domingo, 28 de setembro de 2014

Séc. XIX: causas de morte

A obra A População Portuguesa no século XIX, de Teresa Rodrigues Veiga, editada pelas Edições Afrontamento e publicada online, ajuda-nos a entender os dados referentes aos óbitos, que temos vindo a publicar.

Principais causas da morte da população por grupos de idade
«…na infância as doenças mais mortíferas eram de tipo epidémico, com destaque para o sarampo, a escarlatina, a tosse convulsa e as bexigas. Outros óbitos eram provocados por anginas, escrófulas e hidropisias cerebrais. Ultrapassada essa fase perigosa, reduzia-se o leque de doenças letais. As mais vulgares passavam então a ser as febres tifóides, as dores de peito e as inflamações agudas em órgãos diversos, e no caso feminino por altura do parto. A passagem dos anos fazia crescer o perigo de morte devido a hidropisias, apoplexias, cancros e inflamações de vário tipo. No princípio e no fim da vida, a maior percentagem de óbitos estava ligada a complicações nos aparelhos nervoso e respiratório, vendo este último aumentar a sua influência relativa ao longo do século.»

SÍNTESE

1 ANO: Debilidade, Inflamação das entranhas, Disenteria, Bexigas, Edema dos recém-nascidos e Convulsões
1 a 3 ANOS: Tosse convulsa e Sarampo
3 a 10 ANOS: Hidropsia do cérebro, Anginas e Escarlatina
10 a 20 ANOS: Doenças escrofulosas
20 a 40 ANOS: Febre tifóide, Tubérculo e Acidentes
40 a 50 ANOS: Doenças tuberculosas e Acidentes
50 a 60 ANOS: Febre cerebral, Hemorragias fulminantes e Cancro
60 a 70 ANOS: Hemorragias fulminantes Hidropsias e Cancro
70 a 80 ANOS: Mortes súbitas, Apoplexias e Inflamações agudas e crónicas
80 a 90 ANOS: Cansaço dos órgãos
90 a 100 ANOS: Velhice 
(Páginas 103 e 104)

José Teodoro Prata

Um comentário:

Anônimo disse...

Entre os óbitos do ano de 1806, podemos ver que quase metade são menores ou pessoas muito jovens que ainda não teriam atingido a idade de casar (a família, em vez do cônjuge, ainda são os pais). Daí que, apesar do elevado número de nascimentos, houvesse tão poucos casamentos por aquela altura.
Quanto ao estudo de Teresa Rodrigues Veiga, não são novidade as causas de morte mais comuns que aponta para as diferentes faixas etárias. Felizmente que o investimento num plano nacional de vacinação infantil e a melhoria das condições de vida das pessoas, ajudaram a diminuir a prevalência e os efeitos de muitas doenças comuns até há relativamente pouco tempo. É notável o fenómeno da diminuição da mortalidade infantil, da morte de mulheres durante o parto e de casos de tuberculose em crianças e adultos.
Já na idade adulta, o cancro e os AVCs, mesmo que não matem, continuam a ser dois dos grandes responsáveis pela diminuição da qualidade de vida de muita gente.
A partir dos oitenta anos, é natural que os órgãos comecem a ficar cansados e sujeitos a insuficiências de toda a ordem. Mas o pior é quando o cérebro se antecipa aos outros órgãos e as demências retiram às pessoas a capacidade de decidir das suas vidas, mesmo nas situações mais banais.
Uma das grandes inquietações do nosso tempo deve ser a resposta à pergunta: Será que viver sem a dignidade que a lucidez nos confere, vale a pena? A religião, a moral e a ética que se entendam, mas, cá por mim, gostava de lá não chegar…

M. L. Ferreira