quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Os leitões aprendem a caçar

A Felpuda perfilhou dois bacorinhos de dois meses. Dá-lhes de mamar e toma conta deles como faz com os seus filhos, três cachorrinhos muito vivos e engraçados.
E os cinco miúdos brincam juntos como se fossem todos cachorrinhos ou como se fossem todos leitões. São cinco bebés autênticos.
A Felpuda tomou conta dos bacorinhos no dia em que ficaram órfãos e nunca mais deixou que ninguém lhes tocasse. Arreganha os dentes e as pessoas recuam, assustadas. Considera-os seus próprios filhos.
Felpuda, antes de ter os três cachorrinhos e de ser mãe adotiva dos dois leitões, ia muito à caça com o seu dono e tinha arte para apanhar o seu coelhito ou levantar uma perdiz.
Agora, com os pequenos já crescidos, começou a pensar nesses belos tempos em que percorria os matos com o dono, a farejar a caça e, como boa mãe, entende que nenhum cão da sua raça deve deixar de saber caçar. Um dia disse-lhes:
- Bem, meus filhos, é a altura de começarem a aprender a caçar! Amanhã vamos para o mato e vou dar-vos a primeira lição.
E foram. Os três cachorrinhos, muito ágeis, compreenderam logo a lição. Nas lições seguintes fizeram grandes progressos e mostraram que haviam de seguir as pisadas da mãe: serem bons caçadores.
Quanto aos leitões, Felpuda não compreendia nada do que se passava com eles. Só pensavam em fossar a terra e nada de repetirem as lições que ela lhes dava:
- Vamos, meus filhos, cabeça baixa, uma pata no ar, quietos, é assim que se espera a caça.
E eles nada. Nada de repetirem o que ela lhes ensinava.
Ou então:
- Vá, toca a farejar, busquem, busquem por entre as moitas…
E os leitõezinhos, nada! Muito rosados, muito lindos, mas sem jeito nenhum para cães de caça!
Felpuda vive muito desgostosa. Como é que dois dos seus filhos puderam dar naquilo?
- É uma vergonha, é uma vergonha!
Mas não perdeu a esperança e lá vai com eles todos os dias para o mato para os ensinar a caçar.


Esta história chegou-me às mãos sem indicação de autor, nem de título do livro de onde foi extraída. Quem a escreveu, fê-lo a partir de uma notícia publicada no Diário de Notícias de 17 de abril de 1956.
Informava que o sr. João Teodoro dos Santos, residente numa quinta dos arredores de S. Vicente da Beira, tinha uma cadela que tomou dois leitões à sua guarda, os amamentava como se fossem seus filhos e os levava para os matos, com intenção de os ensinar a caçar.

João Teodoro dos Santos (1909-1995) viveu na Serra, acima dos Ribeiro de Dom Bento, ao lado das Lameiras. Por isso lhe chamávamos o ti João da Serra (ou Baloia). Na altura desta história, estava casado com Alzira Casimiro de Oliveira. Mais tarde enviuvou e voltou a casar, com a ti Delfina, que ainda vive na casa do topo da Rua da Cruz. O filho deste casal, o João, vive mais abaixo, na Rua do Convento.

José Teodoro Prata

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