quarta-feira, 30 de abril de 2014

Festas e romarias

O salto que ficou para trás…
«A Romaria da Senhora do Castelo tinha fama em toda a província, embora ninguém pudesse dizer verdadeiramente que prendas lhe afiançavam a reputação. Não se contratavam mais de duas bandas, o que era vulgar, pois uma banda, sem ter outra pela frente, logo o sopro lhe desfalece com uma hora de reportório, e vinho, chouriço, cantigas, danças de roda e adufes, se os havia à farta em Montalvo, também nunca escasseavam em qualquer arraial da beira estremenha.
Talvez o segredo estivesse na quadra do ano, quando o trigo é um ondular luxurioso em redor do ilhéu sobre que assenta o burgo, e há giestas a bordearem os caminhos, e os calores, mesmo com o sol berrando, ainda são macios. Talvez as pessoas se empolgassem com o uso de se evocar o lance histórico, muito diluído no tempo, em que, sitiadas as muralhas, os aldeões, já à beira da rendição, haviam engordado o último vitelo com o último alqueire de cereal, lançando-o depois sobre as ameias, num alarde de abundância que desenganaria o inimigo, levando-o a desistir do cerco. (Em lugar do vitelo, fazia-se rolar da mais alta torre um bojudo pote de barro com as entranhas prenhes de flores, que se despedaçava contra as arestas das penadias, num fragor exaltante, logo secundado pelo estrondo dos morteiros, pela gritaria dos ganapos e pelo excitado batuque dos adufes.) Talvez, enfim, a tradicional presença das autoridades da vila, de papo enfolado, quando não mesmo dos maiorais da cidade e do comando da guarnição militar, crivadinho de medalhas, como competia a um sucessor dos heróis do castelo, dessem à romaria, por entre aquela trovoada de galas, um lustre sempre de cobiçar.
Era caso para admiração que essa gente graúda se misturasse assim em tal balbúrdia labrega, mas o certo é que eles vinham, vinham com a saboreada ironia de peraltas numa feira de saltimbancos, embora lhes fosse incómodo trepar as ruelas quase a pino, abrir clareiras por entre cordas de camponeses vestidos de serrobeco da cor da terra quando alqueivada nas primeiras águas, até se chegar lá ao cimo, onde o ar se limpava da poeira revolvida e do farum a suor e a fogaças. Vinham, pois, com uns modos de fidalga benignidade, compensando a maçada pelo ensejo de evidenciarem a sua importância, que era feita de nadas significativos como a saudação quase muda, mas impositiva dos vilões­­­ – o chapéu erguido o tempo preciso até a retribuírem nem que fosse com um aceno enjoado, enquanto as mulheres sofreavam a traquinice dos fedelhos e lhes davam o exemplo de silêncio reverencioso, no qual se incutia um vago temor.»
Fernando Namora: Resposta a Matilde (O Rio)

Fui lá pela primeira vez, teria uns treze ou catorze anos. Naquele tempo subia-se a pé, desde a Relva até lá acima, ao castelo. As ruas, quase a pino, eram ainda um empedrado feito de calhaus irregulares e traiçoeiros; mas as pessoas, muitas a cantar ou a tocar adufe, outras com os cabazes da merenda à cabeça ou às costas, eram como formigas, com pressa, por ali acima.
Em dias de festa cada um trajava o que tinha de melhor. Não me lembro do vestido que levava, mas os sapatos eram pretos, biqueira quadrada, meio salto. Os melhores que tinha (se calhar os únicos…).
Ainda não ia a metade do caminho e um dos saltos prendeu-se numa pedra e soltou-se. Fiquei tão aflita que até me deu vontade chorar! Não tanto por não saber como é que ia chegar lá acima, a mancar, mas mais pela vergonha e medo que alguém tivesse visto. Olhei á volta, à socapa, e baixei-me para apanhar o salto, às escondidas. Quando me pus de pé estava um homem parado à minha frente, a olhar para mim. Destoava da maior parte de nós, gente da aldeia, pelo ar e pelo fato, à moda da cidade. Fiz-me de todas as cores, mas ele pousou-me a mão no ombro, fixou-me o olhar e, quase em surdina, disse-me assim: «Pois é, menina; na vida de uma pessoa há sempre um salto que fica para trás!...».
Fiquei a cismar nas palavras e também naquela cara que não me era estranha. Só à noite, já na terra, é que deslindei o caso. Era o homem do retrato na capa do livro que andava a ler. Chamava-se A Casa da Malta e tinha-o requisitado da última vez que a Biblioteca da Gulbenkian tinha estado na Praça. Quanto às palavras, são para ir deslindando ao longo do tempo. A vida é mesmo assim: cheia de avanços e recuos, mas se calhar é por isso que gostamos tanto dela!...

