Pela Calçada da Ponte...
Em Santo André, recordámos a ponte de pau, a única que existiu sobre a nossa ribeira até meados do século XX. Também vimos as ruínas do lagar dos irmãos Cabral de Pina do Violeiro, mais tarde herdado pelos antepassados dos viscondes de Tinalhas.
Passou por nós o tio João da Cruz, a quem pedira para ser nosso cicerone à sua Azenha Nova. Fomos andando, enquanto ele ia deixar o molho de feno ao palheiro do Pombal e fechar as cabras na corte.
A custo entrámos na azenha, que também foi dos Cabral de Pina, no passado. Evitámos as urtigas, mas lá dentro não havia nada de interesse. Fomos ver a roda da azenha, mas ela estava escondida por silvas e salgueiros. Só a Libânia a conseguiu vislumbrar, com ervas pela cintura.
Regressámos, pois o tio João da Cruz tardava e a manhã prometia aquecer. Já íamos na casa que os pais dele construíram, quando chegou, perguntando-nos se tínhamos visto o engenho no interior. Não havia lá nada, dissemos. “Se não viram isso, não viram nada!”, ralhou ele sem se deter, na certeza de que o seguíamos.
Atravessou o matagal de urtigas e nós fomos atrás dele, mas com cautelas. Desviou umas telhas e puxou um taipal, por onde se deixou escorregar para um buraco escuro. Gritámos, mas ele sossegou-nos e pediu um codaque. Não percebemos e só à terceira insistência é que entendemos que queria uma máquina fotográfica para nos fotografar o engenho. A São e a Sara juntaram-se-lhe e tiraram mais fotos. Por cima, espreitávamos o engenho, encantados com o que víamos e que nem imaginávamos existir.
Na Azenha Nova...
Puxámo-los do buraco e saímos, maravilhados e entristecidos por deixar a apodrecer tamanha riqueza da engenharia hidráulica. O Ernesto lembrou outra maravilha dos nossos artesãos: recordava-se de ver, na sua infância, o João Ventura pai a fazer uma roda de um carro de bois a partir do zero, usando pedaços de madeira de azinho.Despedimo-nos do tio João da Cruz e continuámos. Vimos o sítio da forca e depois virámos para o Belo Jardim e descemos para o Pelome, onde as peles eram curtidas no passado, mesmo ao lado do moinho também arruinado.
Subimos para a Estrada Nova, nova de cerca de 1940, pois a antiga passava pela Praça. Seguimos direitos a São Sebastião e notámos as semelhanças da fachada da capela com a da Igreja. No cruzamento milenar do Marzelo, percebemos as duas estradas que no passado ali se cruzavam, uma este-oeste, pelo sopé da serra, e outra norte-sul, vinda do Alentejo para Beira mais alta. E ainda existe o troço romano junto à fonte da Portela, para mostrar a sua antiguidade. Enquanto estudávamos o local à sombra de uma cerejeira, fomos colhendo e comendo, pois ainda não estavam quentes.
Continuámos pela Corredoura e parámos a meio, no local da capela de São Domingos, agora nada, como a de Santo André. E, no alto da rua da Cruz, unimos esta à visita de há dois anos, descendo a rua sem pressas, recordando coisas que alguns já sabiam mas os estreantes ignoravam.
Como diziam os nossos antigos: soube a ginjas!
Esta roda interior é movimentada pela roda exterior, por um eixo na horizontal, e, ao passar naquele corpo de paus, em cima, encaixa neles os dentes e movimenta-o, fazendo girar este eixo vertical que transmite o movimento à mó superior.
Fotos do Ernesto Hipólito e da Sara Varanda
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