Sento-me em frente ao castanheiro e contemplo a dança das folhas amarelecidas
que vão caindo das ramagens, debaixo da árvore, um grande “carcomelo”, -parece
um guarda-chuva- seu pequeno tronco possui um anel, sinal que se pode consumir.
Subo o pinhal, com um pau remexo a
caruma aqui e ali a terra sobressai “escrapiada”. Com cuidado retiro-a, por
baixo encontra-se um míscaro. Não está sozinho, muito perto existem outros rodelos.
Ouço o latir de cães, de repente passa junto a mim um
coelho que estava a ser perseguido por três podengos, um trom e no alto de uma “pesserra”
surge um caçador com o cano da espingarda fumegando, um dos cães com o rabo a
abanar transporta na boca o coelho…
Os
campos da minha terra
São
de uma beleza inigualável
Ao
fundo o campo, ao cimo a serra
Onde
há muita água potável
Na
Oles travou-se uma guerra
Os
camponeses com sua rusticidade
Na
sua terra passam a mocidade
No
tempo das caçadas
Operários,
doutores e campestres
Pegam
suas espingardas
Alguns
são verdadeiros mestres
Calcorreiam
matos e lavradas
Os
cães farejam, latem, são umas pestes
Coimbra
busca, agarra, ele anda ai
Carriço…está
ao pé de ti
Arma
em riste, coronha ao ombro
Empisca
o olho em direcção à mira
Pum…
ouve-se um grande estrondo
Caçador
mais uma vez atira
Que
grande coelho, caiu redondo
Este
é para a minha avó Alzira
Caçador
palmilha, anda, mesmo maçado
Percorre
as ruas da vila todo inchado
O
diabo é quando a caçada corre mal
Surge
na vila disfarçado
Entra
logo pelo quintal
Deixa
lá homem; vens cansado
São
assim regra geral
Vem
comer este coelho guisado
Que
bom está o coelhinho
Bota
aqui mais um copinho
Matei
este coelhito ao amanhecer
Os
cães não queriam caçar
Andavam
cansados, não queriam correr
Bem
gritava; busca… agarra…mas tive azar
O
piloto encostou-se a mim a gemer
Vamos
para casa, para o nosso lar
Não
têm faro, o calor aperta
Os
coelhos estão encovados pela certa
Na
taberna já com um copito
O
caçador gabarola…
Só
mataste um reles coelhito
Mal
enchia a “caçola”
Eu
matei dez e falhei outros tantos, tenho dito
Tu
o que tens é gola
Não
acreditas! Pergunta à minha
Estão
dependurados na cozinha
É
feliz o caçador
Mesmo
espetando cada peta
Calcorreia
os campos com amor
Ao
ombro leva a escopeta
Com
frio, neve ou calor
Leva
o carriço, o tejo e a violeta
Botas
ferradas, arma em riste
O
caçador nunca está triste
Porque
o caçador Vicentino
É
vivaço e ladino
Zé da Villa
4 comentários:
No petisco, está bem, mas matarem os javalis que me partem as árvores, vai lá, vai!
Mas, pensando bem, é melhor assim...
Eles têm tantos direitos como eu.
Carcomelos, rodelos, empiscar… Para quando o dicionário do nosso falar?
Quanto à caça, salvo os javalis que, comilões, destroem tudo por onde passam, parece que é cada vez menos; mesmo assim, vale pelo passeio e convívio, pelo que ouço dizer. Por favor, mesmo que o Carriço, o Tejo ou a Violeta não levantem muitas lebres, no final da época não os abandonem. Eles são os vossos amigos mais fiéis, garanto!
M. L. Ferreira
São laranjas, diospiros e cogumelos…
Ó Terra mãe que frutos tão belos!!!
Como é que há, quem não te saiba apreciar
E em Centros Comerciais tanto goste de passear?
P'ró Zé da Villa, que me tira da gaiola do 10ºandar
e com os seus versos me leva a passear. Um abraço
FB
Tenho passado por aqui ultimamente e tem sido um prazer. Basta ler para saber quem escreveu. É interessante verificar que cada um tem um estilo próprio, que identifico.
Parabéns Zé da Vila.
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