M. L. Ferreira

Nota:
Encontrei há dias, no Google, uma página sobre festas e romarias de todo o país. Fiquei um pouco desiludida porque na lista do distrito de Castelo Branco não há qualquer referência nem à Senhora da Orada, nem à festa do Senhor Santo Cristo, tão importantes para nós. Encontrei depois uma lista do concelho onde já são referidas, mas ainda diz que a festa do Santo Cristo se realiza na terceira segunda feira de Setembro. Há que tempos que isso foi! Nem sei se já havia internet…


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Óbitos, 1803

ÓBITOS
Registos Paroquiais de São Vicente da Beira
1803
- 1803: 56 Batismos e 47 óbitos. Saldo fisiológico: +9 (1802: +8; 1801: -5; 1800: -2). Nada mau! Lentamente, a população vai aumentando. Este ano de 1803 parecia ainda mais promissor, mas o outono foi altamente mortífero para as crianças.
- Uma tragédia no Tripeiro: uma menina de 12 anos morreu afogada na ribeira, em junho (n.º 14).
- O meu parente Jeronimo Duarte batizou uma filha em janeiro, mas foi a sepultar em outubro (n.º 29). Também faleceram dois dos homens mais importantes da freguesia, na segunda metade do século anterior: o Sargento-Mor Joze Duarte Ribeiro (n.º 8) e o Capitão-Mor Francisco Caldeira (n.º 33). Lembra-te homem que és pó…
- Pela primeira vez, salvo erro, desde que iniciei a publicação destas listagens, a Igreja registou bebés falecidos à nascença, ainda sem nome: números 17, 18 e 30. O registo deste último dá-nos uma informação histórica de alguma importância: Gonçallo Caldeira, filho do Capitão-Mor Francisco Caldeira e pai do 1.º visconde da Borralha, vivia em São Vicente, neste ano de 1803. Pela documentação referente às Invasões Francesas, sabemos que, em 1807-12, os seus bens eram geridos pelo feitor Berardo Joze Leal, pelo que já não viveria na Vila.
- Faleceram dois menores enjeitados, já a viver em casa das amas: números 24 e 28. Se a sobrevivência era difícil em família, muito mais custoso seria sobreviver na situação de enjeitado.

1
Izabel Jorge (solteira)
Naturalidade: Violeiro
Família: não referida (conclui-se que seria adulta)
Data: 21/01/1803

2
Joaõ (menor)
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: filho de Joaõ de Oliveira e Anna de Oliveira
Data: 31/01/1803

3
Maria (menor)
Naturalidade: Partida
Família: filha de Joze Martins e Maria Roza
Data: 02/02/1803

4
Mathias Joze Henriques
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: não referida
Data: 10/02/1803

5
Luzia Roiz (viúva)
Naturalidade: Tripeiro
Família: não referida
Data: 14/02/1803
Nota: fez testamento

6
Jozefa Teodora
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: casada com Manoel de Barros
Data: 23/03/1803

7
Domingas Tereza (solteira)
Naturalidade: não referida
Família: não referida
Data: 31/03/1803

8
Joze Duarte Ribeiro (Sargento-Mor, viúvo)
Naturalidade: Casal da Serra
Família: não referida (por outras fontes, sabemos ter sido casado com Catharina Pires)
Data: 03/05/1803

9
Manoel Antunes do Balcam
Naturalidade: Partida
Família: casado com Maria Martins
Data: 21/05/1803

10
Maria (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filha de Joze Lourenço, soldado, e de Joana Leitoa
Data: 22/05/1803

