldeões, Vale de Cabra, entre outros.
Manoel Vas Rapozo trazia aforados um casal (Casal do Aires ?) e uma fazenda de Antonio de Azevedo, a quem pagava de foro 18$000 réis e 8 alqueires de castanha pilada, por ano.
Na mesma época (1775), Antonio Fernandes o moço da Partida detinha a Tapada do Souto e pagava de décima, pela produção de castanha, $350 réis.
Entretanto, no mesmo século XVIII, iniciou-se a cultura do milho grosso, que veio disputar aos linhares as terras ribeirinhas. O incremento da cultura da batata foi bastante mais tardio, pois a sua produção só se generalizou na segunda metade do século XX.
Estas duas produções de origem americana foram a salvação das nossas gentes, pois os castanheiros começaram a morrer, a partir de finais do século XIX, atingidos pela doença da tinta.
Mas, em 1854, os castanheiros ainda dominavam a nossa Devesa. O documento que se segue refere-se à venda da castanha, pela Câmara Municipal.
Termo da arrematação da castanha pendente do souto da Devesa, própria deste concelho, que faz João Duarte, pela quantia de mil quatrocentos e cinquenta réis
Aos cinco dias do mês de Novembro de mil oitocentos e cinquenta e quatro, nesta vila de São Vicente da Beira e casas do concelho, aonde se achava o Presidente da Câmara, José Maria de Moura Brito, aí por ele foi ordenado ao oficial de porteiro, Manuel Francisco, lançasse a pregão, na Praça pública, a castanha pendente do souto da Devesa, no valor de dois mil e quatrocentos réis.
O dito porteiro assim apregoou a dita castanha, repetidas vezes, a fim de obter lançador, depois do que deu sua fé que João Duarte desta Vila lhe havia dado o maior lanço de dois mil quatrocentos e cinquenta réis e que não havia quem mais lançasse, à vista do que o dito Presidente lhe mandou entregar o ramo ao dito arrematante, que ele recebeu da mão do porteiro, em sinal da sua arrematação, e se obrigou ao pagamento da dita quantia, em uma só prestação, no dia vinte da Janeiro de mil oitocentos e cinquenta e cinco.
E para de tudo constar, se lavrou este termo que o dito Presidente assinou, com o arrematante e o porteiro. Eu, José Ribeiro Robles, escrivão da Câmara, o escrevi.
Notas:
Porteiro - Era o funcionário municipal encarregado de publicitar, através de pregão gritado nas ruas, largos e praças, as decisões camarárias ou a arrematação de bens públicos. Também afixava avisos e posturas municipais.
Francisco Caldeira - Natural da Sertã, casou em São Vicente e foi o avô do 1.º Visconde da Borralha.
Manoel Vas Raposo - Antepassado dos Raposo Macedo Doria e de Hipólito Raposo.
José Ribeiro Robles - Trata-se do avô materno de Robles Monteiro, como informa o Comentário de Paulo Nicolau Almeida, à publicação "Robles Monteiro - Raízes", de 25 de Outubro de 2010, nestes Enxidros. José Ribeiro Robles era filho de Bernardo António Robles, natural da Covilhã, e de Antónia Raimunda Ribeiro, de S. Vicente.
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