A
Felpuda perfilhou dois bacorinhos de dois meses. Dá-lhes de mamar e toma conta
deles como faz com os seus filhos, três cachorrinhos muito vivos e engraçados.
E
os cinco miúdos brincam juntos como se fossem todos cachorrinhos ou como se fossem
todos leitões. São cinco bebés autênticos.
A
Felpuda tomou conta dos bacorinhos no dia em que ficaram órfãos e nunca mais
deixou que ninguém lhes tocasse. Arreganha os dentes e as pessoas recuam,
assustadas. Considera-os seus próprios filhos.
Felpuda,
antes de ter os três cachorrinhos e de ser mãe adotiva dos dois leitões, ia muito
à caça com o seu dono e tinha arte para apanhar o seu coelhito ou levantar uma
perdiz.
Agora,
com os pequenos já crescidos, começou a pensar nesses belos tempos em que
percorria os matos com o dono, a farejar a caça e, como boa mãe, entende que
nenhum cão da sua raça deve deixar de saber caçar. Um dia disse-lhes:
-
Bem, meus filhos, é a altura de começarem a aprender a caçar! Amanhã vamos para
o mato e vou dar-vos a primeira lição.
E
foram. Os três cachorrinhos, muito ágeis, compreenderam logo a lição. Nas lições
seguintes fizeram grandes progressos e mostraram que haviam de seguir as
pisadas da mãe: serem bons caçadores.
Quanto
aos leitões, Felpuda não compreendia nada do que se passava com eles. Só
pensavam em fossar a terra e nada de repetirem as lições que ela lhes dava:
-
Vamos, meus filhos, cabeça baixa, uma pata no ar, quietos, é assim que se
espera a caça.
E
eles nada. Nada de repetirem o que ela lhes ensinava.
Ou
então:
-
Vá, toca a farejar, busquem, busquem por entre as moitas…
E
os leitõezinhos, nada! Muito rosados, muito lindos, mas sem jeito nenhum para
cães de caça!
Felpuda
vive muito desgostosa. Como é que dois dos seus filhos puderam dar naquilo?
-
É uma vergonha, é uma vergonha!
Mas
não perdeu a esperança e lá vai com eles todos os dias para o mato para os
ensinar a caçar.
Esta história chegou-me às mãos sem indicação de autor, nem de título do livro de onde foi extraída. Quem a escreveu, fê-lo a partir de uma notícia publicada no Diário de Notícias de 17 de abril de 1956.
Informava que o sr. João Teodoro dos Santos, residente numa quinta dos arredores de S. Vicente da Beira, tinha uma cadela que tomou dois leitões à sua guarda, os amamentava como se fossem seus filhos e os levava para os matos, com intenção de os ensinar a caçar.
João Teodoro dos Santos (1909-1995) viveu na Serra, acima dos Ribeiro de Dom Bento, ao lado das Lameiras. Por isso lhe chamávamos o ti João da Serra (ou Baloia). Na altura desta história, estava casado com Alzira Casimiro de Oliveira. Mais tarde enviuvou e voltou a casar, com a ti Delfina, que ainda vive na casa do topo da Rua da Cruz. O filho deste casal, o João, vive mais abaixo, na Rua do Convento.
José Teodoro Prata
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