A
crença no além, nos nossos dias, já não tem aquela firmeza de outros tempos.
A
verdade de hoje na matéria de fé é manifestada de uma maneira contrária ao que
era antigamente. Mesmo os crentes, convictos da sua religiosidade, já não
acreditam verdadeiramente no sobrenatural. Lealdade, retidão, temor… são
atitudes que muitas pessoas não levam muito a peito.
A
crença nos ensinamentos, nos preceitos cristãos, aos poucos vai sendo
abandonada pelos descendentes dos que acreditam.
“Por
isso vos digo: Tudo quanto pedirdes, orando, crede que o recebereis e o obtereis…”
(Marcos-11/24)
“E
tudo quanto pedirdes com fé, na oração, recebê-lo-eis.” (Mateus-21/22)
A
fé para muitos é balofa, material, não é viva, é uma fé morta.
Continua
a existir fé, os conceitos são outros. Fé no jogo de futebol, na sua equipa que
vai ganhar o campeonato, fé na lotaria “um dia, quem sabe”… fé na melhoria
financeira.
Há
para aí seitas que vendem fé a rodos. Estás doente! A cura está à mão de semear.
Problemas financeiros? Resolvem-se já… paga o dízimo, o Senhor Jesus é
magnânimo.
Pessoas
certamente bem-intencionadas acreditam. Se têm pouco, com menos ficam.
A
fé tem que ser vivida através de boas obras, é esta a verdadeira fé, através da
partilha receberemos um dia em dobro.
“Dai
e dar-se-vos-á: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no
vosso regaço. A medida que empregardes com os outros será usada convosco.” (Lucas-6/38)
Os
católicos acreditam que a fé sem obras não é real; ao contrário, os cristãos
protestantes afirmam: “A fé é que salva.”
Uma
criatura pode ter fé e não ter crença alguma. Tem sentimentos, é reta na
maneira de proceder, sincera, franca, leal. É uma pessoa de bem.
Também
há criaturas que agem de má-fé, suas intenções são de maneira a prejudicar o
próximo, ao mesmo tempo praticam actos nada corretos, enganadores; as pessoas
de boa-fé crêem; aos maus intencionados, nada lhes pesa na consciência, fé
morta.
Ter
fé no real mesmo que nunca se tenha visto a coisa não é nada do outro mundo.
Sei que muralha da China existe, apesar
de nunca lá ter estado.
Certo
dia Jesus, depois de ter ressuscitado, apareceu aos apóstolos. Estavam
trancados, cheios de medo, apareceu no meio deles; faltava um, Tomé.
-
Vimos o Mestre.
-
Creio, se vir o sinal dos cravos nas Suas mãos.
Alguns
dias depois o Mestre voltou a aparecer, Tomé ficou estupefacto e acreditou
“Acreditas
porque me viste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditam.” (João-20/29)
Jardim do Paço, Castelo Branco
Não
basta estar na igreja participando nas cerimónias que se vão desenrolando; quantos
só estão presentes corporalmente…
Enquanto
vai prosseguindo a eucaristia, alguns fiéis, terço na mão, debitam pai-nossos e
ave-marias.
Onde
está a fé destes crentes!
Era
domingo, em Castelo Branco assisto à
missa das dez na igreja da Graça; hora da comunhão, muitos fiéis saem dos
seus lugares para irem receber a sagrada partícula; um telemóvel toca, uma
simpática idosa pega no aparelho: tá lá… Entretanto,
vai subindo a coxia e falando… recebe a hóstia e continua o diálogo.
Onde
está a fé?
J.M.S
5 comentários:
Penso que este texto dava matéria para uma boa discussão por parte de quem sabe destas coisas. Eu não percebo muito disto, mas concordo com o José Manuel quando diz que a fé tem de ser vivida através de boas obras, mas acho que depois, ao longo do texto, mistura fé com outro conceitos, nomeadamente crença, religião, moral, ética, educação, bom senso, etc. Por exemplo, o caso da “simpática idosa” que atende o telemóvel durante a missa, pode ter a ver com muita coisa e não ser uma questão de fé (e não será muito mais grave do que as pessoas que, compulsivamente, atendem ou fazem chamadas durante uma sessão cinema, ou durante as refeições).
