OUTONO
Folhas
caídas
Amarelecidas
Ventania
Chuva
miudinha
Geadas
Castanhas
assadas
Magustos
Jeropiga
Alqueivar
Semear
Tempo de
descansar
Tempo de
meditação
Tempo
contemplação
Tempo de
finados
Onde se
recordam antepassados
Decadência
Sonolência
Para na primavera
tudo voltar
A renascer,
medrar
A vida
ressuscitar
Reviver,
renovar
Reproduzir,
rebentar
Ressurgir e
acordar
Outono…
Árvores
despidas
Mágoas
carpidas
Lágrimas
fingidas
Campo
silencioso
Caçador
orgulhoso
Lareiras,
fogueiras
Adegas,
bebedeiras
Oliveiras,
Castanhas,
romãs, um santorinho…
Ponha aqui
no saquinho
Que Deus lhe
pague, obrigadinho
Pelo seu pai
que foi um santinho
Tiborna,
bacalhau, azeite e vinho
Outono, tua
ventura
Inspira
tanta pintura
No aconchego
do lar
Quero
contemplar
As noites frias
de luar
Preparando-se
para nevar
Que pura e
fria
É a neve que
caiu todo o dia
Aproxima-se
o Nascimento
Lá fora o
vento
Ruge
fortemente
Vejo um
velhinho a dar ao dente
E uma
criança sorridente
Vejo da
minha lareira quente
Um pardal
com seu piar dolente
Saltita na
neve e desconfiadamente
Pia, pia o
pardalito
Deve ter
frio o coitadito
E eu na
minha lareira
Meto mais
lenha na fogueira
Que vai
ardendo lentamente
Enquanto se
dá ao dente
Comendo uma
castanha quente
Com um
cálice de aguardente
Qua aquece o
coração da gente
E a fogueira
vai ardendo lentamente
Outono…
Tempo de
recolhimento
Tempo de
contemplação
Tempo de
oração
Princípio da
velhice
Começo da
rabugice
É o outono
da vida
Tantas vezes
reprimida
Depois de
tanto trabalho e lida
Chega o
outono da vida…
Zé da Villa
4 comentários:
Não sou grande apreciador de poesia, mas esta aflorou as minhas sensações mais antigas, as do meu torrão natal.
Nunca mais chega o frio!!!
O calor outonal já destruiu a safra de azeitona (com a gafa) e ameça agora os citrinos, pela sobrevivência da mosca até dezembro.
Venha frio a sério!!!
Por baixo de uma bela fotografia (o medronheiro é um arbusto lindíssimo), o poema é como que o desfolhar de todas as emoções do Outono, incluindo, como refere o Zé da Villa, o Outono da vida. Que pena, ou talvez não, que só quando lá chegamos é que conseguimos entender a música do pisar das folhas caídas.
E, a propósito de outono, de vinho, de palavras, do frio e tantas recordações, lembrei-me do Patxi Andion e dos seus 20 Anos – Palavras. Já velhinha, mas sempre linda!
M. L. Ferreira
Muito nostálgicos, estes vicentinos...
Talvez por estarmos (os participantes mais assíduos dos Enxidros)todos do meio dia para a tarde sejamos capazes de entender a música do pisar das folhas caídas e fazer poemas sentidos como o nosso Zé (do cimo) da Vila
FB
Talvez o melhor do Zé da Villa. Também não posso passar sem deixar aqui uma nota a esta canção do Patxi Andión, o cantor galego que esteve novamente em Portugal ainda há poucas semanas atrás. Há uns tempos cheguei a tirar da Net esta letra. Acho que o autor foi muito feliz neste poema quando abordou o outono e o inverno da vida. Cito agora de cor, em português:
"Que gelada está esta casa!
Será por estar perto do rio?
Ou é porque entramos no inverno...
E estão...estão chegando os frios...?"
Muito bonito!
Abraços.
Zé Barroso
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