No dia 11 de Novembro
de 1888, nascia na vila de São Vicente da Beira um menino, Tomás da Conceição
Ramalho. Filho de Antónia do Carmo Ramalho casada com o senhor João José
Ramalho.
Depois de passar a
sua meninice calcorreando as ruas da vila, ingressou nos seminários diocesanos.
No dia 21 de Janeiro de 1913, foi ordenado sacerdote na vila de Fornos de
Algodres. Celebra a primeira missa na sua vila natal, no dia 7 de Setembro do
mesmo ano
O padre Tomás
ingressou no seminário do Fundão, onde foi professor. Virgílio Ferreira recorda-o
no seu livro Manhã Submersa.
Prefeito no seminário
do Fundão, era um sacerdote muito activo. O realizador Lauro António adaptou a
obra do escritor Virgílio Ferreira para o cinema. O padre Tomaz, representado
pelo actor Canto e Castro, a certa altura aparece montado num cavalo dando
ordens, era um verdadeiro líder.
Foi dos principais
impulsionadores para que admitissem Joaquim Alves Brás no seminário. Certa vez,
a convite do seu colega António Alves Pacheco, irmão de Joaquim, foi passar uns
dias a Casegas. Joaquim Alves Brás teria os seus dezoito anos, dedicava-se à
agricultura ajudando a família, ao domingo todos assistiam à santa missa.
Um dia, ainda jovem,
andava no campo ajudando o pai, foi acometido de uma dor lancinante na perna
direita, nunca mais se recompôs, por esse motivo ficou coxo. Ele dizia ao irmão
que queria ser padre, mas este não aceitava.
O padre Tomás, conversando com o Joaquim, viu
que possuía qualidades, foi ter com o colega dizendo:
- Qual o motivo de o teu
irmão não poder ser padre!? Porque é coxo! Isso não é impedimento.
O padre Tomás
insistiu até que obteve a anuência do colega.
Monsenhor Alves Brás
foi o fundador das Casas de Santa Zita, cujo seu lema era “ajudar as criadas de
servir”. A organização está espalhada por todo o Portugal e estrangeiro.
O padre Tomás paroquiou
a sua paróquia Natal durante mais de quarenta anos. Nesses tempos os caminhos
eram autênticas picadas, percorria a freguesia de lés-a-lés montado na sua
égua, chovesse, nevasse, fizesse frio ou calor.
A missa do dia
raramente se iniciava a horas. Os fiéis, paciência de Job, aguentavam
estoicamente que chegasse o senhor vigário. Quando chegava à praça, entregava o
cavalo ao Zé Maiaca que o levava para
a loja.
João José Ramalho e Antónia do Carmo Ramalho
tiveram quinze filhos, sete faleceram prematuramente, quatro foram consagrados.
·
D.
João de Deus Ramalho, jesuíta.
·
Inácio
Ramalho, jesuíta.
·
Maria
de Jesus Ramalho, freira; estudou no colégio das irmãs Doroteias na cidade de
Tuy, Galiza; entrando para o noviciado no dia 8 de Janeiro de 1919; professora
de língua portuguesa, madre superiora no colégio da Imaculada Conceição, Viseu;
nasceu no dia 25 de Outubro do ano 1896 e faleceu no dia 12 de Agosto de 1988.
Pesquisa: O padre Joaquim Alves Brás; Uma vida Uma
obra, de Manuel Almeida Trindade
J.M.S
4 comentários:
Além das qualidades acima referidas, tinha uma figueira pingo de mel, na Tapada, de onde nunca comia um figo...
Parece que também era um grande latinista.
Dos defeitos, os maiores seriam às vezes não respeitar o segredo da confissão e ter vendido parte da nossa arte sacra.
Um homem com qualidades e defeitos, como todos nós.
Fez bem o José Manuel em não deixar passar o aniversário da sua morte. Sempre foram quatro décadas à frente da nossa paróquia!