11
Joze Leitaõ
Naturalidade:
Família: viúvo de Ignes Faustina
Data: 31/05/1803

12
Maria Faustina
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: viúva de Thome Lopes
Data: 17/06/1803

13
Joaõ Rodrigues Frances (solteiro)
Naturalidade: Violeiro
Família: não referida
Data: 21/06/1803

14
Escolastica (menor de 12 anos)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filha de Manoel Lourenço e Escolastica Maria
Data: 30/06/1803
Nota: faleceu sem sacramentos, por se ter afogado na ribeira

15
Genoveva (menina)
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: filha de Joze Alves e Ana Faustina
Data: 30/07/1803

16
Brizida (solteira)
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: filha de Manoel da Trindade e de Rosaura Maria
Data: 31/07/1803

17
Um menino sem nome
Naturalidade: Mourelo
Família: filho de Manoel Rodrigues e Anna Leitoa
Data: 01/08/1803
Nota: nasceu e faleceu no mesmo dia

18
Uma menina sem nome
Naturalidade: Mourelo
Família: filha de Joze Luis e Maria Gama
Data: 02/08/1803
Nota: nasceu e faleceu no mesmo dia

19
Izabel Gonsalves (solteira)
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: não referida
Data: 05/08/1803

20
Gregoria Francisca (viúva)
Naturalidade: Partida
Família: não referida
Data: 05/08/1803

21
Maria (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filha de Francisco Joze Lourenço e Maria Sebastiana
Data: 19/08/1803

22
Maria Gama
Naturalidade: Mourelo
Família: casada com Joze Luis
Data: 24/08/1803

23
Delfina (menor)
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: filha de Antonio da Costa e Antonia Maria
Data: 28/08/1803

24
Domingos (menor)
Naturalidade: desconhecida
Família: desconhecida
Data: 06/09/1803
Nota: enjeitado, dado a criar à ama Custodia Maria, da Paradanta

25
Izabel Rodrigues (viúva)
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: não referida
Data: 07/09/1803

26
Izabel Fernandes (viúva)
Naturalidade: Paradanta (Peradanta)
Família: não referida
Data: 17/09/1803

27
Manoel Leitaõ da Roza
Naturalidade: Paradanta
Família: casado com Maria Rodrigues
Data: 13/10/1803

28
Maria (menor)
Naturalidade: desconhecida
Família: desconhecida
Data: 13/10/1803
Nota: enjeitada, dada a criar a Anna Izabel Venancia, mulher de Francisco Rodrigues, da Partida

29
Jeronimo Duarte
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: casado com Maria Antonia
Data: 15/10/1803

30
Um menino menor
Naturalidade: São Vicente da Beira
Família: filho de Gonçallo Caldeira e de sua mulher Dona Jozefa Margarida Pinto
Data: 15/10/1803
Nota: nasceu, foi batizado logo e faleceu

31
Francisco (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filho de Manoel Antunes e Maria Rodrigues
Data: 16/10/1803

32
Roza (menor)
Naturalidade: Paradanta
Família: Domingos Rodrigues e Custodia Maria
Data: 19/10/1803

33
Francisco Caldeira (Capitão-Mor)
Naturalidade: não referida (por outras fontes, sabemos ser da Sertã)
Família: não referida (por outras fontes, sabemos ter sido casado com Dona Ignes Caetana)
Data: 19/10/1803
Nota: foi sepultado em sepultura própria e não da Igreja, como toda a gente.

34
Jozefa (menor)
Naturalidade: Partida
Família: filha de Joze Martins e Maria Roza
Data: 21/10/1803

35
Jozefa (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filha de Manoel Antunes e Maria Rodrigues
Data: 23/10/1803

36
Martinho (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filho de Faustino Lourenço, viúvo
Data: 02/11/1803

37
Christina (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filha de Manoel Lourenço e Escolastica Maria
Data: 02/11/1803

