sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Silvestre 

José Silvestre nasceu na Paradanta, a 1 de outubro de 1893. Era filho de Silvestre dos Santos, carvoeiro, e de Anna Rita, natural do Vale d’Urso.

Como era habitual nas famílias mais pobres, começou a trabalhar desde muito cedo, primeiro no campo, como jornaleiro, e mais tarde como pedreiro.

Assentou praça a 9 de julho de 1913, no Regimento de Artilharia de Montanha, em Castelo Branco, e foi incorporado em 13 de janeiro de 1914. Ficou pronto da Instrução da Recruta em 4 de julho e passou ao quadro permanente em virtude de sorteio.

Mobilizado para a província de Angola, embarcou em 11 de setembro de 1914, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquele território ultramarino. Chegou ao porto de Moçâmedes em 1 de outubro.

Participou na ação do dia 18 de dezembro de 1914 contra os alemães, fazendo parte das tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertencia ao destacamento que reconquistou e ocupou o Cuamato, de 12 a 27 de agosto, tendo participado também na ação do Ancongo, em 13 de agosto de 1915, e no combate da Inhoca, em 15 do mesmo mês, dia em que o seu destacamento entrou no Forte de Cuamato.

Com o mesmo destacamento avançou em 20 de agosto sobre Cunhamano, a fim de restabelecerem as comunicações que haviam sido cortadas pelo inimigo. No dia 24 participou também no combate da Chana da Mula, dia em que, com o mesmo destacamento do Cuamato, se reuniu às forças do destacamento de conquista do Cuanhama. Fez parte do estacamento da N’giva, de 28 de Agosto a 18 de Setembro de 1915.

Regressou à Metrópole em 16 de novembro de 1915 e foi licenciado em 15 de março de 1916, regressando à Paradanta. Mas voltou a ser mobilizado passado pouco tempo, em 27 de abril. Contava que nessa altura andava a trabalhar longe de casa e, quando recebeu a carta para se apresentar novamente, teve que regressar a correr. Só teve tempo de meter qualquer coisa dentro duma bolsa e partiu a pé para Portalegre, onde ficava o quartel a que pertencia.

Embarcou para Moçambique, no dia 24 de junho de 1917, integrando o contingente de reforço à 3.ª Expedição que já se encontrava naquele território. Regressou à Metrópole a 21 de março de 1918, muito doente.

Passou ao 2.º Escalão do Exército e ao 7.º Grupo de Bateria, em 31 de dezembro de 1923, e ao depósito de licenciados do R. A., 4 em 1/7/1926.

Passou à reserva territorial em dezembro de 1941.

Condecorações:

·        Medalha Comemorativa das Operações no Sul de Angola 1914-1918;

·        Medalha Comemorativa das Operações em Moçambique 1914-1918. Recebeu também a Medalha da Vitória.

Família:

José Silvestre casou com Maria Rosa, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, no dia 6 de maio de 1924. Tiveram 10 filhos:

1. Silvestre Silva dos Santos, que casou com Maria da Piedade Lopes e       tiveram 2 filhas;

      2. Francisco Silva dos Santos, que casou com Carminda de Jesus António e tiveram 3 filhos;

3. José dos Santos, que casou com Maria de Jesus dos Santos e tiveram     3 filhos;

4.    Duas gémeas que morreram com 24 dias de idade;

5. Maia José Silvestre, que casou com José da Assunção António e    tiveram 2 filhos;

      6. João Silvestre Santos, que casou com Maria José dos Santos e     tiveram 2 filhos;

      7. Augusto Santos Silvestre, que casou com Maria da Conceição Martins e tiveram 3 filhos;

      8. Albertino Santos Silvestre, gémeo com o Augusto, faleceu com seis anos          de idade.

«O meu pai queixava-se muito do tempo que esteve em África, sobretudo da fome que por lá passou e do medo que tinha de já não voltar à terra para ver os pais. Mas do que ele nunca se esqueceu foi do desgosto de um dia ter visto um amigo morrer mesmo ao lado dele, e ter que seguir caminho e deixá-lo para trás. Dizia que era isto que faziam quando algum militar morria em combate ou era ferido com gravidade.

Também me lembro de o ouvir contar que, quando andavam pelo mato e se aproximavam de alguma aldeia, às vezes tinham que se esconder ou fingir que eram alemães porque se não eram atacados pelos nativos, que não gostavam muito dos portugueses.

Veio de lá muito doente, com uma doença que por lá arranjou, e passava muito tempo de cama, sem poder ganhar um tostão. Era a minha mãe que tinha que andar a trabalhar no campo, a ver se arranjava qualquer coisa com que matar a fome a tanto filho. Depois também já éramos nós que começámos a trabalhar e a ganhar qualquer coisa, mas, mesmo assim, vivemos sempre com muitas dificuldades porque, ainda por cima, o meu pai nunca conseguiu que lhe dessem uma pensão, apesar do mal que de lá trouxe da guerra, e que o atormentou até ao fim da vida.» (testemunho da filha Maria José)

José Silvestre faleceu no hospital do Fundão, em abril de 1977. Tinha 83 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração da filha Maria José Silvestre)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

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