Viriato Soromenho Marques (Diário de Notícias)
Que o 1.º de Maio português continue a oferecer o triste espetáculo de duas centrais sindicais separadas nas suas comemorações é apenas mais uma prova de que o capitalismo continua a ser, com a sua extraordinária capacidade de metamorfose, o grande sujeito da história mundial. O movimento sindical segue no cortejo dos distraídos. Nos últimos trinta anos, a paisagem económica mudou. E, com o atraso habitual, mudaram os ingredientes sociais e a arquitetura política. Muita gente, entre os quais se conta uma multidão inumerável de pequenos e médios empresários, e, certamente, quase todos os dirigentes sindicais europeus, ainda julga que capitalismo e economia de mercado são a mesma coisa. Julgam que a impossibilidade de obterem crédito é uma coisa passageira. Consideram que a atual austeridade é da ordem da conjuntura. Esquecem que o sistema financeiro que não empresta é o mesmo que já custou 4 500 000 000 000 de euros aos contribuintes europeus, não contando com as operações de engenharia do tipo das swap, que acabam sempre no défice público. Os indicadores que nos chegam dos EUA, da Europa e do resto do mundo, incluindo a China, mostram que o capitalismo de hoje deslocou a sua imaginação da esfera da produção de riqueza, onde se revela cada vez mais incompetente e relapso de imaginação, para se concentrar com afã na redistribuição de riqueza disponível, concentrando-a nas mãos de uma superminoria, à custa do empobrecimento das classes médias e da fragilização do trabalho. Os sindicalistas modernos parece que já não leem Marx, mas os super-ricos, esses, continuam a ser praticantes fervorosos da religião da luta de classes.
José Teodoro Prata
4 comentários:
Enquanto militar, pertencia ao Regimento de Engenharia 1, Pontinha, Lisboa, quartel general do 25 de Abril/74, mas encontrava-me destacado no Recrutamento Militar de Setúbal. Mesmo assim vivi por dentro, nesse dia, muitos acontecimentos e incertezas. O comandante do Regimento de Infantaria 11 era da 'velha guarda' e queria que atacássemos uma coluna que vinha de Vendas Novas e ia ocupar a zona do Cristo Rei em Almada. Foram horas inquietantes, enquanto nas salas de comando, ali ao lado, se decidia a História. Por fim, prevaleceram os Homens da Liberdade, mais jovens.
A crónica do Ferreira Fernandes do dia 25 de Abril passado (inserida neste blog), diz bem da mesquinhez e do ridículo das intervenções da PIDE e dos seus 'bufos' em situações politicamente inócuas.
O 1º. de Maio/74 foi uma grande jornada na Praça do Bocage, enquanto o Otelo Saraiva de Carvalho acenava de um helicóptero que por ali sobrevoava. Tudo ainda era lindo !
Zé Barroso
Afinal temos pelo menos dois militares de Abril!
Há uns bons anos,levei uma jornalista a entrevistar o João Revelho, pois ele este a guardar a ponte Salazar/25 de Abril.
Mas a história dele não tinha nada de especial e não deu notícia jornalística.
Porque é que não contas a tua, com todos os pormenores? É capaz de dar uma boa história!
Pelo menos dois Zé, dizes bem.
No entanto há um terceiro.
Entrou para a tropa no dia 24 DE ABRIL DE 1974 véspera do DIA DA REVOLUÇÃO e começou logo a revolucionar.
Chamava-se e chama-se Ernesto Hipólito e é este teu amigo.
Acompanhei o PREC de muito perto pois estive em Vendas Novas, na Escola Prática de Artilharia (só podia ser).
Estive no 11 de Março, 25 de Novembro etc.
Foram tempos bonitos que nunca irei esquecer.
Ernesto.Hipólito
Eu sabia que tinhas andado na tropa, por esses tempos, mas julgava que só depois. Falhei por dois dias.
Vocês têm de escrever essas histórias.
Houve coisas boas e más, mas são passado.
Pertencem ao nosso património e temos de conhecê-lo, para nos compreendermos como povo.
E quando escrevo sobre mim, eu sei que estou a escrever sobre muitos, sobre uma época. Não é algo pessoal, eu pelo menos não o entendo assim.
Postar um comentário