E, embora compreenda que, pela nossa imperfeição humana, acreditemos que um dia seremos recompensados pelas nossas boas ações, seria melhor se conseguíssemos praticar o bem só porque acreditamos que é a melhor forma de vivermos e de nos relacionarmos com os outros (esta ideia do bem e do mal também dava pano para mangas). O problema é que muitas vezes não conseguimos, mas, como diz o outro, é a vida…
"A fé para muitos é balofa, material, não é viva, é uma fé morta." Isto ZM é o mesmo que dizer que não têm fé nenhuma. A fé em Jesus Cristo só pode ser uma fé na alegria pela esperança numa vida melhor e a vida melhor não tem que ser necessariamente no além, deve ser cá e para ser cá tem de ser construída por nós (cada um de nós)e aí é que um certo animal torce uma certa parte do corpo, porque a nossa natureza está programada para o "olho por olho e para o dente por dente". J.C. veio dar outra imagem do Pai apresentando-O como Deus de amor, de infinita misericórdia e de perdão. Apesar de a igreja ainda não se ter libertado da imagem de Deus punitivo e sacrificial, os cristãos devem refletir sobre os ensinamentos do Mestre e é aí que entra o dever de praticar o bem e do perdão, porque por sermos todos imperfeitos só isso nos pode dar uma vida com alguma dignidade e é preciso não esquecer que só a bondade exige uma atenção permanente, porque para maus já basta assim...ou não é?
FB
O protestantismo surgiu num contexto de grande corrupção e valorização materialista, por parte das chefias da Igreja. Basta dizer que o movimento se iniciou em protesto pela venda do perdão dos pecados, para angariar dinheiro a fim de construir a basílica de São Pedro em Roma.
Já séculos antes, muitos cristãos tinham tentado romper com essa hierarquia religiosa que consideravam alheia aos ensinamentos de Cristo. Foram os movimentos chamados heréticos, que tiveram uma versão mais moderada no franciscanismo.
Tanto católicos como protestantes valorizam igualmente a fé e as boas ações. Os protestantes, há 500 anos, puseram em relevo a fé, para negar que um pecador se salve só por praticar boas obras; aliás, Lutero dizia que se a pessoa tem fé em Deus, automaticamente pratica boas obras.
Sem perceber grande coisa de teologia, acho que católicos e protestantes pensam neste ponto de igual modo, apenas existindo uma diferença de linguagem, fruto da herança de há 500 anos, mas que deve ser lida à luz do que era o mundo de então.
A história do telemóvel deixou-me de boca aberta! É uma questão de civismo, de educação. A senhora em causa vê as pessoas valorizarem tanto o telemóvel que acha natural quase comungar enquanto fala por ele. Mas é um episódio extraordinário, um sinal dos tempos que vivemos.
Quanto à fé, cada um tem a sua. Cuidado em fazer juízos de valor sobre como cada um vive a fé! É que somos mesmo todos imperfeitos, como escreveu o Chico.
A propósito de fé, religião e várias outra coisas, sugiro uma entrevista do Frei Fernando Ventura à TSF. É só irem ao google e escreverem: Manhã TSF, 19 de abril de 2018. Aparece por volta do minuto 37. É uma entrevista muito curta, mas que dá que pensar.
Dá mesmo que pensar esta pequena entrevista, só um grande teólogo como o frade franciscano frei Fernando Ventura consegue "agarrar" a gente desta maneira
Todos nós podemos e devemos lutar para que a paz se construa cada dia um pouco mais
(...) Tarefa e desafio de todos e cada um... Ir para além da hipocrisia, da tolerância
Detesto a palavra tolerância, frisa frei Ventura
Uma dor de dentes, uma dor de cabeça, tolera-se
A minha liberdade termina quando começa a liberdade do outro. Se a minha liberdade termina na sua, então preciso de a matar para ser livre
Estripar a raiz dos conflitos, quando percebermos sermos mais livres quando o outro, os outros forem mais livres
Colocar o outro no seu espaço de dignidade e respeito...
É tempo de passar da religião à fé...
As religiões matam
Se os homens e as mulheres se calarem, gritarão as pedras. As pedras estão a gritar em tantos sítios; Síria...Gritam no mundo inteiro. Os homens e as mulheres de fé não se podem calar; assusta-me o silêncio dos bons...
Se não tivermos uma boa relação com os outros, não podemos ter uma relação com Deus.
Resumindo:- A paz só se conquista pelo respeito absoluto, pela liberdade, pela dignidade do outro
Frei Ventura; teólogo.
P.S:-Um único raio de sol é suficiente para as pessoas terem muitos sonhos
São Francisco de Assis
Libânia, bem haja por este lembrete, não sou um ouvinte assíduo da TSF, penitencio-me
A Antena 1 é a minha preferida; como só podemos sintonizar uma...
J.M.S
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