terça-feira, 31 de março de 2015

Jejuns e abstinências



Quando eu era pequenito, já se contavam  graçolas sobre os padres e sobre a religião. Certamente sempre foi assim.
Mal cheirava a Semana Santa, começava-se a ouvir dizer que os padres comiam bons almoços e jantares e não respeitavam o período quaresmal, o qual acarreta várias obrigações. Ele era o bom cabrito assado, a boa vitela, tudo em abundância e bem regado.
No entanto, segundo a minha avó, havia um padre que era muito sovina. Até a própria criada, a Maria,  andava mal arranjada e com roupas muito velhas.
Numa Semana Santa, esse padre convidou vários colegas para o ajudarem nas cerimónias. Quando se reuniram pela primeira vez, repararam no desleixo em que andava a empregada e pensaram em fazer uma vaquinha por todos eles, para comprarem roupa nova à moça. O padre, que também era patrão, negou-se terminantemente a pagar a sua parte.
Vai daí,  os colegas agarraram nele e estenderam-no de barriga para baixo em cima da mesa, baixaram-lhe as calças e meteram-lhe uma vela acesa num sítio onde não chega a luz do sol.
No Domingo de Páscoa, à hora do almoço, aparece a Maria muito bem arranjada, com vestimenta nova, que dava gosto ver.
Começa então de lá um dos padres a cantar em cantochão:
Aí vem a Maria bem composta
À minha custa e à vossa.”
Responde de lá o patrão da Maria, também a cantar:
E eu que não tinha dinheiro
Fizeram-me do cu um candeeiro!!!”

E.H.

4 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Ernesto, também não havia necessidade…
Vê lá se não era muito mais lindo cantares esta cantiga:

Nossa Senhora chora, chora,
Que se ouve no adro,
De ver o seu filho morto
Na igreja amortalhado.

Nossa Senhora chora, chora
Que se ouve na rua,
De ver o seu filho morto
Deitado na sepultura.

Nossa Senhora está de luto
Nestas sete semanas,
Porque lhe morreu o seu filho
Nascido das suas entranhas.

Lá em cima no calvário
Está uma pedra lavrada
Onde vão os passarinhos
A cantar a alvorada.

Lá em cima no calvário
Está um craveiro na cruz
A água com que se rega
É o sangue de Jesus.

Nota: Diz a Ti Felicidade que estes versos eram cantados pelas mulheres, antigamente, enquanto sachavam o trigo, lá nos campos da Idanha.

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Há muito que penso que nunca como agora o clero levou tão a sério o que prega. Dantes, por vezes, a sua vida roçava o regabofe.
Membros de uma elite, os padres comportavam-se como tal, em todos os aspetos. E não digo isto em tom de censura, pois acho a disciplina eclesiástica algo desumana.
Numa Sexta-Feira Santa, o meu pai e o tio João Teodoro andavam a trabalhar na casa do Padre Tomás, à época o vigário da Vila. Trabalharam no dia santo e ainda viram as criadas a matar galinhas para o almoço dos padres que vieram a ajudar às cerimónias.
Contavam isto escandalizados, pois o jejum, sendo quase uma medida de saúde alimentar, era muito duro para os pobres do interior, sem nada para substituir a pouca carne de que dispunham.

Bonito poema, este da Ti Felicidade!

Ernesto Hipólito disse...

Caros amigos.
Como expliquei ao Zé Teodoro, este meu texto surgiu porque me lembrei da minha avó Carmo e das coisas que ela me contava nas nossas longas conversas. Foi um texto relâmpago.
Claro que não é o tipo de leitura para esta quadra pascal, mas, as orações lindas quem as sabe é a Libânia e ela não se descose!!!.
Por outro lado, o Zé, segundo me disse a mana Eulália e a mamã Luz foi a banhos para o Cartaxo e anda com pouco vagar!.
Dando a mão à palmatória lembrei-me agora dum pequeno azulejo pendurado na sala da nossa casa que dizia:
Muitas graças a Deus
Graças com Deus nenhumas.

Vamos andando.

E. H.

José Teodoro Prata disse...

Caro comentador:
Publiquei o comentário do Ernesto ao mesmo tempo que outro, mais longo, de que não se via o autor.
Após ordem de publicação dos dois, vim lê-los, mas só o do Ernesto entrou,não sei porquê.
Peço desculpa e agradeço novo envio, até porque focava aspetos diferentes e interessantes.