“Na primeira região da Beira Baixa
que conheci não havia ali à roda curandeiros: apenas um antigo servente
prestava serviços de enfermagem, sem consequências, aos seus clientes da
barbearia. Falava-se muito, porém, no «Endireita da Paradanta». Era um ferreiro
de dedos sensíveis e ágeis, que ajeitava com perícia ossos deslocados: os
doentes chegavam em carroças, tolhidos, e o homem despedia-os pelo seu pé.
Nenhum dos médicos da área conseguiu jamais gabar-se de ter observado uma
fractura. Acontecia chegarem doentes ao hospital de Castelo Branco, resolvidos
a correr o risco de uma assistência encartada, e aparecer um desconhecido
amável, aconselhando uma retirada pela estrada da Paradanta. Às vezes eram
agentes de motoristas, a quem convinha o frete rendoso.”
Fernando
Namora, Retalhos da vida de um médico, Primeira Série, Publicações
Europa-América, 26.ª edição, Lisboa, 2000, pp. 126 e 127 (subcapítulo VI – Mais
Curandeiros).
Nota:
O médico Fernando Namora trabalhou na região de Castelo Branco (Tinalhas e C. Branco)
e em Monsanto, na década de 1950. Da sua passagem por Tinalhas escreveu “A Casa
da Malta”, uma casa em que se abrigavam os viajantes e que se situava onde
atualmente existe o Café Ginja, junto à Igreja. Neste texto, Fernando Namora parece referir-se ao período em que trabalhou em Tinalhas.
2 comentários:
Ainda existem familiares deste senhor na Paradanta.Estive a falar com um deles hà pouco tempo que me contou algumas situações em que se demonstra o seu caracter forte do qual eu já tinha ouvido falar.
Este senhor era meu tio avô e chamava-se João. Teve uma única filha, já falecida e três netos que vivem nas proximidades. Não era ferreiro e, sim, tinha um carácter muito vincado.
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