Todos nós somos de uma maneira ou outra, religiosos.
Mais não seja crermos na ciência humana. Os partidários do agnosticismo não
crêem naquilo que não vêm, o intangível. Apesar de aparentemente não
acreditarem na existência de um Ser criador de todas as coisas, crêem na
ciência. São Tomé só acreditou quando viu o Mestre.
Ao
contrário dos agnósticos, os ateus não seguem qualquer religião; para eles,
Deus não existe, em contrapartida, há os que acreditam numa divindade.
Católicos, muçulmanos, judeus, adoram um Deus único. “Latria”.
Há povos que aceitam vários deuses.
Os católicos muitas vezes “negoceiam” com a divindade
oferecendo contrapartidas pela graça recebida; podem ser velas, dinheiro, ex
votos…
Quem numa hora difícil nunca pronunciou a palavra
Deus? Valha-me Deus, Deus nos valha, Deus nos acuda…
A igreja da Misericórdia, dedicada ao Senhor Santo
Cristo, guarda umas largas dezenas de ex votos, formas de agradecimento por
graças alcançadas. Nela figuram dois belos quadros: um oferecido pelo visconde
de Tinalhas e o outro pela família Robles Monteiro.
A maioria representa órgãos do corpo humano feitos em
cera: braços, pernas, corações… Cada figuração representa a cura daquele órgão
figurado.
Também
se encontram figurações humanas completas, representam crianças que foram curadas
dos seus males. A criança manifesta a dor através do choro, mas não consegue
dizer qual o órgão afectado, então os progenitores oferecem à divindade uma
figura humana.
Seja na igreja do Senhor Santo Cristo ou no santuário
da Senhora da Orada, todos os objectos ex votos estão dependurados nos locais
mais nobres do templo.
Na igreja da Misericórdia existe um divisa militar
oferta de alguém que foi para a guerra e voltou são e salvo. Também se exibe um
grande cirio.
Esta fé em algo que nos transcende já acontecia nos
santuários da antiga Grécia. Os nossos reis, em alturas de aflição, agradeciam
a Deus, através da construção de grandes monumentos: Real Convento de Mafra, Mosteiro
da Batalha… No nosso tempo, ainda há muitos crentes que continuam a oferecer à
divindade da sua devoção peças votivas.
Em Santuários como Fátima, Aires, Senhora da Póvoa, existem
expostos em lugar apropriado peças de roupa, fotografias, ourivesaria e todo o
género de recordações.
Nos
grandes ou pequenos santuários, como da Senhora da Orada, em dias de romaria,
os crentes exibem velas acesas como agradecimento. Não se perpetuam no tempo. Enquanto
dura a cerimónia, a súplica, o pedido ou o agradecimento pela graça recebida, as
velas alumiam, é a forma de pagamento pela graça que a divindade concedeu.
Tudo isto está enraizado nos cultos de raiz popular.
O Homem, ser finito, pelas suas fragilidades e dores,
é limitado. Por isso tem necessidade de recorrer à acção benevolente dos
santos, eles são os mediadores entre Deus e o Homem. Estas situações acontecem
quase sempre quando a esperança na ciência se esgotou, voltando-se a pessoa
para o além, para conseguir o milagre, por intercessão do santo a que se
recorre.
A principal razão da existência dos ex votos é a
gratidão pela graça concedida, mas para isso o pedido tem que ser acompanhado
de muita fé. Porque a fé, nas obras se vê.