DE ABRIL A MAIO
De abril, arrojado,
Nasceu maio,
Entre a noite e a madrugada,
Cresceu o trabalho, em liberdade,
Num povo até aí escravizado.
Manhã há muito desejada,
Promessa de confiança,
Futuro de dignidade,
Em fúlgida primavera,
Horizonte de esperança.
Tu foste, na minha jovem idade,
Ainda sem nódoa, sincera,
Num país em sossego, silenciado,
Quase meu sonho de criança.
Foste só parte, foste ensejo,
Não pudeste ser o todo,
Eu sei,
Pois, mesmo uma boa ideia,
Com uma enorme fé e um colossal desejo,
- Oh! Gente nossa! Oh! Ingenuidade! -
Como eu sempre imaginei,
Não pode ser totalidade.
E ainda que a revolta,
Se diga justa e traga desagravos,
É sempre, em parte, desilusão,
Mesmo se em vez de balas, disparar
cravos,
Diretos ao meu coração.
Porque, perfeita, só a utopia, intocável
e distante,
Que somente resiste por um motivo,
E apenas por um instante.
Pois, agora, firmemente ligados,
Porque o projeto é indivisível,
O anseio é uno, num momento,
Mas logo, num ápice, afastados,
Cada um por si,
P’lo seu pensamento,
Certeiro, hábil, expedito!
É essa ilusão que, no fim, nos dói,
Em todas estas revoluções!
E o que ontem era herói,
João
Gabriel Saraiva