terça-feira, 3 de maio de 2016

Esperança

DE ABRIL A MAIO

De abril, arrojado,
Nasceu maio,
Entre a noite e a madrugada,
Cresceu o trabalho, em liberdade,
Num povo até aí escravizado.
Manhã há muito desejada,
Promessa de confiança,
Futuro de dignidade,
Em fúlgida primavera,
Horizonte de esperança.

Tu foste, na minha jovem idade,
Ainda sem nódoa, sincera,  
Num país em sossego, silenciado,   
Quase meu sonho de criança.

Foste só parte, foste ensejo,
Não pudeste ser o todo,
Eu sei,
Pois, mesmo uma boa ideia,
Com uma enorme fé e um colossal desejo,
- Oh! Gente nossa! Oh! Ingenuidade! -
Como eu sempre imaginei,
Não pode ser totalidade.

E ainda que a revolta,
Se diga justa e traga desagravos,
É sempre, em parte, desilusão,
Mesmo se em vez de balas, disparar cravos,
Diretos ao meu coração.
Porque, perfeita, só a utopia, intocável e distante,
Que somente resiste por um motivo,
E apenas por um instante.

Pois, agora, firmemente ligados,
Porque o projeto é indivisível,
O anseio é uno, num momento,
Mas logo, num ápice, afastados,
Cada um por si,
P’lo seu pensamento,
Certeiro, hábil, expedito!
É essa ilusão que, no fim, nos dói,
Em todas estas revoluções!
E o que ontem era herói,
Amanhã será proscrito!


João Gabriel Saraiva

2 comentários:

Anônimo disse...

A esperança é a ânsia da sorte. A sorte é um vento favorável, a briza a favor dos desejos de cada um. Segundo este raciocínio simplista, esperança não traz vento favorável, portanto é um daqueles sentimentos humanos completamente irracionais. Não traz vento favorável, nem traz vento nenhum, é sim um processo evolutivo que desenvolvemos para que o momento compreendido entre o início duma preocupação (que nós indica naturalmente infelicidade) e o resultado, seja menos doloroso.
Esperança é a ânsia da felicidade, otimismo é confiança, esperança é a crença na felicidade. Esta é a chave que nos permite compreender que a ignorância leva á felicidade. Não é necessário ser-se feliz para ter felicidade, é necessário ter esperança.

Anônimo disse...

O João Gabriel é um criador de imagens, algumas particularmente
bonitas como esta:
"E ainda que a revolta,

Se diga justa e traga desagravos,

É sempre, em parte, desilusão,

Mesmo se em vez de balas, disparar cravos"...

Obrigado pela partilha.

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