domingo, 7 de dezembro de 2014

Outono

José Teodoro Prata



OUTONO

Folhas caídas
Amarelecidas
Ventania
Chuva miudinha
Geadas
Castanhas assadas
Magustos
Jeropiga
Alqueivar
Semear
Tempo de descansar
Tempo de meditação
Tempo contemplação
Tempo de finados
Onde se recordam antepassados
Decadência
Sonolência
Para na primavera tudo voltar
A renascer, medrar
A vida ressuscitar
Reviver, renovar
Reproduzir, rebentar
Ressurgir e acordar
Outono…
Árvores despidas
Mágoas carpidas
Lágrimas fingidas
Campo silencioso
Caçador orgulhoso
Lareiras, fogueiras
Adegas, bebedeiras
Oliveiras,
Castanhas, romãs, um santorinho…
Ponha aqui no saquinho
Que Deus lhe pague, obrigadinho
Pelo seu pai que foi um santinho
Tiborna, bacalhau, azeite e vinho
Outono, tua ventura
Inspira tanta pintura
No aconchego do lar
Quero contemplar
As noites frias de luar
Preparando-se para nevar
Que pura e fria
É a neve que caiu todo o dia
Aproxima-se o Nascimento
Lá fora o vento
Ruge fortemente
Vejo um velhinho a dar ao dente
E uma criança sorridente
Vejo da minha lareira quente
Um pardal com seu piar dolente
Saltita na neve e desconfiadamente
Pia, pia o pardalito
Deve ter frio o coitadito
E eu na minha lareira
Meto mais lenha na  fogueira
Que vai ardendo lentamente
Enquanto se dá ao dente
Comendo uma castanha quente
Com um cálice de aguardente
Qua aquece o coração da gente
E a fogueira vai ardendo lentamente
Outono…
Tempo de recolhimento
Tempo de contemplação
Tempo de oração
Princípio da velhice
Começo da rabugice
É o outono da vida
Tantas vezes reprimida
Depois de tanto trabalho e lida
Chega o outono da vida…

Zé da Villa

A pedido da Libânia... (ver comentário)

4 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Não sou grande apreciador de poesia, mas esta aflorou as minhas sensações mais antigas, as do meu torrão natal.

Nunca mais chega o frio!!!
O calor outonal já destruiu a safra de azeitona (com a gafa) e ameça agora os citrinos, pela sobrevivência da mosca até dezembro.
Venha frio a sério!!!

Anônimo disse...

Por baixo de uma bela fotografia (o medronheiro é um arbusto lindíssimo), o poema é como que o desfolhar de todas as emoções do Outono, incluindo, como refere o Zé da Villa, o Outono da vida. Que pena, ou talvez não, que só quando lá chegamos é que conseguimos entender a música do pisar das folhas caídas.
E, a propósito de outono, de vinho, de palavras, do frio e tantas recordações, lembrei-me do Patxi Andion e dos seus 20 Anos – Palavras. Já velhinha, mas sempre linda!

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Muito nostálgicos, estes vicentinos...
Talvez por estarmos (os participantes mais assíduos dos Enxidros)todos do meio dia para a tarde sejamos capazes de entender a música do pisar das folhas caídas e fazer poemas sentidos como o nosso Zé (do cimo) da Vila
FB

Anônimo disse...

Talvez o melhor do Zé da Villa. Também não posso passar sem deixar aqui uma nota a esta canção do Patxi Andión, o cantor galego que esteve novamente em Portugal ainda há poucas semanas atrás. Há uns tempos cheguei a tirar da Net esta letra. Acho que o autor foi muito feliz neste poema quando abordou o outono e o inverno da vida. Cito agora de cor, em português:
"Que gelada está esta casa!
Será por estar perto do rio?
Ou é porque entramos no inverno...
E estão...estão chegando os frios...?"
Muito bonito!
Abraços.
Zé Barroso