sábado, 4 de agosto de 2018

Lugares aonde se torna – com carinho


A menina dança? E o menino?

Tem os seus riscos passar por estes Enxidros. Não é novidade, todos o sabemos; sabem-no os amigos de Alex que aqui arcam com a despesa.
Reputações firmadas, inquestionavelmente boas, já eu vi, por esta via, pouco menos que arruinadas. Desde já, de quem escreve: o bom do Pachorra, Jesus numa clandestinidade de há anos, atazanado precisamente por tal veleidade; ou o Francisco, que andou para pastor de almas e a prazo conheceremos como pastor a sério, entrementes castigado por a piscina na serra ser apenas um tanque, por sinal bem pequeno; ou a Maria Libânia, de quem um dia se saberá por quantas expulsões do seminário foi responsável; ou o Hipólito, o Teodoro do Casal e a Gramunha, há um tempo mudos e sossegados; mesmo o Santos, o incensado poeta, a quem se teima em vilipendiar pelo tom profético da frequente invocação do Pai; e o Barroso e o … Estes, enfim, tenham lá paciência, pensassem antes, aguentem-se, não se metessem nisto. Mas há os outros, inocentes apenas nomeados nestas prosas, a propósito de um dito, de uma maneira de ser ou uma acção, maltratados por terceiros, desapropriados da sua intimidade, a vida devassada – baste como exemplo terem feito a vida negra (forma de dizer) ao Zé Miguel, de quem aqui se revelou uma secreta tatuagem.
Seja, é um risco, pois, a exposição nos Enxidros.
Isso explica (será?) que em terra de tão frescas águas, notabilidades várias e sumidades como poucas, o que se deseja é que a praça seja praticamente um clube privado, com vista do exterior (o Santos teria escrito, neste passo, «tantos chamados, tão poucos comprometidos!») Que se percebe, pois – o tal risco de não se poder beber um café sem ser importunado. Para vossências entenderem: num café, na Vila (continuamos com esta presunção, talvez morra connosco), em modo soprano, atira-me à queima-roupa a Maria, lá de trás do balcão: «Ouve lá» (provavelmente éramos conhecidos) «então tu é que és o Baldaque?» Assim. Um pecador fica estarrecido, não é verdade? Outra: o Zé Miguel (ele outra vez), desafiado, em plena praça, a mostrar o sítio secreto onde tem tatuada a imagem da antiga namorada. Ali naquele sítio, na nossa Praça? Já não há respeito pelo lugar, pelo dr. Raposo? Intimado daquela forma? Poupem-me!
E, no entanto, não há razões para se ficar inactivo, que o risco não é de morte de homem.
Hora de fechar isto, que não é mais que um convite à dança, um sinal subtil para que o leitor ou leitora levante o rabo da cadeira, se junte aos amigos de Alex e dê corpo à festa da partilha, pela escrita, indiferente às mães, tias e conhecidas (sentadas à volta da sala, dignas, serenas, sobretudo zeladoras) e nas tintas para pais, tios e conhecidos (ocupados na sueca, fiéis do Camilo Alves, da Central de Cervejas ou, agora, do Facebook).
À dança, pois, que se dá um queijo da Soalheira, comprado na Paula Rola, a quem aqui trouxer as razões da professora desesperada que descolou, puxando-a com elegância, a orelha direita do Luís. Um bocadinho.

Sebastião Baldaque

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Há muito que lhe sentíamos a falta (a ele e a vários outros dos amigos de Alex, como lhe chama), mas, nem de propósito, esta visita do Sebastião Baldaque à nossa Praça veio abrilhantar ainda mais as nossas Festas de Verão.
Que outros lhe sigam o exemplo e desafio e partilhem connosco as muitas histórias de que se fez a infância e juventude de todos nós. E o prémio não é de deitar fora…


Anônimo disse...

Ao Sebastião Baldaque apetece-lhe dança...pudera, com tanto arraial por esse imenso Portugal. Uma bela calhoada no chafariz da Praça. Espero que os salpicos frescos da água acorde os amigos de Alex, que parecem amuados quais ovelhas ao calor.
Ou será sonolência de velhos? Espero que não, que a idade não é assim tão avançada.
E te pergunto, aqui, Baldaque como é que acertas-te? é que o meu sonho dos últimos tempos é mesmo o de apascentar o gado.E já tenho na Gardunha umas cabrinhas à espera,Pese embora serem do meu cunhado. O regresso à natureza não me sai da cabeça. Cada vez se torna mais difícil sentir-me numa gaiola, mesmo que confortável.
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