A remela sabem o que é: aquele resíduo pastoso que nos aparece no canto dos olhos, após uma noite de trabalho do nosso corpo, que limpa os olhos das impurezas e as expulsa para fora.
Mas fazer remela é outra coisa bem diferente.
Há dias, vinha eu de regresso a casa, pela raia algarvia, e senti vontade de ir a Alcoutim, apenas porque gosto de ter no mapa visual da minha mente o Portugal inteiro.
Não sei se Alcoutim vale o desvio, de certeza que sim, nem que seja só pelo Guadiana, mas voltei a ter vontade de ir até lá, sabendo, no fundo, que não calhava muito bem e por isso ainda não seria desta.
Mas sucessivamente me apareciam as placas a anunciar Alcoutim e então exclamei:
- É só para me fazerem remela!
Saiu à São Vicente, estando eu a tantos quilómetros...
Fazer remela é então fazer inveja, provocar o apetite de obter algo que à partida se sabe difícil de alcançar.
José Teodoro Prata
Um comentário:
Os neurocientistas devem ter uma explicação, mas para a maior parte de nós é difícil entendermos como é que às vezes temos que fazer um esforço tão grande para nos lembrarmos de certas coisas, e de repente nos vêm estas lembranças à cabeça que nos saiem quase sem queremos.
Há tempos ia no carro com o Luís e ele deixou-o ir abaixo. Talvez tenha sido da surpresa, mas saiu-me um “eh churra” tão espontâneo que até a mim me deixou de boca aberta. Há quanto tempo não ouvia esta expressão que, em crianças, utilizávamos quando queríamos fazer troça de alguém!
Devem ter razão os que defendem que a Língua tem muito a ver com os afetos…
M. L. Ferreira
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