No
tempo dos meus Avós e Pais era tradição na véspera de São Martinho ir tocar
chocalhos à porta dos Senhores mais abastados da Vila, para que eles dessem um
copo do seu vinho novo.
Poucos
eram os que acediam ao toque dos chocalhos e aos pedidos dos Vicentinos mais
novos, que não tinham outras opções senão ir saciar a sede à Fonte Velha ou, se
tivessem alguns tostões no bolso, irem beber o copo de vinho a uma das tabernas
existentes na Vila.
Anos mais tarde…
Eu,
criança e jovem e os meus Pais, mantínhamos a tradição de ir tocar os
chocalhos.
À noite depois do jantar, íamos tocar o chocalho à porta dos familiares mais próximos.
Éramos recebidos com enorme alegria e convidados a entrar para provarmos o vinho novo acabadinho de sair do pipo, a doce jeropiga, as castanhas cozidas ou assadas, as passas de figo, o pão e os bolos caseiros, o queijo fresco e a chouriça assada na brasa.
À noite depois do jantar, íamos tocar o chocalho à porta dos familiares mais próximos.
Éramos recebidos com enorme alegria e convidados a entrar para provarmos o vinho novo acabadinho de sair do pipo, a doce jeropiga, as castanhas cozidas ou assadas, as passas de figo, o pão e os bolos caseiros, o queijo fresco e a chouriça assada na brasa.
O serão
era passado à lareira, contando histórias de outros tempos e “viveres” do
dia-a-dia.
Aos
poucos o sono ia chegando e era enorme o meu esforço para manter os olhos
abertos e regressar a casa pelo meu próprio pé.
Regressávamos
já noite alta, com o ar fresco da Gardunha a tocar-nos o rosto e a promessa: o
próximo serão familiar seria nas Janeiras.
E
voltávamos e visitávamo-nos, sempre.
Mas os anos passaram e a vida com as suas leis mais duras e os
seus percursos mais dolorosos fez com que partissem os familiares de tantos
momentos felizes.
Hoje é véspera de São Martinho e não sei se algum Vicentino mantém
a tradição de ir tocar os chocalhos.
Por
mim, estou em silêncio no meu cantinho e volto atrás no tempo…
Guardo em mim o som do toque do meu chocalho e no coração as
memórias e as saudades do tempo que não volta atrás.
Tempo
de criança, tempo de alegria, de convívio e de partilha.
Tempo…
Tempo que foi e é meu.
Tempo que foi e é meu.
Luzita
10/Novembro/2012
10/Novembro/2012
3 comentários:
Lindo! Poético! Nostálgico!
A nossa vida antigamente seguia as normas do calendário litúrgico. O civil era apenas para as coisas oficiais. Portanto, passava-se a vida a comemorar acontecimentos religiosos e eventos pagãos cristianizados. Mas era bonito!
Só que o tempo não perdoa e vai-nos levando os nossos ente-queridos e conterrâneos em geral, sem dó nem piedade! Hoje (é apenas um exemplo), o Reconquista noticiava a morte de uma filha do Sr. Manuel da Silva, que foi casada com o Coronel Guardado Moreira. Paz à alma de mais esta vicentina.
Abraços.
ZB
É assim, o tempo: passado, presente e futuro. E é a capacidade que temos de nos irmos equilibrando nestes vários tempos, que nos permite continuar a viver, apesar das saudades.
Lindo, como sempre! Pelas memórias, pela esperança e pela poesia.
M. L. Ferreira
Mais uma das nossas tradições que eu desconhecia.
Bonito ir pedir o vinho ao som dos chocalhos...
Postar um comentário