José Domingos
José Domingos nasceu na Partida, a 18 de Março
de 1893. Era filho de António Domingos e Joaquina Freire.
Assentou praça no dia 9 de Julho de 1913, como
recrutado, pertencente ao contingente de 1913, a cargo do concelho de Castelo
Branco. Foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, no dia 13 de
janeiro de 1914. De acordo com a sua folha de matrícula, sabia ler, escrever e
contar, e tinha a profissão de jornaleiro.
Terminou a instrução da recruta em 4 de julho
de 1914, e regressou à sua terra. Foi novamente mobilizado em Agosto desse ano,
e destacado para a província de Angola, para onde embarcou em 11 de setembro,
integrando a 1ª Expedição enviada para aquela província ultramarina. Chegou a
Moçâmedes no dia 1 de Outubro de 1914.
De acordo com a sua caderneta militar, tomou
parte na ação do dia 18 de Dezembro de 1914 contra os alemães, fazendo parte
das tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertencia ao destacamento do Humbe,
onde entrou em 7 de julho de 1915. Fez parte do destacamento de reconquista e
ocupação do Cuamato, de 12 a 27 de Agosto, e participou no combata de Chana da
Mula, em 24 do mesmo mês, dia em que, com o mesmo destacamento do Cuamato, se
reuniu às forças do destacamento de conquista do Cuanham de Mongua. Fez também parte
do estacamento da Ngiva, de 4 de setembro de 1915. Regressou à Metrópole, no
dia 16 de Novembro de 1915, e desembarcou em Lisboa, a 4 de Dezembro.
Licenciado em 15 de Março de 1916, foi promovido a 1.º Cabo em 9 de Abril. Apresentou-se novamente em 27 de Abril e foi destacado para fazer parte das tropas da 3.ª Expedição enviada para Moçambique. Seguiu viagem no dia 24 de Junho de 1916 e desembarcou no porto de Palma, a 24 de julho. Terá participado nos combates levados a cabo para conquistar o território na margem norte do rio Rovuma, nos quais muitos militares perderam a vida. Felizmente não fez parte desse número e regressou à Metrópole, em 31 de Março de 1918.
Passou ao Batalhão n.º 1 da Guarda-Fiscal, como
soldado de Infantaria, em 25 de Outubro de 1918, e novamente ao Regimento de
Artilharia de Montanha em 25 de outubro de 1921. Licenciado em 28 de outubro,
fixou residência na freguesia dos Olivais, em Lisboa, onde terá feito formação
numa área relacionada com o seu percurso profissional futuro.
Em Janeiro de 1922, José Domingos regressou a
Moçambique e foi colocado na Companhia do Niassa, no norte de Moçambique (o seu
primo Albano Frade, que na altura se encontrava em Lourenço Marques, refere-se
a ele, em notas biográficas que deixou, dizendo que José Domingos tinha passado
por aquela cidade, em maio de 1922, a caminho do Niassa). Mais tarde exerceu o
cargo de Chefe de Posto, na região de Porto Amélia.
Passou à Companhia de Trem Hipomóvel, em 2 de
Setembro de 1930, e à reserva territorial, em 31 de Dezembro de 1934.
Condecorações:
·
Medalha
das Operações no Sul de Angola 1914-1915;
·
Medalha
da Vitória.
Família:
José Domingos voltou à Metrópole uns anos
depois e casou com Maria Ana Lourenço, natural dos Pereiros, no dia 21 de
Fevereiro de 1927. Era uma rapariga muito bonita, uns anos mais nova que o
noivo, e que gostava muito da sua terra. Terá sido por isso que, tendo
acompanhado o marido de regresso a Moçambique, e apesar da viagem de núpcias
que ele lhe proporcionou através do Canal do Suez, com escalas e passeios pelas
várias cidades por onde passaram, nomeadamente Veneza, nunca se adaptou à vida em
África, nem superou as saudades da terra. Regressou pouco tempo depois, já
grávida da primeira filha, que nasceu em dezembro de 1927.
José Domingos permaneceu em Moçambique por mais
alguns anos, nesta altura já como Chefe de Posto da Administração Civil, na
região de Porto Amélia. Apesar de alguma insistência por parte da esposa, para
que regressasse à terra, só voltou quando a filha estava quase a completar a
instrução primária e Maria Ana lhe terá dito que ia pô-la a aprender costura.
Foi esta notícia que fez com que José Domingos regressasse mais depressa,
porque não estava de acordo com a esposa quanto ao futuro da menina e queria
que ela prosseguisse os estudos. Tiveram depois mais uma filha.
As duas filhas de José Domingos e Maria Ana
foram:
1.
Aurora
de Jesus Domingos Lourenço que casou com Alexandre Domingos Lourenço, do Ninho
do Açor, e tiveram 3 filhos;
2. Emília da Conceição Domingos que casou com Manuel Canário e tiveram 2 filhos.
Embora não tivesse sido muito do agrado de José
Domingos, que pretendia mudar-se para uma localidade maior, o casal manteve a
residência nos Pereiros, onde construíram uma das maiores casas da terra e se
estabeleceram com uma mercearia e uma taberna. Adquiriram também bastantes
terrenos de cultivo (alguns já tinham sido comprados por Maria Ana com o
dinheiro que o marido lhe enviava de Moçambique) e tinham a sua própria junta
de bois com ganhão e um grande rebanho com pastor. Na terra há ainda quem se
lembre de o ver a visitar as propriedades montado no seu cavalo, coisa pouco
habitual naquela altura.
Talvez por ter estado em África, era um homem
de horizontes largos. Gostava de viajar e fez parte da comitiva que acompanhou
o Governador de Porto Amélia por vários países vizinhos de Moçambique. Também fez
questão que as filhas estudassem, e ambas concluíram o antigo Curso Geral do Liceu
(a mais nova formou-se em Assistente Social).
Passados muitos anos, o casal vendeu a casa e o
comércio nos Pereiros e mudou a residência para Castelo Branco onde viveu
alguns anos. Já no fim da vida, Maria Ana adoeceu e mudaram-se para o Ninho do
Açor, para junto da filha mais velha, e foi aí que faleceram os dois.
As netas lembram-se dele, sentado num banco no
quintal, a ler o jornal. Quando uma notícia lhe despertava mais a atenção,
chamava a filha e punha-se a ler em voz alta. Acontecia isto sempre que via
qualquer notícia sobre África, da qual guardou saudades para sempre.
Maria Ana Lourenço faleceu no dia 13 de abril de 1977. José Domingos teve uma vida mais longa: faleceu no dia 10 de outubro de 1979. Tinha 86 anos de idade. Está sepultado no cemitério do Ninho do Açor.
(Pesquisa feita com a colaboração das netas
Maria Cristina Lourenço e Maria Teresa Lourenço)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
Um comentário:
A história de cada um é sempre importante para o próprio. Pudera! Mas muitas vezes impressiona os outros. E esta é uma delas. Um homem nascido nos confins do esquecido mundo rural do séc. XIX, apesar disso, sabia ler, escrever e contar. E foi certamente essa qualificação que lhe mudou a vida.
Uma das passagens que mais nos admira nos dias de hoje é o facto de ele ter estado ausente em África cerca de 10 anos e terem aguentado o casamento. Sem dúvida uma bela história!
Abraços, hã!
JB
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