38
Jozefa (menor)
Naturalidade: Partida
Família: filha de Francisco Alves e Maria Leitoa
Data: 07/11/1803

39
Francisco (menor)
Naturalidade: Tripeiro
Família: filho de Francisco Joze e Maria Baranda
Data: 10/11/1803

40
Barbara (menor)
Naturalidade: Partida
Família: Rodrigo Duarte e Maria Venancia
Data: 10/11/1803

41
Joaõ
Naturalidade: Partida
Família: filho de Joze Vicente e Inocencia Martins
Data: 01/12/1803

42
Joze (menor)
Naturalidade: Partida
Família: Domingos Rodrigues e Maria Francisca
Data: 02/12/1803

43
Maria (menor de 12 anos)
Naturalidade: Tripeiro (Terpeiro)
Família: filha de Manoel Fernandes Ramalhozo e Maria Mendes
Data: 05/12/1803

44
Maria (menor)
Naturalidade: Pereiros
Família: filha de Joze Martins Marceliano e Jozefa Leitoa
Data: 06/12/1803

45
Maria (menor)
Naturalidade: Paradanta
Família: filha de Domingos Rodrigues e de Custodia Maria
Data: 08/12/1803

46
Catherina Duarte
Naturalidade: Sobral do Campo
Família: mulher de Joam Barbalhos
Data: 15/12/1803

47
Jozefa (menor)
Naturalidade: Partida
Família: filha de Manoel Fernandes e Maria Martins
Data: 24/12/1803

José Teodoro Prata

sexta-feira, 25 de abril de 2014

ABRIL, 25

Santarém, 25 de abril de 2014
Estátua de Salgueiro Maia

José Barroso



Liberdade, igualdade e fraternidade
Está cá tudo, os ideias da Revolução Francesa, há mais de 200 anos, na base dos quais se construiu a atual Europa.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 24 de abril de 2014

ABRIL - O recruta

Não sendo eu um participante ativo na Revolução de Abril, pois como disse entrei para a tropa no dia 24 de Abril de 1974, aí vão umas coisinhas que me aconteceram nesses primeiros dias. É pouco, mas é de boa vontade:

Cheguei ao quartel do Regimento de Infantaria nº 7, em Leiria, no dia 24.
Se já viste um boi a olhar para um palácio assim era eu. Era eu e mais quinhentos que não faziam a mínima ideia do que estava para acontecer na noite seguinte.  Nesse dia recebemos o fardamento, a roupa de cama, o armário e a cama.
No dia 25 de Abril de manhã, estranhámos que não nos viessem despertar, pois já não era cedo. Um colega que tinha um rádio minúsculo (para ouvir a bola), disse-nos que estava a haver uma revolução. Na altura, achei que aquilo não era nada comigo. Soube mais tarde que durante toda a noite e parte desse dia tínhamos sido o alvo dos canhões do Regimento de Artilharia n.º 4 sediado no castelo do outro lado da cidade de Leiria e cuja guarnição era a favor do Marcelo Caetano!
"Nós" éramos contra!!!
Tivemos sorte, porque as bocas de fogo nunca chegaram a disparar, senão este vosso herói talvez não estivesse aqui para contar.

Durante esse dia 25 não saímos do quartel (talvez tivessem medo que nós matássemos alguém errado) e assim foi até ao dia 30. Víamos movimentações de tropas, víamos as notícias da T.V. e era só.

No dia 30 de Abril fui para Lisboa!! Fiquei em casa do meu Tio Joaquim Caio, o Assobiador do Chico  Barroso. No dia 1 de Maio, saímos os dois para a rua a ver as manifestações. Lisboa estava em festa. Nunca vou esquecer.
Nesse dia também vi uma coisa estranha:  Gente do Povo revoltada  a perseguir e prender certas pessoas.
Disse-me o meu Tio que essas pessoas eram pides.

E.H.

Um dia, o Ernesto, vindo lá da revolução, ensinou-me a mim e a outros uma canção do Zeca que não conhecíamos.


