O Casal da Fraga não é
um casal mas três: Casal do Baraçal, Casal da Fraga e Casal dos Ramos. Num
passado recente existia ainda o Casal do Monte do Surdo, que agora sobrevive
apenas nas cadernetas prediais, estando na linguagem comum incorporado no Casal
da Fraga.
Há cerca de 300 anos,
haveria apenas uma família de proprietários em cada casal (exceto no do Baraçal,
que não surge nas fontes). Todo o vale
onde corre o ribeiro que atravessa a estrada perto do entroncamento para os
Pereiros e Partida era propriedade do Conde de São Vicente, sendo a mais rica
das que tinha na freguesia. Os rendeiros viviam na casa, agora em ruínas, que
existe um pouco abaixo do referido entroncamento. O mais ilustre destes
rendeiros foi João Rodrigues Lourenço Caio, natural do Louriçal, que casara com
a filha do rendeiro anterior, José Leitão Paradanta. Chegou ao importante cargo
local de Capitão de Ordenanças da Vila, no tempo das Invasões Francesas
(1807-1812).
No Casal da Fraga, numa
casa que existiria na zona da atual residência do Comissário Barroso ou nas
proximidades, moraria Duarte da Fraga, cerca de 1700, e outros Fragas ali
continuaram a viver, ao longo de todo o século XVIII. Na casa em frente, que
foi do sr. Miguel Leitão e hoje é do filho Pe. José Augusto, existem as mais antigas
oliveiras de São Vicente. Fraga designa uma rocha ou uma forja de ferreiro.
Qual destas terá dado o nome ao casal? Ou nenhuma delas e Fraga vem do apelido
familiar desta família que ali viveu, com esse apelido, mais de um século?
Do Casal dos Ramos veio
a esposa de Manuel Rodrigues Fraga, chamada Luísa Maria Leitão (nascida cerca
de 1750), o que nos permite concluir que ali viveria pelo menos outra família.
Certo é que o casal foi crescendo, beneficiando do estrangulamento urbano provocado na Vila pelas casas senhoriais que detinham a maioria dos terrenos em redor da povoação: Casa Cunha, Visconde de Tinalhas e Casa Conde.
Em 1970, um ano após a
passagem do Presidente do Conselho pela Vila, a inaugurar a barragem e os
melhoramentos que a acompanharam (eletricidade e redes de água e esgotos), os habitantes do Casal decidiram que já era tempo
de acabar com um dos maiores perigos que haviam vivido durante séculos: a
travessia da ribeira pelas passadouras. Fizeram um peditório entre si e
contruíram um pontão sobre a ribeira, mais tarde alargado pela Junta de
Freguesia. Só o projeto custou 100 contos! E quando começaram as multas por
lavar roupa na ribeira, as mulheres do Casal foram com as da Vila numa
camioneta a Castelo Branco, falar com o Governador Civil e o Presidente da
Câmara. Não ganharam lavadouros, como as da Vila, mas não houve mais multas.
Anos depois, com a Vila
já eletrificada, tiveram de pagar do seu bolso a rede de postes e fios que
finalmente levou a eletricidade a suas casas. Até 1980, dos poderes talvez
apenas tenham recebido de graça a fonte que a junta edificara, em 1960, no que
ficou a ser chamado o Largo da Fonte. Até o pequeno pontão para o Casal do
Baraçal, sobre o ribeiro que desce do Monte do Surdo para a Ribeirinha, foi
construído pelo António Pereira.
Atualmente, o Casal da
Fraga tem arruamentos pavimentados, redes de água e esgotos, muitas casas novas
ou recuperadas, uma fábrica de engarrafamento de água, um restaurante, uma
taberna, uma associação que organiza a festa da Santa Bárbara, com sede própria,
e ganhou o estatuto de uma povoação autónoma e não apenas um sítio da Vila. Tem
pouca população jovem, como todo o interior, mas mantém o espírito bairrista e
ativo que sempre o caraterizou.
José Teodoro Prata
2 comentários:
Cá para mim, o Casal da Fraga deve mesmo o nome ao suposto primeiro morador (Duarte da Fraga, falecido em 1605). Esta minha convicção vem do facto de o Casal, andes de se chamar Casal da Fraga, se ter chamado Duarte da Fraga. Mas, certezas, deve ser difícil encontrá-las, dada a pouca informação.
Certezas, certezas, só mesmo sobre a raça do povo, que, sem grandes ajudas, conseguiu ir vencendo as dificuldades e mantendo, como diz o José Teodoro, o espírito bairrista e ativo de sempre. Para mim, sobretudo, o espírito solidário que faz com que, quando algum precisa, todos se prontificam a ajudar.
A data de falecimento de Duarte da Fraga não é 1605, mas 1695. Foi ao lado...
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