À saída da cidade já se via a Gardunha: chuva só no lado este, de Alpedrinha ao cume, mas a parte oeste prometia bom tempo. Estranho, a
chuva costuma vir do lado do mar e era ao contrário! Sobre São Vicente, o nevoeiro dos
restos da chuva que caía sobre o cume da serra. Se estivesse a chover, era
pouca.
Chão molhado só até à Póvoa, mais para diante ainda
não chovera. Na zona da barragem começou a carujar. Mau, tenho o dia estragado.
E a carujar continuou até chegar. Esperei no carro. Nem chovia em condições,
nem parava de cair. Fui inspecionar e a rama das oliveiras ainda estava pouco
molhada. Esperei mais um pouco e avancei. Uns minutos depois deixou de cair.
Continuei, sempre à espera de ter de deixar o trabalho a qualquer momento. As
nuvens mudaram as ameaças do Casal da Serra para o
Casal da Fraga.
Depois abriu e veio o sol. A seguir limpou e a meio da
manhã foi primavera durante meia hora. O vento voltou, mas fraco e aquecido
pelo sol. O almoço comi-o na companhia de um pisco, sempre a piar baixinho (não tem corpo para mais) e a saltitar pelos matos.
Escurece cedo no Ribeiro de Dom Bento, sobretudo no
buraco onde tenho a horta, ainda por cima tapado pelo pinhal do senhor Gomes. A
partir das três horas da tarde, deixou de se ver o sol e fui colher a oliveira galega rente ao ribeiro. Azar: azeitona miudinha, engelada e agarrada! Só de lá saí
perto das cinco, já quase noite. Ficou por colher a oliveira carrascanha e a cordovil.
Esta fica a corar mais um pouco, para a talha, e a carrascanha talvez a deixe
para os pássaros.
Um comentário:
É verdade que quem se deixou para o fim de semana para começar a colher a azeitona, apanhou alguma chuva e muito frio!...
Eu tive mais sorte com o tempo porque a colhi durante a semana, aproveitando o verão de S. Martinho que este ano foi generoso. Mas, encavalitada no cimo da escada, dei comigo a pensar que já nada é como dantes. Onde é que já se viu andar na azeitona sozinha, de manga curta e a ouvir música rock (a música vinha da casa duma vizinha)? Azeitona como deve ser é com muita gente, muito frio, uma fogueira e o garrafão ao pé para aquecer as mãos e as almas arreganhadas e no ar, ao desafio, as cantigas próprias da época. Senti alguma saudade, não do tempo, mas das pessoas e dos rituais…
Mas parece que a azeitona este ano está boa! Pelo menos não caiu tanta para o chão, bichosa, como nos últimos anos… Vamos lá a ver se também funde bem…
M. L. Ferreira
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