  José Teodoro Prata

quarta-feira, 23 de abril de 2014

ABRIL sem prisões

Rebentem-se as correntes
Cortem-se os grilhões
Cortem-se ao agrilhetado
Liberte-se o amarrado
Abram-se as prisões
Nunca te deixes amarrar
Luta pela liberdade
Não calquem tua vontade
Nunca te deixes agrilhetar
O mundo do capital
Traz miséria. traz fome
Tanta gente que não come
Mesmo que morram não faz mal
Fora com a servidão
Fora com o capitalismo selvagem
Fora com esta sacanagem
Rebentemos o grilhão
Querem novamente a criadagem
Estes senhores sem coração
Tratam o povo abaixo de cão
Rebente-se com o agrilhoamento
A liberdade é uma condição
Não a podemos perder
Então que devemos fazer...
Guardá-la com amor e paixão
Somos livres, gritemos
Tu e eu somos irmãos
Povos da terra demos as mãos
É isto que nós queremos
Para a lixeira a sujeição
A liberdade seja respeitada
Que nunca nos seja tirada
Rebente-se com o grilhão
A minha liberdade deve terminar
Quando piso o meu semelhante
Passo a ser um praticante 
Que só penso em dominar
Não nos deixemos amarrar
Pela fome, dominação e pela guerra
Haja paz em toda a terra
Alegria, saúde e pão em todo o lar

                  Zé da Villa



Este poema foi escrito por José Afonso, em 1973, na prisão de Caxias.

José Teodoro Prata

terça-feira, 22 de abril de 2014

ABRIL, Sempre

Primavera de Abril

Manhã radiosa
Manhã florida, maravilhosa
Manhã esperançosa
Manhã libertadora
Manhã criadora
Manhã salvadora
Manhã sem grilhetas
Manhã de festa...
Manhã sem tretas 
Manhã como tantas outras de Abril
De repente...Aqui comando da revolução
Sai a tropa para o regime derrubar
A caminho da capital, mais de mil
Soldados equipados com armas na mão
Há muito que tinha morrido Salazar
Governava Marcelo, mais liberal e menos vil
O povo com alegria chorava
O povo com alegria cantava
O povo com alegria se abraçava
O povo unido dançava
O povo unido mandava
O povo unido rezava
O povo saiu à rua, somos livres

Todo Portugal gritava; liberdade, liberdade
Em uníssono...nunca pode ser vencido
Quarenta e sete anos de fascismo e ditadura
Chegou ao fim a opressão à aldeia, vila ou cidade
Alegria, queremos o fim das guerras, o povo unido
E os militares com alegria, coragem e lisura
Derrubaram o governo, grande alegria e amizade
Começou a haver mais igualdade
Caiu a tirania a ditadura, entrou a democracia
Terminavam e caiam as grilhetas da opressão
Criava-se o associativismo e a fraternidade
Nascia uma nova esperança, um novo dia
Grândola vila morena foi a senha, a canção
E o povo gritava; liberdade, amizade
Foi um dia importante para Portugal
Graças ao capitão patriota e libertador
Maia era o seu nome, militar bom e honrado
Depois de morto transformaram-te em herói nacional
Homem corajoso, libertou-nos do tirano do opressor
Destemido, que saudades do bom soldado
Dialogante, nunca quis sangue, nem fazer mal
Otelo, Spínola, Vasco, Soares ou Cunhal
Azevedo, Gomes e tantos outros libertadores
Soldados e capitães, homens valentes e corajosos
Em democracia começaram a governar Portugal
Livrando-nos dos antigos ditadores e opressores
Gente de fibra, patriotas, democratas valorosos
Abril sempre...aqui ou em qualquer outro local
                 Zé da Villa

José Teodoro Prata

segunda-feira, 21 de abril de 2014

ABRIL - Guerra Colonial


José Teodoro Prata


COMBATENTES

Combatentes do Ultramar,
Como é repugnante
Vós sois maltratados e
Esquecidos por toda a gente.

Vós que deixastes vossas famílias,
Para interesses defender,
Cumpristes vossas promessas,
Pensando que era vosso dever.

Para defender a nossa Pátria,
E que te fez ela afinal?
Alguém se esquece,
Do que é defender Portugal.

Como foi tão triste,
Quando o navio navegou.
Quantas foram as tristezas,
Que o pobre soldado marcou.

Olhávamos com tristeza
E com olhos a chorar:
Será que eu volto,
Para a minha família abraçar?

Só quem por isto passou,
É que pode avaliar.
Quanta era a tristeza,
Quando fomos para o Ultramar.

