A vida na agricultura era
muito diferente [nos anos 50 e 60] do que é agora.
Não havia tratores, nem
ouras máquinas agrícolas. Os fazendeiros tinham uma ou duas juntas de vacas,
que lavravam os terenos e transportavam as colheitas. Colocava-se uma canga em cima do pescoço de cada vaca,
composta por um tamoeiro e uma
correia de cabedal, com um bocado de corda que se atava ao cangalho e passava por baixo do pescoço da vaca. O cambão era engatado na canga. Estes
adereços serviam para atrelar o carro de vacas e a charrua de ferro, que havia do número um ao nove, conforme o
trabalho que era para ser feito. Antes de haver charruas, o trabalho da lavra
era feito com arados feitos de pau,
por um habilidoso ou por um carpinteiro.
Os carros mediam cerca de 3 metros de comprido por 1,20 de largura,
com um tiro ao meio onde era engatada
a canga. Toda a construção dos carros era em madeira, incluindo as rodas e o eixo. Faziam muito barulho quando o eixo começava a rodar e por
isso untava-se com gordura de porco ou sebo de cabra. O carro tinha em média
quatro buracos de cada lado, onde se enfiavam os afogueiros. Havia também uma peça de madeira, com aspeto de uma
forcalha, que se chamava zorra e
servia para as vacas transportarem pedras grandes.
Quando andava na lavoura, as
vacas traziam uma rede no focinho, chamada focinheira,
para não comerem o renovo. Estes animais também eram atrelados às noras, para
tirar água dos poços.
As vacas, quando andavam
muito em terra batida ou mais agreste, eram calçadas com canelos. Estes eram indispensáveis nas deslocações muito grandes.
Lembro-me de haver juntas de vacas que, com os seus carros, iam a Abrantes
levar neve e no regresso traziam sal e outras coisas.
As vacas eram cobertas e em
geral tinham crias uma vez por ano. Nos primeiros três meses, amamentavam os
bezerros e depois disso era aproveitado o leite para ser vendido para alimentação.
Uma
junta de vacas, a trabalhar, ganhava em média o ordenado de cinco homens. Um
dia inteiro de trabalho era chamado uma geira
e se fosse meio dia era meia-geira.
Os lavradores sem uma junta de vacas tinham outros animais que
ajudavam na lavoura. O mais comum era o burro, mas também a mula e o macho, que
faziam de tudo. Lavravam, transportavam cargas, faziam estrume e até aqueciam a
casa no inverno. Normalmente, eram guardados nas lojas por baixo das casas e,
como o isolamento era muito deficiente, o calor dos animais passava para a
parte de cima das casas. Dos muitos apetrechos que estes animais esavam,
destaco o cabresto, o bornal, a albarda, a canga, a carroça, as cangalhas, a tucinheira, etc.
As fêmeas faziam sempre criação e muitas das vezes até cruzavam
raças para terem animais mais resistentes. Era o caso do macho e da mula
que nasciam do cruzamento de uma égua com um burro. Para evitar o desgaste dos
cascos, todos eles eram ferrados com ferraduras, os sapatos, como lhes
chamávamos.
Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.
José Teodoro Prata
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