Quando eu era pequenito passava muito tempo na loja do Sr. António
Maria, só pelo prazer de o ver trabalhar. O Ti Antonho Maria era, além de
sapateiro (um bom sapateiro), o sacristão da nossa terra.
Tinha o costume de dar “boliscos” aos cachopitos e a mim alguns me deu. A filha, a Sra. Zezita herdou-lhe o hábito!
Durante
muitos anos, foi ele que me fez o calçado. Ao princípio, eram as botas
grossas com solas de pneu e as sandálias, mais tarde, já vaidoseco,
pedia-lhe e ele fazia-me bonitos botins cardados. Um luxo!
Acompanhava-o
muitas vezes à torre para o ver tocar os sinos. Aí também ele era um
mestre. Às vezes, quando ele não podia, pedia ao meu pai e o meu pai lá
ia mas, apesar de se desenrascar razoavelmente, não se comparava com a
perfeição do Ti Antonho Maria e, o hábito era tão grande que nós
sabíamos logo quando não era ele a tocar.
Uma vez, depois de
ter tocado a finados, alguém lhe perguntou cá em baixo quem é que tinha
morrido: "Não foi ninguém, foi um charneco!" Respondeu ele. Outros
tempos.
Também era ele que tratava da manutenção do relógio da torre. Dava-lhe corda, acertava-o e oleava-o com todo o carinho.
Era
tão lindo aquele relógio! Ainda tive o prazer de tratar dele quando o
Ti Antonho já não tinha força para lhe dar corda. Era um bom homem e um
bom amigo. Que Deus o lá tenha em bom lugar.
Quando os meus
filhos nasceram, levei-os ao colo à torre à hora do meio dia para eles
ouvirem e sentirem de perto o toque das Ave-Marias. Era também uma
homenagem ao Senhor António Maria.
E.H.
2 comentários:
Era um homem muito respeitado!
Sobre o desprezo dos pobres de São Vicente pelos pobres da Charneca, tentando imitar a elite local que desprezava ambos, já aqui escrevi.
Subi muitas vezes à torre da igreja com o meu pai António durante muitos anos foi ele o cuidador do velhinho relógio que possuia dois grandes pesos de pedra cilindricos que se situavam no interior da torre e que estavam ligados ao maquinismo por grossas cordas, um grande pendulo
(pendulava) tique...taque... de vez em quando era necessário puxar por uma manivela ligada a grandes rodas dentadas que os içavam.A pouco e pouco iam descendo...
Para se subir à torre havia e ainda existe uma porta, era por essa porta que o meu pai entrava, porque o velhinho relógio era propriedade da Junta de Freguesia e aquela era a porta do relógio. Já agora; sabiam que todas as horas ferem e a última mata?
J.M.S
Postar um comentário