terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Origens da Orada

Depois de ter lido o comentáriodo Zé Barroso à publicação "Em torno da Orada", voltei ao livro "A Alma Secreta de Portugal", que me foi oferecido há bastantes anos pela Dr.ª Adelaide Salvado, no qual colaborou. Tenho-o na mesa de cabeceira e de vez em quando leio uns pedaços. Abri ao acaso e calhou precisamente numa parte em que o autor reflete sobre as interrogações do Zé Barroso. Aqui vo-la deixo:



Relembro que, no final do século XVI, o visitador do bispo da Guarda, após visitar a paróquia de São Vicente da Beira, deixou escrito que proibia o pároco de acompanhar o povo nas novenas que fazia à Senhora da Orada (na linha das proibições referidas no texto).

Quanto à construção da nossa capela, tanto a lenda da oferta da imagem da Senhora, por Nuno Álvares Pereira, como  o lugar ser dedicado a Nosa Senhora e ainda a tipologia da capela alpendrada, remetem-nos para os séculos XV e XVI, época em que o autor do livro situa a construção de capelas nos lugares venerados pelo povo há centenas e até milhares de anos.

Será o nosso caso? Seja como for, com capela ou apenas um altar, penso que a Orada foi o centro religioso dos moçárabes da região, no tempo dos mouros (séculos VIII a XII).

José Teodoro Prata

2 comentários:

José Barroso disse...

Na génese das Oradas e das Aparições (normalmente, uma coisa anda associada à outra), encontramos a Natureza, sobretudo quando esta se manifesta de forma não compreensível ao senso comum. O divino aparece, muitas vezes, com o nosso espanto perante o inexplicável. Foi assim com o homem primitivo diante da trovoada. Mas quando o fenómeno estava mais que identificado, quando eu era pequeno, ainda nos diziam que a trovoada era "Nosso Senhor a ralhar", por causa dos pecados que cometíamos!
Por isso, há uma religião criada por via popular que os teólogos (que abordam mais o fenómeno por via erudita), olham sempre com desconfiança. O azar é que eles, por vezes, também se enganam! Haja em vista o que aconteceu com a "Teoria Geocentrista"! Em todo o caso, vêm deles as proibições ao culto referidas no texto. Por exemplo, a "Santa Maria Adelaide" (no norte do País), nunca foi reconhecida pela Igreja Católica porque, em certos casos, é possível explicar a incorruptibilidade do corpo humano, como se estuda em Medicina Legal. Também nunca reconheceu a chamada "Santa da Leira". E até se diz que uma vez o bispo diocesano (?), foi ao local (Ladeira do Pinheiro) e deu umas orelhadas na "Santa", dada a fraude que esta andava a publicitar. O que é certo é que a Igreja Ortodoxa associou-se ao caso e aceitou-o como manifestação divina.
A Igreja Católica continua, como sempre, a tentar estudar cada situação e, às vezes, dá o veredicto da aceitação, como aconteceu com Lourdes (séc. XIX(?) e Fátima (séc. XX). Mas, já atrás vimos que, ela própria, visto que é constituída por homens como os outros, também se engana. Por isso, perante os fenómenos, a atitude mais sensata é atender à Ciência e depois decidir. Por tudo isto, se tem restringido a noção de que o "Espírito Santo assiste ao Governo da Igreja", apenas nas questões estritamente teológicas e não já onde a Ciência ainda pode ter a palavra. Ficaram escaldados com a questão do "Geocentrismo"! A coisa, porém, não acaba aqui. Sobra ainda a questão de se saber quando é que a Ciência está, em definitivo, afastada de qualquer fenómeno!
E fico por aqui por que esta coisa da Fé e da Razão é complicada. Já agora para quem quiser ler sobre esta temática, o Papa João Paulo II publicou uma Encíclica que tem exatamente o título "A Fé e a Razão" e está editada em livro.

Abraços, hã!
José Barroso

M. L. Ferreira disse...

Penso que esta palestra/conversa em torno da Orada valeu por si, mas também muito por esta discussão que, para alguns de nós, trouxe informação importante sobre o aparecimento de tantas ermidas por todo o país (pelo menos no norte e no centro) e o culto à Nossa Senhora e a tantos santos e santas.
Para além de regular os cultos pagãs, a construção destes santuários não seria também uma forma de combate ao Protestantismo por parte da Igreja Católica?
Sobre os milagres, é verdade que a fé ajuda muito, mas a ciência tem quase sempre explicação para fenómenos que tendemos a achar sobrenaturais. Por exemplo, lavar uma ferida com água não é o tratamento mais básico para a cura?
Quanto à tua questão, Baldaque, não foi desta, mas não perdes pela demora…