O Pe. Tomás foi, para mim, uma das maiores referências, porque o apanhei na infância que é a idade das grandes marcas! Como dizem o JMS e o ZT, e bem, tinha qualidades e defeitos. De todo o modo, vou fazer uma confissão: pelo exemplo dele (latinista e gramático da Manhã Submersa) e de outras pessoas da época (era a realidade do tempo!), eu, que nunca fui ao seminário, acabei por me apaixonar pelas Humanísticas. Tanto assim que, tendo feito de início, uma parte dos meus estudos na área das Ciências e tendo estado na eminência de aí continuar, a determinada altura, mudei de agulhas e acabei mesmo nas Humanísticas. Isto percebe-se porque (já aqui o disse), a nossa vida era dominada pelo calendário litúrgico e não pelo calendário civil! Mudou a forma de governo da Monarquia para a República mas, com o Estado Novo, a cultura manteve-se, mormente no interior! E quase todos nós (que aqui escevemos), quer se queira, quer não, somos ainda um produto desse Portugal que morreu a 25 de Abril de 1974!
Abraços.
ZB
Será da natureza humana, mas a verdade é que temos mais facilidade em registar os aspetos negativos do que as qualidades das pessoas.
Estive há dias no Violeiro e, entre as várias histórias que ouvi, duas tinham a ver com o Padre Tomás.
Uma delas contou-ma uma mulher que disse que num final de dia de confissões ia para casa e, ao passar na Travessa dos Abraços (é uma rua que, dizem, deve o nome ao facto de ser muito estreita e as pessoas terem que dar o braço para poderem passar nela), viu o Padre Tomás e mais outro padre a contarem um ao outro o que tinham ouvido em confissão. Diz que ficou tão chocada com o que ouviu que, a partir daí, nunca mais se confessou.
A outra contou-ma o homem mais velho da terra: 95 anos e uma memória de fazer inveja. Era dia de festa e à noite armou-se o baile no largo da capela. Mal tinha começado, vem de lá o padre Tomás:
- Meus filhos, vamos a acabar com isto que os bailes são coisa do demónio. Ainda para mais aqui ao pé do Nosso Senhor!
O pessoal não teve mais nada: agarrou no acordeonista e foram todos a caminho da eira, já no termo da povoação. Mas mesmo assim o padre não ficou satisfeito e foi atrás deles. Só quando alguém lhe pegou por um braço e lhe disse que fosse para casa que, não tardava nada, apanhava com uma pedra na cabeça que nem sabia de que terra era, é que deixou a rapaziada em paz.
É bem verdade que os padres são homens iguais aos outros; o problema é que eles, ou a Igreja, não se consideram como tal e muitos se assumem como modelo de boas práticas. Se calhar é por isso que todos somos tão imperfeitos, porque é sabido que as pessoas aprendem mais pelos exemplos que pelas palavras…
M. L. Ferreira
Uma coisa linda, linda, que infelizmente caiu em desuso: ...que não tardava nada, apanhava com uma pedra na cabeça que nem sabia de que terra era...
Uma coisa sábia: o Pe. Tomas convidado para um casamento no Casal da Serra, depois da celebração vai à boda. Um malandros que conheciam a sua fraqueza pelo vinho tinto rubro conluiaram-se para lhe espetar uma valente bebedeira... sempre a apertar com ele: mais copinho Sr. Vigário, a que ele não dizia que não. Quando perceberam que já não se podia aguentar nas canelas, os velhacos...Ó Sr. Vigário levante-se lá que temos de ir à minha casa provar o meu. Ele - ainda é cedo, homem de Deus, estamos aqui tão bem. Fiquem mais um pouco. Ainda bem não - ó Sr. Vigário há aqui tanto barulho. Vamos a minha casa provar o presunto. Certo é que ele só se levantou horas e horas depois e quando teve consciência plena de lhe ter passado a borracheira.
De maneiras que é assim...
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