Tantos foram os colegas,
Que nós vimos a tombar.
Quantas foram as lágrimas,
Que nos fizeram derramar.

Nós não íamos com intenção,
De outros ir matar.
Mas para nós não morrermos,
Infelizmente tínhamos de os matar.

Para que serviu tudo isto?
Nunca cheguei a compreender.
Talvez com esta guerra,
Bolsos se viessem a encher.

Para terminar esta desabafo,
Uma coisa quero dizer:
Deram uma migalha ao combatente,
Mas que não veio a prevalecer.

Qual foi o meu espanto,
Quando vim a verificar,
Que já não eram 150 euros,
Que ao combatente estavam a dar.

Reduziram 50 euros,
Com desculpa tão mordaz.
Não dá para compreender.
Senhores políticos, isto não se faz.

Esta importância simbólica,
É apenas anual.
Os políticos actuais,
Esquecem quem luta por Portugal.
  
José Bernardino

   
Nota: José Afonso trabalhou em Moçambique, como professor.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Boas Festas

Em meados dos anos oitenta do século passado a nossa Vila andava num borborinho.
Tudo tinha a ver com o contencioso entre o nosso Padre Branco e uma parte significativa  do povo de São Vicente, assunto de que já falei anteriormente. Quero esclarecer que nada me move contra o Digníssimo Senhor. Continuo a achar que o respeito é uma coisa muito linda.

Naquele tempo chegou-se ao ponto de dizer:
“O que falta em São Vicente
É mesmo um Padre novo
Um que em vez de engenharias
Ensine a doutrina ao Povo”

Numa atitude de reparo à maneira como o nosso Padre conduzia os atos religiosos, a nosso ver, muito mal, saiu no “ O Vicentino “ nº 11  de Maio/Junho de 1986 o seguinte “IN ILLO TEMPORE”:

«A paróquia de S. Vicente da Beira anda agitadíssima. 
Estamos na Semana Santa e todos os paroquianos se preparam para assistir e participar no maior fenómeno religioso do ano. É sempre assim em S. Vicente da Beira.
Já passou o Domingo de Ramos. Foi um dia de muita alegria. A Igreja estava apinhada de fiéis com os seus ramos de oliveira e loureiro, mais parecendo uma floresta cerrada onde era difícil romper.
Estamos em Quinta-Feira Santa. Já se realizou a cerimónia do Lava-Pés. A Igreja estava à cunha e os Doze Apóstolos muito compenetrados no seu piedoso papel.
Todos se retiraram para comer qualquer coisa e regressar para a procissão do “ECCE HOMO”.
Quem passar pela Praça neste intervalo de tempo notará a grande quantidade de pessoas que, vindo de longe, das anexas e outras terras em redor,  ali se encontram para participar nas cerimónias. Gente de muita fé.
A procissão começou. Longas filas de gente silenciosa peregrinam pelas ruas em adoração ao Senhor sofredor.
De vez em quando uma matrácula, uma ladainha, uma marcha triste; além disso só o silêncio, a oração.
Todos se preparam para o grande dia: A Sexta-Feira Santa. Já se trocam ideias de como melhor decorar o seu Paço, onde estão as flores mais bonitas, onde está o confessor que livre os atrasados das suas culpas.
Sexta-Feira Santa será um dia triste mas também o dia em que São Vicente mostrará mais uma vez ao mundo como o seu povo é profundamente religioso. Os capuzes negros, as bandeiras deitadas, as longas procissões o grande respeito, a oração; São Vicente é um povo de grande religiosidade.
No próximo Domingo será Domingo de Páscoa. Haverá missa na Igreja às 10 horas e depois a procissão com o Sírio Pascal. A seguir o almoço: um almoço para tirar a barriga de misérias; foram muitos dias de jejum. Depois começará a cerimónia que é o coroar desta Semana Santa: As Boas Festas.
O Senhor Vigário irá entrar em todas as casas de São Vicente. Levará a todos o Senhor. Levará a todos também uma palavra de conforto, de fé, de amizade, de Paz.»

Semana Santa dos anos cinquenta em S. Vicente da Beira.


E.H.