Carta de fundação da igreja de São Vicente de Ocaia
Em nome da santa e individua Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Ámen.
Eu, rei Afonso, filho do conde Henrique, por graça de Deus e com muitos
trabalhos, libertei este reino dos inimigos de Cristo e o fiz retornar ao seio
da Santa Madre Igreja.
Pedem-me estes homens bons que ora recebo na minha corte a mercê de uma
Igreja e mais privilégios e isenções.
Vivem os ditos cristãos na encosta soalheira da serra da Ocaia e se
acostumavam refugiar no Castelo Velho, ao tempo da ocupação e das incursões
sarracenas. E, aquando da nossa reconquista daquelas terras, acudiram os ditos
cristãos em auxílio dos meus cavaleiros, na batalha que houveram na Oles, ao
fundo da dita serra e aonde a campina se começa a dilatar, e juntos lograram
levar de vencida os copiosos infiéis.
E os ditos cristãos têm na Orada o seu culto ao único Deus verdadeiro,
desde tempos imemoriais, e nunca esmoreceram o seu fervor a Deus e ao Santo
Mártir Vicente, mesmo sob o domínio dos infiéis sarracenos. E por todo o sempre
teve a dita ermida o seu presbítero, posto pelo bispo de Idanha. A qual Orada é
sita na raiz da serra da Ocaia, em lugar ermo, junto à estrada que passa a dita
serra.
E vivendo os ditos cristãos longe da Orada, dispersos por casais e
montes, mando que se crie uma Igreja no lugar onde mora o maior número deles,
meia légua abaixo da dita ermida, no vale da ribeira que dali desce para o
campo, a qual Igreja será sustentada pelas rendas a que a minha Majestade tem
direito neste lugar e termo. E terá a dita Igreja um clérigo de nomeação real.
E quero que a dita Igreja tenha como padroeiro o Mártir São Vicente,
cujo sagrado corpo porfiámos resgatar aos infiéis que inda dominam o
Promontório Sacro e trazer para esta minha cidade de Lisboa, o qual corpo ora
trasladamos da Igreja de Santa Justa para a Igreja da Sé, por ser esta de maior
dignidade.
E das santas relíquias entrego aos homens bons que me enviaram os ditos
cristãos da Ocaia o osso do queixo do dito Santo Mártir, a qual relíquia deve
ser venerada para todo o sempre na dita Igreja que ora mando que se crie.
E mais ordeno que os cristãos da dita Igreja de São Vicente lhe façam uma
festa todos os anos, no dia do seu culto, a vinte e dois de Janeiro de cada
ano, saindo o povo em procissão com a relíquia do Santo Mártir. E as despesas
corram pelo povo do lugar e seu termo.
E deve o dito lugar onde ora se edifica a dita Igreja tomar o nome de SãoVicente, para maior honra ao Santo Mártir e para que perdure por todo o sempre
o culto religioso que lhe é devido.
E mais ordeno que os moradores de São Vicente e seu termo vão todos os
anos ao Castelo Velho, para que não caiam no esquecimento os factos que nesta
carta se memoriam.
Feita na minha cidade de Lisboa, aos vinte e seis dias do mês de Setembro
da era de mil cento e setenta e três.
Rei Dom Afonso Henriques.
Notas:
Texto que serviu de base à recriação histórica que nos recordou os 840 anos da criação de São Vicente da Beira.
Texto que serviu de base à recriação histórica que nos recordou os 840 anos da criação de São Vicente da Beira.
A presença, na recriação, dos símbolos templários é uma adulteração histórica, pois São Vicente pertencia ao rei (integrávamos o território da Covilhã) e não aos Templárias, donos do território do Ocreza até ao Tejo. O seu uso deveu-se a não termos fatos e símbolos alternativos (foi melhor fazer assim do que não fazer nada).
Parabéns a todos os participantes e um obrigado especial ao Marlon, o ator que, com condições muito precárias, mobilizou a comunidade vicentina nesta recriação histórica. Foi bonito!
José Teodoro Prata
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