Quando eu era pequenito, já se contavam
graçolas sobre os padres e sobre a religião. Certamente sempre foi assim.
Mal cheirava a Semana Santa, começava-se a ouvir dizer
que os padres comiam bons almoços e jantares e não respeitavam o período quaresmal,
o qual acarreta várias obrigações. Ele era o bom cabrito assado, a boa vitela,
tudo em abundância e bem regado.
No entanto, segundo a minha avó, havia um padre que
era muito sovina. Até a própria criada, a Maria, andava mal arranjada e
com roupas muito velhas.
Numa Semana Santa, esse padre convidou vários colegas
para o ajudarem nas cerimónias. Quando se reuniram pela primeira vez, repararam
no desleixo em que andava a empregada e pensaram em fazer uma vaquinha por
todos eles, para comprarem roupa nova à moça. O padre, que também era patrão,
negou-se terminantemente a pagar a sua parte.
Vai daí, os colegas agarraram nele e
estenderam-no de barriga para baixo em cima da mesa, baixaram-lhe as calças e
meteram-lhe uma vela acesa num sítio onde não chega a luz do sol.
No Domingo de Páscoa, à hora do almoço, aparece a
Maria muito bem arranjada, com vestimenta nova, que dava gosto ver.
Começa então de lá um dos padres a cantar em
cantochão:
“Aí vem a Maria
bem composta
À minha
custa e à vossa.”
Responde de lá o patrão da Maria, também a cantar:
“E eu que não
tinha dinheiro
Fizeram-me
do cu um candeeiro!!!”
E.H.
4 comentários:
Amigo Ernesto, também não havia necessidade…
Vê lá se não era muito mais lindo cantares esta cantiga:
Nossa Senhora chora, chora,
Que se ouve no adro,
De ver o seu filho morto
Na igreja amortalhado.
Nossa Senhora chora, chora
Que se ouve na rua,
De ver o seu filho morto
Deitado na sepultura.
Nossa Senhora está de luto
Nestas sete semanas,
Porque lhe morreu o seu filho
Nascido das suas entranhas.
Lá em cima no calvário
Está uma pedra lavrada
Onde vão os passarinhos
A cantar a alvorada.
Lá em cima no calvário
Está um craveiro na cruz
A água com que se rega
É o sangue de Jesus.
Nota: Diz a Ti Felicidade que estes versos eram cantados pelas mulheres, antigamente, enquanto sachavam o trigo, lá nos campos da Idanha.
M. L. Ferreira
Há muito que penso que nunca como agora o clero levou tão a sério o que prega. Dantes, por vezes, a sua vida roçava o regabofe.
Membros de uma elite, os padres comportavam-se como tal, em todos os aspetos. E não digo isto em tom de censura, pois acho a disciplina eclesiástica algo desumana.
Numa Sexta-Feira Santa, o meu pai e o tio João Teodoro andavam a trabalhar na casa do Padre Tomás, à época o vigário da Vila. Trabalharam no dia santo e ainda viram as criadas a matar galinhas para o almoço dos padres que vieram a ajudar às cerimónias.
Contavam isto escandalizados, pois o jejum, sendo quase uma medida de saúde alimentar, era muito duro para os pobres do interior, sem nada para substituir a pouca carne de que dispunham.
Bonito poema, este da Ti Felicidade!
Caros amigos.
Como expliquei ao Zé Teodoro, este meu texto surgiu porque me lembrei da minha avó Carmo e das coisas que ela me contava nas nossas longas conversas. Foi um texto relâmpago.
Claro que não é o tipo de leitura para esta quadra pascal, mas, as orações lindas quem as sabe é a Libânia e ela não se descose!!!.
Por outro lado, o Zé, segundo me disse a mana Eulália e a mamã Luz foi a banhos para o Cartaxo e anda com pouco vagar!.
Dando a mão à palmatória lembrei-me agora dum pequeno azulejo pendurado na sala da nossa casa que dizia:
Muitas graças a Deus
Graças com Deus nenhumas.
Vamos andando.
E. H.
Caro comentador:
Publiquei o comentário do Ernesto ao mesmo tempo que outro, mais longo, de que não se via o autor.
Após ordem de publicação dos dois, vim lê-los, mas só o do Ernesto entrou,não sei porquê.
Peço desculpa e agradeço novo envio, até porque focava aspetos diferentes e interessantes.
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