Ainda o livro “A ANUNCIAÇÃO À VIRGEM MARIA na religiosidade popular do interior da Beira”, de Maria Adelaide Neto Salvado, recentemente editado pela editora Pelimage.
Nas páginas 86 e 87, a autora escreve:
«Outrora,durante a Quaresma, era prática dos habitantes de Tinalhas, aldeia próxima da Póvoa, deslocarem-se em romagem à ermida de Nossa Senhora da Encarnação.
Até ao início do século XX, era igualmente prática do povo da aldeia de Tinalhas organizar a esta ermida, no 3.º dia das Rogações, que precedem a festa da Ascensão do Senhor, uma participada peregrinação.
Eram as Rogações procissões através dos campos, cuja origem mergulha na Antiguidade, para se implorarem aos deuses condições atmosféricas favoráveis à fertilidade da terra e colheitas abundantes para que não faltasse o pão de cada dia. O Cristianismo adoptou esta prática, dando-lhe uma nova roupagem. Chamou-lhe Ladainhas e fixou a data da sua realização nos dias que antecedem a Quinta-feira da Ascensão. Acompanhado pelo pároco, o povo caminhava em procissão pelos campos em redor das povoações, implorando colheitas abundantes. A benção dos campos culminava o final das preces. Algumas povoações, ultrapassando os limites da sua paróquia, faziam as suas Ladainhas até um santuário da sua devoção.»
Já aqui dei notícia das ladainhas que o povo de São Vicente da Beira realizava à ermida da Senhora da Orada, durante a Quaresma. No final do século XVI, um visitador do bispo da Guarda veio à Vila e deixou escrita, entre outras recomendações, a proibição de os padres acompanharem o povo nas ladainhas que faziam à Orada. Elas terão continuado, já sem os sacerdotes, pois subsistiram até hoje, mas limitadas às ruas de São Vicente.
Outro aspecto em que este texto da Dr.ª Adelaide Salvado faz luz é a ligação das ermidas marianas ao ciclo quaresmal e da Páscoa, também já aqui tratado nos Enxidros.
São mais umas peças para nos ajudarem a completar o puzzle do nosso passado, a fim de o compreendermos melhor.
Ladainha de 2009.
Foto do Dário Inês.
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