Um dia, o Pe. Jerónimo confidenciou-me
que tem uma enorme admiração pelos autarcas, de qualquer partido. Todos se
entregam à comunidade que os elegeu, sacrificando as suas vidas a troco de
nada, pois o subsídio que recebem muitas vezes nem dá para as despesas.
Estou de acordo com ele e
por isso ando há que tempos para tratar o tema de hoje.
A “feira medieval” que
marcou o fim do mandato da anterior equipa da Junta de Freguesia foi uma
excelente festa (não gosto de feiras medievais, mas adoro as reconstituições
históricas, tão ao gosto dos nórdicos), mas teve aspetos deploráveis. Houve
momentos em que o jovem casal que dramatizou a animação quase caiu em
desespero, tal era o alheamento de tanta gente, para não dizer recusa ostensiva
em colaborar. Acho que pouquíssimas pessoas se aperceberam disto, mas vim de lá
envergonhado e por isso enviei uma mensagem ao jovem casal a pedir desculpas.
Rei morto, rei posto. Ainda não havia rei posto,
mas o antigo rei pouco mais tempo
estaria no poder. Depois, não sei como se fez a transição do poder velho para o
novo, mas desconfio que sem grandes proximidades.
Já me esquecera daquele
episódio, mas infelizmente recordei-o neste janeiro, aquando da passagem do
testemunho na Misericórdia, entre a antiga mesa e a eleita. Não estive
presente, mas senti que os velhos não
apareceram, porque já não era nada com eles, e os novos não terão sentido a sua falta.
Sei que os processos
eleitorais têm a sua dinâmica própria, às vezes necessariamente injusta para
algumas pessoas. Mas penso que, à parte disso, devemos valorizar tanto os que
saem como os que entram e o momento da passagem do testemunho devia ser de grande
confraternização e partilhas.
É uma questão de civismo.
Vai sendo tempo de sermos uma comunidade madura!
Notas:
- Genericamente,
as outras terras não são melhores que nós, temos algumas próximas bem piores, mas
com os defeitos dos outros posso eu bem!
- Durante
séculos, até há poucas dezenas de anos, os nossos poderes estiveram sempre nas
mãos de uma pequena elite, marginalizando completamente a esmagadora maioria da
população, que aliás estava demasiado ocupada com a sobrevivência, com o pão de
cada dia. Por isso temos andado a aprender, é natural. Mas talvez seja chegado
o tempo de dar o passo seguinte!
- Querem um
exemplo de são convívio? No início do verão passado, um grupo de vicentinos
promoveu uma ação de protesto contra a não limpeza das valetas da nossa
estrada. Num domingo de manhã, juntaram-se e foram limpar eles as valetas. Quem
me contou, disse-me que era um grupo de pessoas que queria concorrer à Junta de
Freguesia contra a atual equipa. Estavam no seu direito e louvo a iniciativa.
Mais tarde,
soube que o José Duarte (Zé Pasteleiro) ofereceu o almoço a todos, na Senhora
da Orada. Embora possamos considerar este ato como um enorme furo político (ele
é membro da atual junta), tenho a certeza de que nele esta fraternidade foi
genuína.
José Teodoro Prata
2 comentários:
Também penso que o Padre Jerónimo tem alguma razão quanto ao voluntarismo de uma grande parte dos autarcas. Mas o mundo do poder, seja de que natureza for, é um lugar muito estranho, e por isso acontecem episódios como os que este artigo refere e que só vêm provar que a nossa democracia tem ainda muito por onde crescer; e nós todos, individualmente.
Quanto ao ato do Zé Pasteleiro, sem palavras… É Moreira e basta!
M. L. Ferreira
Eu percebo a alguma razão que dás ao Pe. Jerónimo. A questão é que não devemos ser tão exigentes com as pessoas e por isso ele tem TODA a razão.
É que temos de aceitar como naturais as ambições de quem se candidata aos cargos. Por outro lado, quando há irregularidades, ou se provam nas instâncias próprias ou se fica calado.
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