sexta-feira, 24 de julho de 2015

Os Ceifadores



Ceifeiros da minha terra, foice em punho à torreira
Ceifavam por esses campos dilatados nosso pão
Partiam de São Vicente da Beira
E segavam, ceifavam, pelos começos do São João
Dormiam no restolho depois de um dia de canseira
O aguadeiro dava a beber água e eles de foice na mão
Ceifavam paveias e mais paveias; molhos e mais molhos
E o suor caia em bagadas pelo rosto e pelos olhos

Com os molhos na eira, ei-los de mangual na mão
Eram sete, oito, nove ou mais os malhadores
E batiam com jeito para a espiga deitar o grão
Desfeita a palha eis a semente loira ou de outras cores
Quinteiros juntamente com o patrão
Mediam; cinco para o lavrador, um para os malhadores.
Feita a malha, regressavam com seu quinhão
No moinho a semente era moída, da farinha se fazia o pão

Tempos difíceis, nunca se estragava nada, o pão era sagrado
Respeitado, quando caia um pedaço para o chão
Apanhava-se, e antes de se comer...era beijado

Zé da Villa

2 comentários:

Anônimo disse...

Era pão feito com suor e amor desde a sementeira até sair do forno. Era pão que alimentava. Já nada tem que ver com o pão de agora, feito de farinhas de grãos trangénicos , super refinadas , cheio de açúcar, sal e melhorante ( gluten super concentrado que faz com que o pão não tenha que levedar tantas horas ) . Se o pão de que fala o poema sustentava a vida, o de hoje mata. Há mais de um ano que só como pão esporadicamente, algumas das excepções que faço é o pão feito pela minha mãe , sem melhorante e sem açúcar e ainda feito com muito amor.

Maria Gramunha

José Teodoro Prata disse...

Era por esta altura, ou mais cedo, que os ceifadores partiam, para a Cova da Beira, Campo Albicastrense, Campina de Idanha e Alentejo.
Voltavam carregados de pão, para o ano inteiro.
O Museu Cargaleiro, em Castelo Branco, tem uma vasta exposição sobre a loiça ratinha, da coleção particular do artista Manuel Cargaleiro.
Era uma loiça de barro fabricada na zona de Coimbra e amplamente comercializada nesta nossa região.
E ratinha foi o nome que os alentejanos lhe puseram, por ter sido levada pelos nossos antepassados, que por lá a deixaram, trocada por outros bens, na hora do regresso.
E já agora, os alentejanos chamavam-lhes ratinhos, porque, curvados em longas filas sobre as searas, de lenço na cabeça e no pescoço, para ensopar o suor, e chapéu negro na cabeça, vistos ao longe pareciam ratinhos.