No ano passado, foi editado o livro abaixo apresentado. Colaborei nele, a par de mais de vinte investigadores, muitos sem qualquer ligação à Póvoa de Rio de Moinhos. Aliás, em termos historiográficos, este projeto foi particularmente interessante: a coordenadora, Dr.ª Benedita Duque Vieira, reuniu uma vasta equipa e desafiou cada um a escrever sobre a Póvoa, segundo a sua área de interesse.
Por mim, com ligações familiares à Póvoa, pois o meu bisavô António Prata era dali natural, aproveitei materiais não utilizados no livro "O Concelho de São Vicente da Beira..." e procurei explicar a ligação histórica entre a Póvoa e São Vicente (exceto da época medieval, abordada por outros).
O resultado foi uma obra coletiva de mais de 500 páginas, já esgotada, pois a edição foi de apenas 250 exemplares. Segue-se uma parte de um dos textos que nela incluí.
A Igreja da Póvoa
A
Igreja da Póvoa nasceu da divisão da paróquia medieval de S. Vicente da Beira,
cuja área coincidia inicialmente com a do concelho. Desconhecemos a data em que
foi criada, mas sabemos seguramente ter sido no reinado de D. João II (1481-1495)
ou ainda antes.
Em
1709, o vigário de S. Vicente registou, por escrito, os usos e costumes da
Igreja Matriz de S. Vicente da Beira (IAN/TT, Registos Paroquiais, S. Vicente
da Beira, Óbitos, livro 1, fólios 4-9v). Escreveu que, segundo uns autos de
visita realizada à igreja de S. Vicente, em 1539, «Na Póvoa de Rio de Moinhos,
havia um capelão posto alternativamente pelo comendador e prior, com obrigação
de dizer missa aos domingos e festas e administrar os sacramentos.» O mesmo
documento informa que essa situação já vinha do tempo de D. João II.
O
comendador referido era o da comenda de Ordem de Avis, existente no concelho de
S. Vicente da Beira desde 1300 e com vastas propriedades na Póvoa. O prior era
o do mosteiro de S. Jorge de Coimbra. Os frutos devidos à Igreja eram
armazenados numa tulha e divididos em três partes: uma para o bispo da Guarda,
outra para o comendador de Avis e a terceira para o prior de S. Jorge. Com
estes bens, o comendador e o prior pagavam o cura da Póvoa e as despesas da Igreja.
Mais tarde, extinguiu-se o priorado de S. Jorge e dos seus bens fez-se uma nova
comenda, a da Ordem de Cristo, com a incumbência de satisfazer as obrigações
anteriormente confiadas ao prior.
Em
1758, nas “Memórias Paroquiais” (IAN/TT, Memórias Paroquiais, Póvoa de Rio de
Moinhos, volume 30, fólios 1875-1878), o cura Manuel Rodrigues Malha informou
que «O pároco é cura anual apresentado um ano pelo comendador e outro ano pelo
vigário de São Vicente da Beira. Tem de porção trinta e sete alqueires e meio
de centeio e quatro de trigo, quatro almudes de vinho, sete mil e quinhentos
réis em dinheiro e a cera necessária para todo o ano.» O comendador era o de
Avis e o vigário de S. Vicente, escolhido pela Ordem de Cristo, desempenhava a
função de nomear o cura, em representação desta ordem.
Em
1808, o terceiro das comendas, na vila da Póvoa, era António José da Cruz.
Recebia as contribuições devidas pela população à Igreja, ficando com a terça
parte do produto da cobrança, para pagamento do seu trabalho, e entregando o
restante aos comendadores de Avis e de Cristo. Os produtos eram depositados
numa tulha e no seu trabalho usava o meio alqueire, a quarta e o celamim, o que
permite concluir que as contribuições religiosas eram pagas sobretudo em
cereais.
Embora
a Póvoa de Rio de Moinhos se tivesse começado a autonomizar, em termos
administrativos, do primitivo concelho de São Vicente da Beira, logo nos
inícios da nacionalidade, a nível religioso a unidade manteve-se através do
vigariato (assim denominado por ser coordenado pelo vigário), uma circunscrição
religiosa atualmente equivalente ao arciprestado.
(…)
José Teodoro Prata
5 comentários:
Pena é que tenha sido uma edição tão reduzida. Se te passar algum exemplar debaixo da vista, compra-o para mim, sff.
JMT
Já vi o livro, mas não consegui ainda comprá-lo. Tenho esperança que façam uma nova edição, porque, para além de ser lindo, deve ser bastante interessante, a julgar pela qualidade de alguns dos colaboradores.
Mas já agora, também acho que alguma da motivação para escrever esta obra terá surgido a partir dos trabalhos do José Teodoro Prata e do José Miguel Teodoro. Eu mesma levei alguns livros deles para Lisboa, a pedido da Drª. Benedita.
Que pena que estes trabalhos não sejam mais divulgados, porque falam de coisas tão interessantes sobre as nossas raízes!
M. L. Ferreira
Como aqui dizia há uns dias, vão-se publicando neste blogue novos dados sobre a nossa história local e regional (ou deles se dá notícia noutras publicações). Acho muito interessantes porque nenhuma ideia tinha acerca de muitos deles. Para quem gosta das suas raízes, tudo isto agrada e surpreende.
Hipólito Raposo, foi um dos ideólogos do famigerado Integralismo Lusitano, mas tem que se respeitar porque sofreu prejuizos pessoais por causa disso. Ele escreveu bastante. Inclusivamente, sobre as gentes da Beira Baixa e, mesmo, sobre S. Vicente da Beira. Nunca fez um estudo concreto das instituições locais, através da documentação disponível. No livro 'Oferenda', há pouco mais que uma referência romântica à nossa e sua terra. Mas, enfim, teve o mérito de revelar o seu apego ao torrão natal! É de louvar, mas, do ponto de visa da História não chega. E, quiçá, talvez não fosse esse o seu objetivo.
Sendo assim, creio que nunca se fez uma abordagem tão séria e tão palpável, como tem sido feita pelo Zé Teodoro e pelo Zé Miguel Teodoro, ambos já com obra publicada.
Abraços.
ZB
J.M.T.
Hoje estive na Póvoa de Rio de Moinhos em serviço e encontrei-me com uma pessoa da Junta de Freguesia a quem perguntei pelo livro em questão.
Está esgotado e não pensam fazer uma segunda edição.Houve quem tivesse comprado vários. Pode ser que...
Margarida. Malápio é uma espécie de maçã mais oblonga com um cheiro e um sabor especial.O seu Tio Francisco e a sua Mãe Rita são as pessoas certas para lhe explicar. Se esperar uns meses vai poder provar.
E.H.
Ernesto:
É pena não reeditarem.
Na apresentação do livro, em Castelo Branco, tinha havido certa abertura, por parte da Câmara, para o fazer. É porque já decidiram!
Ainda não sabia.
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