Prólogo e fontes:
Antes de mais quero
alertar para o facto de serem usados bastantes regionalismos, neste texto, por
palavras ou expressões. Alguns, simplesmente, não existem nos dicionários, mas
são conhecidos e utilizados, sobretudo pelos mais velhos. Devem ser
interpretados segundo o sentido que lhes é dado no interior do país,
especialmente na Beira Baixa, o que às vezes é difícil, dada a sua
volatilidade, como acontece com todas as línguas, face ao passar das gerações.
Outro alerta é para a
circunstância de se usarem algumas alcunhas associadas a nomes de pessoas. As
alcunhas são muito frequentes em S. Vicente da Beira. Podem ser consideradas
ofensivas. Mas quando aqui se referem é no sentido carinhoso.
Esta
história foi-me contada pelo Ti’ Aurélio Moreira que este ano completa a bonita
idade de 94 anos e, à época, teria os seus 30. Mas contou-ma muito rápido, no
sítio do antigo Tronco, em três ou quatro penadas, portanto, com muito poucos
pormenores. Não houve tempo para mais.
Ele
próprio viveu alguns dos acontecimentos, sobretudo, da parte final da história,
in
loco. Mas nada sabia e, em boa verdade,
nada podia saber, sobre o que se passou na Tapada quando o Renegado chegou a
casa do Ti’ Zé Maria Prata, onde apenas se encontrava a esposa e os filhos
deste.
Nestas
condições e, como não pude contactar outras pessoas com conhecimentos da
realidade fáctica (e sei que as há), vi-me obrigado a ficcionar a maior parte
das cenas, das quais não tenho a mínima ideia de como terão sucedido. Mas o
fundo da história, esse, está lá.
Na
última parte da história há de o leitor inteirar-se, se quiser fazer o favor, do
fim das aventuras deste homem.
Segundo
reza a crónica da tradição oral, de que a fonte me deu fé, terminou assim a
vida do Renegado que assolou a região da Serra da Gardunha e com ele o mito
daquele que, na fantasia destas gentes, ficou conhecido como PISTOTIRA, de que
apenas aqui contamos uma aventura.
De
tal maneira esta história estava enraizada na população que, muitas vezes,
quando um homem da vila se dirigia a um miúdo, de alguma forma zombando um
pouco dele, lhe perguntava: «Então, ó Pistotira! O que é que andas a fazer»?
Há
outras histórias de outros Renegados da Gardunha, igualmente interessantes e
com mais ou menos riqueza de factos, drama humano e recheadas de romantismo de
que é sedento o nosso povo. Mas isso fica para depois.
Não
posso acabar, sem deixar de lamentar aquela cena que, essa, corresponderá a
factos reais que me foram contados, em concreto, pelo Ti’ Aurélio, em que
alguns dos da turba batiam no Pistotira.
É
certo que, dentro da cadeia, ele não se encontrava amarrado de pernas. Se
estava amarrado de mãos, não se sabe. Ou esse ponto não me foi esclarecido. Mas
sabe-se que era uma pequena multidão contra apenas um homem, sozinho, no meio
do ajuntamento e isso não tem desculpa.
O
que pode é haver alguma tolerância se atendermos à mentalidade da época, à
euforia do acontecimento e talvez aos efeitos do álcool que, eventualmente, não
deixaria de estar presente.
JB
Nota: O texto "O RENEGADO" será publicado em três fascículos, a partir de amanhã, sábado.
Nota: O texto "O RENEGADO" será publicado em três fascículos, a partir de amanhã, sábado.
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