quinta-feira, 27 de junho de 2013

Na Cruz da Oles

O que mais me agrada, nos passeios pedestres que temos organizado, aquando das feiras de gastronomia e artesanato, é o convívio entre os participantes. Por exemplo, este ano, o António Craveiro, chegado há poucas horas de França, ainda mal dormido, recordava partes da sua vida a cada passo que dávamos. Já palmilhara todo aquele espaço e lembrava histórias que ele ou outros tinham vivido em cada sítio, por onde passávamos.
Também se contaram histórias. O EH contou esta, das muitas que sabe. Não resisto a partilhá-la convosco, temperada numa prosa um pouco mais longa.

Aparecem luzes, à noite, na zona dos Aldeões, na Cruz da Oles e na encosta para o Casal da Serra, desde há muitos anos. Já aqui demos notícia dos aparecimentos mais recentes. Na altura, falava-se em óvnis, faróis de carros de caçadores noturnos, agricultores a cuidar dos seus cultivos e até seres a sair de uma outra dimensão. A Gardunha dá para todos os gostos.

Há uma data de anos, antes de termos eletricidade, houve uma época em que apareciam muitas luzes à noite, nesta encosta da serra. Talvez tenha sido cerca de 1968, pois lembro-me de, por essa altura, as ficarmos a observar dos balcões das casas da Tapada, às vezes horas a fio, a ver quando é que desapareciam. E, enquanto o sono não nos vencia, ouvíamos histórias de almas penadas.
Depois da ceia, iam grupos de pessoas da vila pela estrada da Oles, na tentativa de descortinar o mistério. Um dia, a Menina Belinha, a Menina Russinha e a Maria Barqueira também quiseram tirar a coisa a limpo e meteram-se ao caminho, de braço dado, para melhor se ampararem no breu da noite.
Já iam chegando à Cruz da Oles e nada, só cansaço nas pernas, a arfar de calor. Desacorçoadas, a pensar em dar meia volta, avistaram finalmente uma luz em movimento, em direção a elas, a sair do pinhal. Agarraram-se mais umas às outras e a Maria Barqueira gritou:

“SE ÉS DEUS, APARECE! SE ÉS O DEMÓNIO, ARREBENTA!!!

Apareceu. Era um resineiro, de bicicleta, que regressava a casa, no fim de um longo dia de trabalho.

José Teodoro Prata

Um comentário:

José Teodoro Prata disse...

Acabo de melhorar este texto, que ontem publiquei, mas hoje achei muito pobre.
Há alturas em que não damos mesmo para tudo!