José Francisco Afonso
José Francisco Afonso nasceu
no Tripeiro, no dia 8 de março de 1985. Era filho de Francisco Afonso,
cultivador, e Maria Sebastiana.
De acordo com a sua
folha de matrícula, era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se
alistou em 13 de janeiro de 1916. Foi incorporado nesse mesmo dia no 2.º
Batalhão do Regimento de Infantaria 21 de Castelo Branco.
Após a conclusão da
recruta, foi mobilizado para fazer parte do CEP e embarcou para França, no dia
21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento
de Infantaria 21. Era o soldado número 540 e tinha a placa de identidade n.º 8957.
A sua folha de matrícula e boletim individual referem
o seguinte:
a) Baixa ao hospital no dia 29 de maio; alta em 19 de junho;
b) Marcha para o Quartel General de Base em 7 de fevereiro de 1919, a fim de
ali ficar á disposição do Tribunal de Guerra, porque na manhã de 23 de setembro
de 1918, juntamente com outros militares, encontrando-se em prevenção de marcha
para um novo acantonamento mais avançado em relação à frente inimiga, se
recusou a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando matar com
granadas de mão e atirar com a metralhadora a quem tal fizesse, e recusando-se
a obedecer às intimações que lhe foram feitas pelos superiores;
c) Condenado à pena de sete anos de presídio militar e mais na pena acessória
de igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de dez anos de
deportação militar (Ordem de Serviço n.º 105 de 8/4/1919).
d) Regressou a Portugal com a Secção de Adidos, no dia 9 de junho de 1919, e
passou ao presídio militar de Santarém, para cumprir a pena a que tinha sido
condenado.
Foi libertado por ter efeito da Lei nº 1198 de 2 de setembro, publicada em
Diário do Governo de 5 de setembro de 1921, que amnistiava os castigos de
guerra.
Licenciado em 11 de janeiro de 1922, passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva
territorial em 31 de dezembro de 1936.
Família:
José Francisco casou com Maria de Jesus da Conceição,
também natural do Tripeiro, no dia 9 de setembro de 1922. Tiveram três filhos:
1. Joaquina Antunes Afonso, que casou com José Venâncio e tiveram 5 filhos;
2. Francisco Afonso Martins, que casou com Olívia de Jesus e tiveram 2 filhos;
3. Elisa da Conceição, que casou com António Marques e tiveram 2 filhos.
Conta uma das netas que se lembra de ouvir o avô falar do tempo que tinha
passado na guerra, mas como era muito pequenina se recorda mal do que ele
dizia. Lembra-se apenas de uma vez se voltar para ela e lhe perguntar: «Olha lá, filha, sabes como é que chamam às
batatas lá na França? Chamam-lhe pão da terra!». Diz que nunca mais se
esqueceu.
José Francisco Afonso
trabalhou quase sempre na agricultura, mas também foi pastor e madeireiro. Teve
uma vida difícil, como quase toda a gente nessa altura, mas conseguiu que lhe
fosse atribuída a pensão a que tinha direito por ter participado na guerra, o
que o ajudou a viver um pouco melhor durante a velhice.
Faleceu no dia 29 de outubro de 1972. Tinha 77 anos de idade.
(Pesquisa feita com a colaboração do filho Francisco
Martins)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
Um comentário:
Vi há tempos o filme “A Oeste Nada de Novo” (versão renovada da Netflix), que conta a história da Grande Guerra vista pelo lado dos militares alemães, mas onde se percebe muito bem que as histórias de um e do outro lado se confundem: os mesmos horrores vividos nas trincheiras por vencedores e vencidos, e os traumas para o resto da vida dos que sobreviveram.
Lembrei-me várias vezes dos depoimentos que ouvi ou de coisas que li sobre esta guerra, principalmente dos que diziam que «as guerras são a pior coisa que há no mundo» ou que «as guerras são decretadas pelos políticos, mas é o povo que as sofre».
Então, como agora…
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