Há dias fui oferecer os meus préstimos ao Carlos Semedo, programador cultural da Câmara, a propósito do nosso Festival primaveril.
Falei-lhe das minhas recordações de infância, de ver a Fonte Velha embelezada com vasos de flores e cabeleiras, na festa do São João, data em que nós realizamos este nosso Festival.
Depois tive dúvidas se seria no São João ou na festa da malta que ia à inspeção militar. Perguntei ao José Barroso que me disse ser a fonte embelezada apenas aquando da inspeção militar. Não lhe falei das cabeleiras!
Tenho recordações muito difusas de ver a Fonte Velha muito bonita, decorada com grandes cabeleiras e vasos de flores. E o meu inconsciente continua a teimar que foi numa festa de São João! Mas então seria a fonte da Praça, de São João de Brito, e não a Fonte Velha!
Terá sido numa data pontual, obra de pessoas virtuosas e engenhocas, como a Menina Isaura e outras?!
Quem me ajuda a aclarar estas recordações?
Mas recordo-me bem de replicar depois as cabeleiras, semeando trigo ou centeio em tigelas da resina que colocava no escuro do forro, junta das pinhas e das batatas. Ficavam parecidas com esta da imagem, embora tenha saído um pouco descabelada (as da fonte da minha infância eram tão perfeitas!).
Esta tradição tem que se lhe diga em termos de ciência, pois é a ausência de luz que dá às hastes do cereal semeado o tom amarelo claro, devido à ausência de clorofila. A ESE de Castelo Branco tem um projeto chamado "Os nossos avós eram cientistas". Penso que as cabeleiras nunca lá foram apresentadas!
José Teodoro Prata
3 comentários:
A mãe recorda-se que quando era nova, no dia da festa do Senhor Santo Cristo a Misericórdia era enfeitada com cabeleiras e com as flores cor de rosa (da Oriana) que florescem em setembro. Os festeiros semeavam trigo ou centeio nas semanas anteriores para que no dia da festa, as cabeleiras estivessem bonitas para enfeitarem os altares.
Recordo-me de ver a Fonte velha enfeitada pelos rapazes da inspeção com os vasos das plantas que tiravam das janelas e varandas mas penso que vi pela primeira vez as cabeleiras na fonte da Praça. No entanto, a mãe diz que havia sempre cabeleiras a enfeitar a Fonte Velha quando os rapazes iam à inspeção. No São João ia-se ao rosmaninho e acendiam-se as fogueiras.
Só tu para te lembrares das "cabeleiras".
Celeste
Também me lembro da Fonte Velha enfeitada com os craveiros, brincos de princesa e cabeleiras por altura da inspeção, mas também havia um dia em que a Fonte da Praça era enfeitada, provavelmente no São João. Os vasos com flores eram cultivados nas janelas e varandas das casas, pela raparigas solteiras (normalmente as namoradas dos rapazes que iam "tirar o número"), que rivalizavam para ver quem tinha as flores mais bonitas. Como as cabeleiras tinham que ser mantidas no escuro para ficarem amarelas, estavam escondidas nas lojas ou no forro das casas. Na noite anterior ao dia da inspeção, antes de abalarem para Castelo Branco, os rapazes, provavelmente com a cumplicidade de alguém da casa, iam "roubar" as cabeleiras e, quando iam por elas, as raparigas já só as viam a enfeitar a fonte.
Claro que tudo isto faria parte dum ritual que entretanto se foi perdendo (em parte por boas razões), e hoje já poucos jovens, rapazes e raparigas, sabem o que isto foi, mas devia ser registado por quem sabe, para memória futura.
Este dois comentários já me deram os esclarecimentos de que precisava:
1. O hábito usar cabeleiras como enfeite é antigo, sendo uma tradição que se repetia em diferentes situações.
2. Qual a sua origem? Terá sido alguma religiosa franciscana que nos deixou esse hábito? Forçosamente, elas marcaram a vida da nossa comunidade em diferentes áreas, para além da religiosa, já conhecida. Algumas eram instruídas e vinham de diferentes regiões e até países (houve uma inglesa), com vivências diferentes das que aqui encontravam
Por exemplo, a subtileza dos nossos bolos da Páscoa, feitos com o soro dos queijos em vez de água ou leite, será apenas uma das suas heranças.
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