José Nunes
José Nunes nasceu em Ribeiro d´Eiras, no dia quatro de setembro de 1892. Era filho de António Nunes e Maria
Joaquina. Como era habitual naquele tempo, começou a trabalhar muito cedo, na
agricultura e como pastor.
Assentou praça em Castelo Branco,
no dia 9 de julho de 1914, e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de
Infantaria 21. Segundo a sua folha de matrícula, era analfabeto e jornaleiro.
Embarcou para França, no dia 18 de
janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de
Infantaria 21, como soldado com o n.º 723 e a chapa de identidade n.º 9125.
Desembarcou em Brest, no dia 4 de fevereiro.
Do seu boletim individual consta o
seguinte:
a)
Baixa ao Hospital n.º 26, em cinco de fevereiro; alta em 20;
b)
Colocado na 1.ª Companhia com o n.º 723, em 16 de novembro de
1917;
c)
Baixa ao Hospital de Base 1, em 14 de abril de 1918; alta em 20;
d)
Baixa ao Hospital de Base 2, em 30 de maio;
e)
Em sessão de junta médica realizada em 14 de junho, foi-lhe
concedida licença por 60 dias para convalescença; esta licença foi posteriormente
reduzida para 30 dias;
f)
Embarcou para Portugal a bordo do navio Helenus, no dia 17 de março
de 1919, e desembarcou em Lisboa a 20 do mesmo mês.
Passou à reserva territorial em dezembro
de 1935.
Condecorações: Medalha militar de
cobre comemorativa da participação de Portugal na Grande Guerra com a legenda: França-1917-1918.
Família:
José Nunes casou com Ana Maria no
dia 27 de abril de 1920 e ficaram a viver na Partida, de onde era natural a
esposa. Tiveram três filhos:
1.
João Nunes, que casou com Maria do Carmo e tiveram 1 filha;
2.
Maria de Jesus Nunes, que casou com Joaquim Martins e tiveram 4
filhos;
3.
Celestina Nunes, que casou com César Alves e tiveram 2 filhos.
«Quando o meu avô regressou à terra foi recebido como um herói; mas
vinha tão traumatizado que não conseguia falar de outra coisa que não fosse a
guerra. Todas as conversas iam dar ao mesmo: as muitas tropas do seu batalhão;
os muitos homens nas trincheiras; os muitos mortos que uma vez viu espalhados
pelo chão, uns sem pernas, outros sem braços, outros com a cabeça ou a barriga
abertas; os que morreram quando tiveram que atravessar um rio agarrados a umas
cordas, com a roupa atada ao corpo com umas correias e o pouco dinheiro que
tinham, dentro da boca. Referia-se sempre a eles utilizando a expressão «Mais
de mil homens!» um número que ele achava ser o maior para definir todas as
atrocidades que por lá viu e dificuldades por que passou. Por causa disto puseram-lhe
a alcunha de “Mil Homens” e toda a família ficou assim conhecida.
Quando andava na escola também me tratavam por “Mil Homens”. Eu
ficava muito envergonhada, porque não sabia a origem do nome e achava-o muito
feio. Atualmente, depois de conhecer a história que deu origem à alcunha da
família, tenho o maior orgulho nela e no meu avô.
(testemunho da neta Celestina Nunes)
A filha Celestina Nunes também se
lembra de ouvir o pai contar que, quando chegou a Portugal, por trazer uma
caderneta tão limpa, lhe quiseram dar emprego em Lisboa, mas ele não aceitou,
porque o que queria era voltar para perto da família, das suas cabras e das
suas hortas.
Toda a vida trabalhou na
agricultura, quase sempre como jornaleiro numa casa de gente abastada da
Partida. No verão raramente faltava a um quinto e no inverno fazia quase todas
as campanhas da azeitona. Mas do que ele gostava mais era da sua Metanhosa, uma
terra, quase brava, que ele transformou numa propriedade que era o seu orgulho
e onde cultivava de tudo para a casa. Também teve quase sempre um rebanho de
cabras, que era uma grande ajuda para o sustento da família.
José Nunes faleceu no dia 24 de maio de 1962. Tinha 69 anos de idade.
(Pesquisa feita com a colaboração
da filha Celestina Nunes e da neta Celestina Nunes)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
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